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Ex-policial e proprietário de uma padaria no litoral de São Paulo, Joseph Maghrabi cultiva o curioso hábito de recriar com fidelidade as fotos do filho, o premiado e sarcástico chef André Mifano
“Trip é aquela revista que ele foi capa e tirei sarro dele?”, pergunta Joseph Maghrabi, pai de André Mifano, o chef que ficou famoso por sua versatilidade com os cortes menos nobres do porco – ele tem dois deles tatuados, além do carimbo de controle de qualidade da carne suína – e virou um irritado jurado de reality show gastronômico.
Joseph recria com fidelidade as fotos que o filho posta no Instagram (incluindo uma capa da Trip). “Me deu cinco minutos”, diz, sobre a primeira de suas réplicas. Para imitar as incontáveis tatuagens do filho, veste mangas desenhadas, aquelas normalmente usadas por motoqueiros para se proteger do sol, e vem cultivando a barba mais alongada, como a de André, 40. As imitações do pai fizeram sucesso no Instagram do filho. “As pessoas começaram a pirar”, conta o chef. “Meu pai é um ex-policial, não é exatamente uma pessoa bem-humorada.”
Foram 35 anos como investigador da polícia civil e Joseph foi até manchete de jornal, depois de resolver dois casos numa noite só. “Fiquei conhecido como Serpico brasileiro”, lembra. O apelido é uma referência ao suspense de 1973, em que Al Pacino interpreta o policial nova-iorquino que dá nome ao filme. Aposentado da carreira de detetive, há 16 anos ele comanda uma padaria em Caraguatatuba (litoral norte de São Paulo). “Ele já me ligou perguntando minha receita de pernil para fazer na padaria. Mas, depois que eu explico, diz: ‘Não, não, você não sabe fazer’. Ele pode até cozinhar do meu jeito, mas não vai me contar”, diz André.
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Na época em que comandava o Vito, em São Paulo, as pessoas perguntavam para ele de onde vinha essa ligação com a carne suína. “Não sabia responder, mas tinha uma lembrança muito carinhosa de comer costelinha de porco com a mão com meu pai, no Rodeio [famosa churrascaria paulistana].”
Anos depois, André começou na cozinha pela pia, lavando prato e por acaso, depois que avisou a mãe que não iria mais estudar. Ela arrumou um emprego para o filho no Mellão, Cucina d’Autore, em São Paulo, do amigo e chef Hamilton Mello Junior. O fato é que o garoto tomou gosto pela coisa: “Aconteceu de eu virar cozinheiro”. Depois do Vito, onde seu nome começou a despontar, abriu em 2017, em São Paulo, o Lilu, pelo qual foi eleito o chef do ano, pela Folha de S.Paulo – o pai nunca visitou o primeiro e só conheceu o segundo no dia em que foi feita a foto ao lado, clicada a poucos metros dali. Em abril, André voltou ao ar como jurado da quarta temporada de The Taste Brasil – o que acaba incrementando o movimento do restaurante – e estreia em agosto como apresentador em outro reality show gastronômico, o Sabor em jogo (ambos exibidos pelo GNT).
Apesar da fama pelo porco, ele adora pescar. Em sua casa no Guarujá (litoral sul de São Paulo), tem uma lancha Cabrasmar de 43 pés com casco de madeira, “única no mundo”, garante, herança da família de sua mulher. Mas ele prefere sair para pescar em seu caiaque. Quando pega um peixe, devolve para o mar. “Não vou matar, é pela pesca. O negócio é a briga. Se o peixe fica se debatendo, dou linha para ele”, conta. “Pescar é muito mais para me conectar com o mar e ter esse momento para estar sozinho.” Os dois porcos tatuados acabaram ganhando a companhia de um esqueleto de robalo.
Créditos
Imagem principal: Pablo Saborido