Trip Girl: Nicole Wolfensberger
Borboleteando entre música, umbanda, maternidade, moda e ayahuasca, a modelo e produtora musical Nicole Wolfensberger precisa de espaço, muito espaço
Se só as pessoas superficiais não julgam pelas aparências, como dizia Oscar Wilde, só pessoas pretensiosas não acreditam em horóscopo. Tomemos Nicole Wolfensberger, 29 anos, uma libriana em pleno retorno de Saturno. Uma bombshell cosplay de Jane Birkin em pleno processo de levitação – nem lá nem cá. Em 2 horas de papo, os termos mais repetidos em sua fala suave foram "imprevisível", "impulsiva", "inconstante" e "liberdade". "Libriano é um desequilibrado que vive buscando equilíbrio. Sou intensa demais, 8 ou 80."
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De fato, extremos a definem. De um lado, Nicole é filha da artista têxtil Marlene Wolfensberger e do grande Paulo Lepetit, baixista da Isca de Polícia, banda de Itamar Assumpção, lenda da MPopB underground. De outro, ela tem uma filha de 3 anos com Allison Lima, músico folk filho do popstar sertanejo Chitãozinho... "Eu mesma não curto tanto folk nem sertanejo, prefiro Radiohead e Tim Maia", ri Nicole, que cresceu em um meio musical. Teve aulas de violão com o guitarrista Tonho Penhasco – ela agora estuda violino – e debutou como produtora gerindo a vida profissional do pai, que também tocou com Naná Vasconcellos, Cássia Eller e Ney Matogrosso. "Ele é meu herói, nos damos superbem. Outro dia fiz um ensaio de lingerie e meu pai postou no Facebook: ‘É, parece que minha filha cresceu’", diverte-se.
Depois de viver cinco anos em Campinas com Allison – com quem organizou o Festival Folk –, Nicole acaba de se mudar com a filha, Anne, para São Paulo, em busca de trabalhos com moda e música. "Estamos casados no papel, mas separados. Digamos que seja uma relação aberta... em stand-by." Um formato em comum acordo? "Acredito em deixar o outro livre. Não gosto de ser cobrada. Tenho ciúme, sim, mas não preciso ver certas coisas. Sou tranquila, e ele também, muito solto. Não gosto de engessar. Foi o relacionamento mais longo que tive. Se a gente terminar ou voltar, vai ser numa boa." Nicole considera a monogamia uma hipocrisia, em que se coloca um mundo de regras, sem transparência nem cumplicidade, para permitir escapadas.
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Existe separação entre amor e sexo? "Sempre fui livre, tanto pra me comprometer com alguém quanto para me permitir olhar uma pessoa, ser atraída por ela, sair uma noite – e acabou. E acho que com ele também é assim. Não me importo de saber se ficou com uma pessoa. Se estou segura, não preciso ter ciúme. Amor tem sexo, mas no sexo não necessariamente tem amor." Viver junto morando separados, como no famoso casamento de Tim Burton com Helena Bonhan-Carter, pode ser a solução? "Se você mora com uma pessoa, uma hora o assunto vai ser quem traz o papel higiênico. É bom não saber tudo o que o outro faz. Gosto de deixar o amor solto – só que correndo atrás de mim. O verdadeiro amor sempre volta. Não adianta controlar: se alguém quiser te trair, vai sair com teu melhor amigo, debaixo do teu nariz."
O momento levitação tem tudo a ver com este ensaio, clicado nos campos abertos de São Francisco Xavier. "Sempre adorei ficar pelada em casa, então foi bem natural. Voltei a modelar agora; dez anos atrás eu era muito insegura, não conseguiria nem ver minhas fotos." Nicole se sente mais bonita depois da gravidez, mas mantém o corpão na base da ginástica funcional – desde que sem rotina. "Não conseguiria jamais trabalhar numa empresa, com horários." A única programação fixa da semana é frequentar o terreiro de umbanda. "Sou macumbeira assumida. Há oito anos conheci a religião quando morei em Nova York, na época em que modelava, e agora reencontrei essa mesma turma em Campinas – a linha do Caboclo Guaracy. De vez em quando incorporo, sim. E gosto de umbanda com atabaque. Vai ser meu próximo
instrumento, depois do violino", promete Nicole, cujas vivências espirituais recentes incluem flertes com o neoxamanismo. "Minha experiência com ayahuasca foi outro divisor de águas na vida. Mas não foi no Daime, não acredito naquelas regras rígidas", diz.
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Nicole está em pleno revival de si mesma. Este ensaio é uma fotografia meramente ilustrativa de seu espírito: não se pode captá-la a não ser em movimento. Afinal, para uma libriana em retorno de Saturno, até o ar entre as asas tem peso. "Minha mãe sempre me chamou de borboleta", conta ela, que tem uma pluma tatuada em um braço e asas de anjo em outro. "Não consigo pensar onde quero estar daqui a dez anos. Só sei que quero viajar muito com a Anne. Minhas ideias sempre mudam, coisas acontecem: saio pra fazer uma coisa, encontro um amigo na rua, vou pra uma festa, um bar, um sítio, encontro outras pessoas, volto pra casa dias depois... Mas volto. Sei que lidar com minha inconstância deve ser difícil. É que quando faço planos sai tudo errado! O futuro está em aberto. Vai saber o que eu vou fazer daqui a pouco!"
Créditos
Imagem principal: Erika de Faria