Amamos os outros porque necessitamos amá-los

por Luiz Alberto Mendes em

Religião

 

Hoje já não sei mais se inda dá para dizer 'não tenho nada contra religiões' como sempre afirmei. Dizia-me inteiramente favorável, porque ao final e ao cabo, elas todas (salvo seitas esdrúxulas) pregam o amor aos outros e ensinam a caridade para com todas as pessoas, sem distinção. Mas, aos poucos minha convicção vai sendo minada pelas atitudes dos "religiosos".

Há historiadores que afirmam que a Revolução Francesa só fracassou em uma coisa: na extinção das religiões. Era de seu ideário e mesmo chegou a ameaçar cumprir. Conseguiu separar a religião do Estado e constituir o Estado laico, o que já foi um feito e tanto. Não era mais o Papa todo-poderoso que coroava reis franceses, agora seria república. O Estado possuía os três poderes como concebeu Montesquieu que, por sua vez, acreditava em Deus, mas era anti-clerical. Em sua opinião, o homem não precisa de intermediários para chegar à Deus.

Acho que procuramos religião porque, de verdade, não temos fé. A religião apenas norteia nossa ansiedade para essa ou aquela escolha religiosa. Caso tivéssemos fé mesmo, não precisaríamos de templos (nem o do Salomão) para praticarmos nossa crença. Existe quem acredita que se não houvesse Deus, as pessoas deixariam de se amarem, o mundo seria destruído. O socialismo prega mais que o amor ao próximo; prega luta e até sacrifício para libertar o companheiro desconhecido das garras do explorador ganancioso, e é ateu em sua base, embora hajam socialistas religiosos. Ser ateu não significa ser mau ou possuir alguma anomalia. Na maioria das vezes, é apenas por conta da insatisfação com as explicações dadas, dos dogmas e da impossibilidade de questionar. Afirmam que Deus determinou que nos amássemos uns aos outros e perdoássemos aqueles que nos ofenderam. E, por conta dessa determinação, nós buscamos amar e perdoar as outras pessoas. Amamos outras pessoas porque elas são, simplesmente, seres muito queridos e nos fazem um bem inestimável. Amar é o que há de melhor na condição humana; ser amado vem logo em seguida. E o amor não precisa de perdão; só de compreensão. Na Bíblia judaica é olho por olho, dente por dente. Talvez esteja ai a razão daquela briga que não tem fim na Palestina. Não há como concordar com isso. Nós nascemos livres de crenças (inocentes). Não tínhamos a menor noção de Deus, e amávamos desesperadamente nossos pais e todos que se aproximassem de nós. O amor de uma criança é puro e verdadeiro, eles ainda não aprenderam a cultura humana de fingir e mentir. Amar esta em nós, é espontâneo, nascemos capazes de amar e amamos instantaneamente, basta que nos queiram bem. Cavar o lugar das outras pessoas em nós depende deles, mas de nós também. Amor depende de cultivo, dedicação e empenho. Nós construímos o amor do outro por nós com nossas atitudes; a admiração é o começo.

Não ensinei religião a meus filhos. Tenho apresentado aspectos religiosos interessantes e ensino-os a estudar, pesquisar e querer saber. Ensino a questionar tudo o que lhes for dado ou passado, como me ensinou Marcuse. Tento incutir-lhes lógica. Busco ajudá-los a desenvolver o senso crítico e a capacidade de auto-crítica. Quero que vejam os outros, mas que também enxerguem a si próprios. Mas se não der, se não aprenderem assim, então que procurem uma religião; cada um vai até onde dá pé. Depois é só para quem sabe nadar mesmo.

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Luiz Mendes

20/08/2014.

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