Liberdade ainda que tardia
Desde os anos 70, algumas cariocas tentam, em vão, se livrar da parte de cima do biquíni e aprovar o topless
Todo ano os verões cariocas são marcados pela mesma polêmica: o topless. A prática ainda tem pouco apoio da sociedade que lançou a moda do fio dental, mas continua achando imprescindível a parte superior do biquíni. “O problema não está na lei, mas nas pessoas”, diz Ana Paula Nogueira, 36, idealizadora do Toplessinrio, campanha que defende a liberdade do corpo feminino e convoca mulheres, desde 2013, para um “toplessaço” na praia de Ipanema – o último deles em janeiro. “Até meus amigos mais liberais, que dizem que dão a maior força, não conseguem conversar me olhando no olho, ficam olhando para baixo.” Ana Paula vai lançar um livro, junto com o jornalista Caio Barbosa, com depoimentos de quem fez e viu o topless nas areias da Cidade Maravilhosa. “Histórias do Rio contadas sem a parte de cima do biquíni quer resgatar a praia como um símbolo de liberdade e integração, de refúgio”, diz.
Quem fez o primeiro registro de uma mulher de topless em Ipanema foi o fotógrafo Frederico Mendes, 69, que fazia um ensaio de verão para a revista Pais & Filhos em 1972. “Vi uma menina linda, com flores na cabeça, que passava para lá e para cá sem a parte de cima do biquíni”, lembra. “Quando cheguei bem perto para fotografar, a praia virou a maior bagunça e logo ela teve que colocar a blusa. Foi então que fiz a foto.”
Para Ana Paula, a prática já tem hoje mais aceitação do que há três anos, quando começou o Toplessinrio. “Saímos das páginas policiais para as de sociedade, que estão discutindo o tema”, diz. “Talvez não vire lei, mas vamos acabar criando essa cultura. Sou otimista.” Este ano, gritos de liberdade – e seios livres – já apareceram nos blocos de carnaval do Rio de Janeiro e também de São Paulo.