As Crianças nos ensinam delicadeza

por Luiz Alberto Mendes em

Nosso Professores

Quando afirmo que as crianças são nosso professores algumas pessoas torcem o nariz. “Lá vem o Luiz com seu romantismo...” E só me ouvem porque se iniciei, vou falar mesmo. Não tem perdão. Identifico-me como escritor mesmo por isso: tenho necessidade de falar, esmiuçar e saber tudo. Como ninguém tem tempo ou paciência para me escutar, escrevo. É triste de admitir, mas ler o que escrevo é mais legal do que me escutar. Eu mesmo sinto isso.

É óbvio que não seria pelas “aulas” que as crianças possam nos dar que enuncio que elas são nossos professores. Se bem que os meus me saem com cada uma, às vezes... Fico esnucado no canto da mesa. Disfarço, faço cara de pensador e peço para refletir a respeito. Isso quando não jogo as cartas na mesa e digo que não sei, fazendo cara de espanto.

Mas o ensinamento ao qual me refiro não parte delas. Elas são o alvo. Ensinam, principalmente, que a vida carece de cuidados e delicadeza para se desenvolver. Ficamos delicados. Estendemos a sensibilidade para a ponta dos dedos, da voz, do olfato, dos ouvidos e outros sentidos que nem sabemos como nominá-los de tão surpreendentes. Ficamos graciosos, pagamos micos aos montes e com prazer. As mães então nem imaginam o quanto podem estar sendo ridículas “imitando”, dando voz ao nenê.

A gente não fuma, evita beber perto de criança. Droga então não combina com criança, pai, mãe, essas coisas. Só os “nóias” insistem. Acabam perdendo direito aos filhos e tudo o mais. Conselho Tutelar talvez seja uma das poucas coisas que podemos aplaudir nesse país. Não se discute na frente de criança. Só quem não tem noção do que esta fazendo, na hora da raiva, comete tal despautério. Conversamos em código perto de crianças para que não entendam as besteiras que nós adultos falamos.  

As pessoas buscam estarem calmas e paciente perto de crianças. Evitamos até falar palavrão perto delas. Observamos as crianças com olhar protetor. Talvez não tanto para aquelas crianças que dormem nas calçadas da cidade. Provavelmente por isso elas estejam naquelas condições de descuido absoluto, apagadas como seres sociais e humanos.

Diante tantas formas de ensinamento que a vida nos cerca, preocupo-me em como ainda posso estar tão estúpido, ignorante e deselegante. É exasperante!

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Luiz Mendes

23/09/2010.

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