A Arte da Escrita ou a Escrita da Arte

por Luiz Alberto Mendes em

Ser  Escritor

 

O escritor talvez seja um dos profissionais mais inseguros quanto à sua situação financeira. Raros os que no Brasil têm pelo menos alguma fama. É uma opção de vida que poucos se arriscam inteiramente. E, desculpem-me os que pensam em contrário, somente os que se atiram de corpo e alma têm a chance de atingirem o reconhecimento. O texto, a história e a vida contemporânea exigem todas as possibilidades e habilidades.

Até mesmo os nossos maiores escritores e poetas trabalharam duro em outras atividades para ganhar o pão e o leite das crianças. Carlos Drummond de Andrade e Vinícius de Morais são exemplos mais expressivos.

O risco da insolvência, o desemprego crônico e a insegurança financeira com filhos para criar, não fazem bem para a saúde de ninguém. A vida sedentária do escritor grudado ao seu teclado, livros e estudos é outro agravante à saúde. Particularmente aos olhos; quase todos os escritores usam óculos e são calvos, com aqueles “pára-lamas do sucesso”...

Nem para a família é bom. Além da constante dificuldade financeira, todos reclamam cuidados que o escritor só pode dar a seu texto. Escrever é concentração absoluta, dedicação integral. Já pensou o que é criar e ter uma cidade com toda sua população na mente? Com movimento, som e cores; funcionando tudo e ainda de quebra com alguma ação excepcional para justificar o texto? Há escritores internacionais que possuem vários mundos inteiros e novinhos em folha na mente para contar.

Mas, em compensação, não inventaram profissão melhor para quem não se conforma com as misérias, desgraças e desumanidades gerais. Não há meio mais seguro de mudar o mundo. Nem a guerra com seus mísseis teleguiados mais sofisticados superam a capacidade do escritor com seu teclado para revolucionar. Veja o que fizeram os chamados Enciclopedistas da França: Diderot, Condillac, Voltaire, Montesquieu, Rousseau e outros. Seus livros e idéias detonaram o mundo quase 100 anos depois de escritos. Os grandes ideais de Igualdade, Fraternidade e Liberdade da Revolução Francesa e toda estrutura da história contemporânea saíram da mente desses escritores esplendorosos. E ainda há escritores que reclamam da profissão...

Aqui e agora, onde e quando as formas de injustiça, corrupção e violência forem brutais, é o melhor dos tempos para o escritor. Dificuldades econômicas acabam por perder toda importância diante do que se descortina ao escritor. Karl Marx chegou a passar necessidades e fome com a família na Inglaterra; Freud só saia de casa à noite porque seu único casaco era furado e poído. E ambos eram grandes escritores. Seus livros revolucionaram o mundo, ainda desafiam a inteligência humana e fizeram toda a diferença.

Seria possível calcular quantas teses, tratados, ideologias, visões de mundo, idéias, monografia, estudos e pesquisas foram realizadas a partir da obra desses dois homens? E faz apenas 128 anos da morte de Marx e 71anos da morte de Freud.

Um dia atingirei a glória de ser reconhecido como escritor... Até lá, desculpem-me, mas vou reclamar mesmo.

                                       **

Luiz Mendes

19/11/2010.

Arquivado em: Trip