A sofrência masculina no cinema e fora dele

O ator Johnny Massaro fala à Trip sobre seu novo filme, machismo, remédios tarja preta e Tinder

por Nathalia Zaccaro em

No longa Todas as razões para esquecer, Johnny Massaro não quer mais transar, não tem paciência para os amigos, mente na terapia e só faz cagadas. Antônio, seu personagem, está deprimido depois do termino do namoro com Sofia, vivida na trama por Bianca Comparato. Mas ele não consegue aceitar o fato. Repete para si mesmo que o fim foi bem sucedido e que as coisas vão bem.

Johnny Araújo em cartaz de "Todas as razões para esquecer" e em frames extraídos do filme, que usamos para ilustrar a entrevista - Crédito: Divulgação

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A deprê pós-fim de namoro é muito conhecida de quase todo mundo, mas na maioria das vezes ela é representada no cinema ou na TV pela ótica feminina. Em uma concepção surreal e machista de mundo, sofrer por amor já foi considerado coisa de mulher. No filme, dirigido por Pedro Coutinho e que chega aos cinemas no próximo dia 1 de março, Massaro explora um pouco de sua masculinidade e como ela é compreendida e representada. 

Trocamos uma ideia  com o ator, que contou o que mudou desde que chorou as pitangas por amor no cinema. Se liga:

Trip. Você também sofre demais nos términos de namoro?
Johnny Massaro.
Cara, já passei por términos bem chatos, mas sempre foi muito importante. Durante é uma grande cagada, uma merda, você não entende como as coisas foram acontecer dessa forma. Você ama, ama, ama, ama e de repente não ama mais da forma que amava. Acaba sendo muito mais sobre as nossas questões do que sobre o outro. No término do relacionamento é difícil desvencilhar o que é seu e o que é do outro. Mas espero ficar melhor nisso.

O Antônio baixa o Tinder para tentar sair da fossa. Você já testou? Eu baixei por curiosidade, pra ver qual é, mas não fui adiante. Mas acho a ideia interessante. É que realmente não rolou.

Por que? Ser famoso atrapalha a paquera? Facilita e dificulta ao mesmo tempo. Algumas pessoas talvez tenham um interesse prévio por conta disso,“ah, esse cara é ator”. Às vezes você percebe que isso vem na frente de outras coisas. Você fica realmente com mais opções, mas, ao mesmo tempo, é menos interessante. Mas coisas bacanas podem surgir através disso.

O filme mexe um pouco com os estereótipos de feminino e masculino. Isso te fez pensar sobre sua relação com sua masculinidade? Eu tenho na verdade tentado tomar consciência sobre isso, sobre ser homem. Acho que é preciso falar de machismo também pelo ponto de vista masculino. Nós somos os agentes do machismo e também temos nossas prisões. É uma relação muita profunda que temos com o machismo.

O personagem demora a aceitar a própria tristeza. Você se sente cobrado para ser feliz o tempo inteiro? Eu sinto um descompasso. Existe uma exigência de ter que ser feliz sempre que é nitidamente impossível de ser cumprida. Talvez a gente tenha que repensar o que é felicidade, porque não dá pra ser feliz completamente convivendo com essa realidade ao nosso redor que castra e decepciona.

No filme, a terapia surge como opção. Já funcionou para você? Eu tentei algumas vezes fazer terapia, com umas três pessoas diferentes. Confesso que não sei porque não consegui continuar. Em um momento específico foi bastante útil, mas foi por pouco tempo. Eu admiro tantas pessoas que fazem terapia há 12, 13 anos. Aí eu penso “caralho, não é possível, deve ter alguma coisa errada!”. Então acho que em algum momento eu devo encontrar essa pessoa, porque é um relacionamento também. Estou aberto para um relacionamento com terapeuta. (risos)

E os remédios tarja preta? Eu nunca tomei. Na verdade, as vezes em que tomei peguei com amigos e amigas para fazer viagem de avião. Eu tomei e não lembro muito, dormi, acordei, dormi ,acordei. Eu sempre pergunto para quem está próximo: “ah, você toma tarja preta? Me empresta um aí que eu vou viajar”.  Mas para a vida nunca tomei.

Como foi para você encontrar o tom tragicômico do filme? Isso me parece muito natural, a tragédia que pode ser engraçada e a comédia que pode ser trágica. As coisas não são fechadas e isso me interessa. Acho engraçado porque eventualmente eu tenho tido esse feedback “nossa, morri de rir com você” e eu acho excelente, fico muito feliz porque não costumo perseguir a comédia, não é meu primeiro instinto, embora ela aconteça. Na novela, Deus salve o rei, é também assim, o personagem é bem tragicômico. Ele é vulnerável, um coitado que está ali, é empurrado para aquela situação de ser rei, é meio triste e meio engraçado.

Você vai estar simultaneamente no ar em uma novela de superprodução, cheia de recursos e publicidade, e em filme de baixo orçamento, mais alternativo. Como lida com essas duas realidades? Felizmente eu posso fazer as duas coisas, porque é triste quando atores só fazem o que não dá dinheiro e passam perrengues.  Então, que maravilha. Estou eternamente contente, porque isso me permite fazer filmes como esse, que não me possibilitaria sobreviver, mas que pode existir porque consigo ter outros trabalhos.

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