Olhar, acolher, caminhar junto
Padre Júlio Lancellotti, homenageado do Trip Transformadores 2018, lista 5 coisas que aprende diariamente com moradores de rua
Mais do que padre, teólogo e pedagogo, Júlio Lancellotti é militante de direitos humanos. O que se vê na Paróquia São Miguel Arcanjo, na Mooca, é uma síntese do que tem sido sua vida nas últimas três décadas: tentar cuidar, olhar, ouvir, acolher e ajudar o povo da rua, dos presídios, dos abrigos e ocupações.
Padre Júlio é um dos homenageados do Trip Transformadores 2018. Durante suas missas, fiéis dividem os bancos com tipos mais heterogêneos e, aos poucos, mais pessoas vão chegando, dentro e fora da igreja, onde moradores de rua buscam roupas, sapatos, cuecas, alimentos, cobertores e o que mais puderem ter.
Em 1991, Júlio Lancellotti inaugurou a primeira unidade da Casa Vida, para acolher e cuidar de crianças que nasciam HIV positivas. Hoje, tanto a unidade I (para crianças de 0 a 6 anos) quanto a Casa Vida II (de 7 a 15 anos) se tornaram abrigos comuns, o que representa um certo avanço: é resultado do baixo índice de crianças que nascem soropositivas.
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Durante sua trajetória de luta e dedicação a essas pessoas, Padre Júlio Lancellotti viveu muita coisa, e é exatamente desse convívio que ele resgata cinco coisas que aprendeu com a população de rua. Leia abaixo.
O olhar
A minha senha para conviver com os moradores de rua é o olhar, por isso é a primeira coisa que destaco nessa lista. Dependendo de como você olha, você recebe uma resposta imediata, mesmo que ela seja negativa. Sempre existe uma reação quando você olha de verdade para quem está na sua frente, é importante fazer isso com sinceridade.
Companheirismo
Caminhar com eles e não por eles. Não ter pressa. Afinal, não adianta querer ter uma relação tão pragmática ao ponto de a pessoa ter que agir seguindo os seus critérios e suas expectativas. Saber que cada pessoa é uma pessoa, cada história é uma história e alguns carregam feridas que não mudam mais.
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Saber ouvir
Também é importante ter uma escuta que não é apenas verbal, mas que faz uma leitura da dor, da história e da expressão de cada pessoa. Mesmo que o silêncio seja predominante, é importante reconhecer o que aquele silêncio está querendo dizer. Aprender a conviver com as feridas é um desafio, mas é transformador.
Estar junto
Nos momentos de alegria e principalmente nos momentos de dor, é importante demonstrar que está junto com a pessoa. Na alegria, pouca gente reconhece o apoio que é dado, mas no momento da tristeza, da dor, quando a pessoa está presa ou foi injustiçada, essa companhia e acolhimento fazem toda a diferença.
Escutar sem questionar
Você não fica amigo de ninguém perguntando o que a pessoa fez. Se a pessoa se sentir confortável, ela vai falar. Não adianta ficar naquele questionário sem fim que já é feito pelas assistentes sociais e outras entidades. Eles acabam pedindo aqui o que outras instituições não dão, justamente por se sentirem seguros e ouvidos.
Padre Júlio Lancellotti é homenageado pelo Trip Transformadores de 2018. Conheça aqui sua história.
Créditos
Imagem principal: Mario Ladeira