Registrando ondas
A cultura do surf inspira artistas e fotógrafos brasileiros há décadas – e esta mostra em São Paulo apresenta parte dessa longa jornada
Há cerca de 40 anos, Klaus Mitteldorf apontou a lente de uma Super 8 em direção a jovens que se amontoavam pelas areias de Ubatuba, Saquarema, Vitória e mais praias do litoral sudeste. Com a hoje nostálgica câmera em mãos, o fotógrafo capturou ondas, pranchas, roupas de banho da época, torneios e as calorosas confraternizações entre amigos surfistas. O registro desses momentos se converteu no filme Terral, primeira produção brasileira a retratar a cultura do surf em nosso país. "O surf, assim, é um mundo à parte", explica o documentarista de 62 anos à Trip.
Desde Terral, a tecnologia de suas lentes evoluiu, décadas se passaram, o Brasil gerou grandes campeões mundiais e Klaus se tornou uma referência do meio fotográfico nacional – seu trabalho foi parar nas capas de revistas, livros e galerias de arte pelo mundo. Ainda hoje, basta acessar a página do Facebook de Klaus para se deparar com imagens de praias e pessoas à beira do litoral – assim como registros feitos há 40 anos. O que, nessas águas, continua a atraí-lo esse tempo todo? “Essa é uma pergunta complexa”, pondera. “Mas, posso dizer que é um ambiente imprevisível em que você nunca sabe o que vai registrar. É isso que me chama a atenção”, conclui.
Com o pontapé de Klaus surgiram novos artistas brasileiros também dispostos a retratar esse tal “mundo à parte” que surge das ondas. Rafael Uzai, 31 anos, se inspirou nas obras de Burle Marx e Oscar Niemeyer para repassar a telas e muros as experiências que presenciou no mar desde os 12 anos, idade em que ele começou a dropar nas ondas do Rio de Janeiro, onde nasceu e vive até hoje. “Eu vejo essa filosofia do surf em tudo: no estilo de vida, nas roupas, nos equipamentos”, explica o artista. "É minha forma de se encontrar."
De 2 a 30 de junho, alguns desses clássicos e recentes talentos que delineiam a história do surf no Brasil terão seus trabalhos expostos na mostra Superfície líquida, na Fauna Galeria, em São Paulo. “A nossa intenção é criar uma linha cronológica sobre essa cultura de praia”, afirma Paula do Amaral, curadora da exposição. Com 48 anos de idade, Paula já trabalhou em diversas publicações relacionadas a surf, esporte do qual é fã desde seus idos anos de infância – e assídua espectadora de torneios de WSL até hoje.
“O surf foge deste cotidiano comercial onde a maioria das pessoas vive”
Klaus Mitteldorf
Sob a assinatura de Paula, o visitante pode conhecer os trabalhos fotográficos e nostálgicos de Klaus, a arte descontraída de Uzai e obras de nomes como Bruno Alves, fotógrafo e fundador da revista Fluir, e as produções feitas com látex, giz, lápis, guache e até café do carioca Peu Mello. "Esta exposição retrata a evolução do jeito de falar, das manobras e dos equipamentos que surgem do surf”, explica a curadora da mostra.
Além das obras, Superfície líquida conta com workshops e palestras com fotógrafos e artistas da mostra, assim como outros nomes do surf (a lista completa, com nomes dos palestrantes e horários, será divulgada em breve).
Vai Lá: Supefície líquida
Quanto? Entrada livre e gratuita
Onde? Rua Tangará, 132 - Vila Mariana (São Paulo, SP)
Quando? 2 de junho a 30 de junho. Segunda a sexta-feira, das 10h às 19h, e sábados com horário marcado (é só mandar e-mail para fauna@faunagaleria.com.br)
Créditos
Klaus Mitteldorf