“Descobri um outro eu a 20 metros de profundidade"

Carlos Diezel abandonou o mundo corporativo e mergulhou de cabeça no freediving. Agora, se prepara para disputar o mundial em setembro, na França

por Carol Ito em

“Descobri um outro eu a 20 metros de profundidade. Foi uma experiência que mudou minha vida”, conta Carlos Diezel, 39 anos, sobre o primeiro contato com o freediving ou mergulho livre (prática em que não é usado cilindro de oxigênio e se mergulha em apneia), em 2011, durante uma viagem a Bali. Há um ano ele fez as malas e abandonou a carreira de 14 anos em uma multinacional para se dedicar somente ao esporte e se prepara para disputar o campeonato mundial. Mas esse mergulho não foi fácil.

Mergulho no Canyon Dive Site, em Dahab, no Egito - Crédito: Livio Fakeye

O mineiro era responsável pela área comercial de uma multinacional alemã e conta que convivia com uma rotina intensa. O freediving ficava de lado por conta dos compromissos: “Eu conseguia praticar uma ou duas vezes por ano e me via cada vez mais longe daquela experiência tão especial. Não dava para conciliar com a vida corporativa”, relembra. Um acidente de bicicleta, em 2017, foi o gatilho para que desistisse da carreira. “Tive fraturas múltiplas e passei por uma cirurgia, o que me fez notar que minha vida teria um fim, por mais óbvio que isso seja. Ficou claro que aquele já não era meu caminho”, conta.

Dahab, conhecida como "a Meca do mergulho livre", foi o destino escolhido pelo brasileiro Carlos Diezel - Crédito: Livio Fakeye

Ele juntou algumas economias e, em julho de 2018, embarcou com a esposa e os dois filhos para Dahab, no Egito. A cidade é conhecida como “a Meca do mergulho livre” por conta das águas quentes e claras do Mar Vermelho, que são ideais para a prática, além de uma vida marinha interessante, com corais, peixes, tartarugas e tubarões. Próximo a Dahab fica o “Blue Hole”, um pico onde recordistas mundiais de freediving costumam treinar: “É um buraco dentro do mar, livre de ondas e correntezas. São 93 metros de profundidade em linha reta”, explica Carlos.

Mergulho acompanhado da treinadora a aproximadamente 40 metros de profundidade - Crédito: Livio Fakeye

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Longe do mundo corporativo, Carlos trabalha como instrutor de freediving e se prepara para disputar o campeonato mundial de que vai rolar em setembro, na França, treinando em até 56 metros de profundidade. “Se eu disser que foi fácil estarei mentindo”, faz questão de alertar. "Cerca de duas semanas após minha chegada, cometi um erro básico em um mergulho e perfurei o tímpano do ouvido direito, o que me tirou da água por três meses." De volta aos treinos, obteve sua certificação como instrutor e começou a fazer visitas guiadas com filmagem e fotografia nos melhores picos de mergulho para levantar uma grana. “Mesmo com percalços, o caminho está acontecendo e espero conseguir participar do mundial.”

Canyon Dive Site, em Dahab - Crédito: Livio Fakeye

Além dos mergulhos em diferentes profundidades, o treino de freediving envolve praticar apneia com metade da capacidade pulmonar e meditação. Sem a supervisão e treinamento adequados, o esporte oferece riscos à saúde: “A primeira regra é nunca mergulhar sozinho. Pode haver sangramento pulmonar, problemas nos tímpanos e a chamada doença da descompressão, que forma bolhas de nitrogênio no sangue e pode levar à morte”, explica. O segredo para suportar a pressão esmagadora a muitos metros de profundidade está no controle da mente. “Você precisa relaxar, entrar num estado de meditação. É limpar a mente e ir fundo.”

Crédito: Carlos Diezel
Crédito: Carlos Diezel
Crédito: Carlos Diezel

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Imagem principal: Livio Fakeye

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