O pão nosso de cada dia

De segunda a sábado, ele faz pães na novela das 7h. Sem camisa. Rodrigo Lombardi saiu dos palcos de teatro para virar galã da Globo, e sua história vai bem além das cenas do próximo capítulo

por Nataly Cabanas em

CENA 1 – Saguão do flat
A luz verde indica que o elevador chegou ao térreo. A câmera desliza verticalmente e fecha no rosto de Rodrigo. Ele sacode os cabelos molhados e inunda o lugar com um perfume seco, com notas de fazer suspirar mocinhas.

Crédito: Priscila Prade


Depois de alguns minutos de papo com a reportagem da Tpm, ele incorpora um de seus personagens preferidos e manda: “Bi, mas como você descobriu isso?”. Entra em off a voz do dramaturgo Mário Bortolloto: “É a melhor imitação de bicha escandalosa que já vi”. Segue com o show à la Terça Insana, interpretando o Tio Eurico, um caipira machão de Barretos, a Tia Cleide, italiana esbaforida que está “cansada de ter tanta sorte”, e o “Minino”, que explica com as mãos esticadas ao lado do rosto que tem “um atraso mental”.

Perfil do personagem
Rodrigo Lombardi, 30 anos, está em sua sexta novela. No folhetim Pé na Jaca interpreta o padeiro Tadeu Lancelotti e passa a maior parte dos capítulos sem camisa, deixando o mulherio histérico, em casa, ao cair da noite. Aprendeu a atuar com o grupo de teatro paulistano Tapa, onde fazia de tudo um pouco: desde o curso de formação até a luz e a contra-regragem. Antes dos palcos, foi jogador de vôlei, garçom do Friday’s, agente de viagens e ator de filmes publicitários. Numa das filmagens das propagandas, se destacou. Abria a garrafa de cerveja com um gesto largo e desenhado e sorvia o líquido do copo com tamanha lascívia que pegou o papel principal.

Crédito: Priscila Prade


E ficou bêbado.“Bebi uns 15 copos de cerveja.” Na montagem de Medéia, de Jorge Takla, fez uma ponta como argonauta. “Eu só tinha uma fala: 'E Medéia passa os dias em sua alcova sem que a voz de amigo algum consiga acalentar-lhe o coração'.” Mas foi em A Mandrágora, do Tapa, como o jovem apaixonado Calímaco, que Rodrigo pôde mostrar a que veio. “Sou ator porque gosto de escolher um texto bom, encenar e fazer as pessoas refletirem.” Pisou num teatro pela última vez quando aceitou o convite do ator Marco Ricca para integrar o elenco de Ricardo III. De lá, enfiou o pé na jaca.

CENA 2 – Saguão – Noite
Rodrigo está esparramado no sofá do saguão. Enquanto fala, movimenta o pé descalço sobre a mesa. Está ansioso, combinou de buscar a namorada, a maquiadora de efeitos especiais Betty Baumgarten, no Projac. É lá que passa mais de dez horas do seu dia, fazendo cena “por atacado”. Não teme o rótulo de “descamisado das sete”. É talentoso demais pra isso. Quando a mãe encontrou os sapatos barulhentos no guarda-roupa, já seguia os passos sincopados de Gene Kelly e Fred Astaire há anos. As aulas de canto lírico vieram depois, junto com o trabalho como locutor: “Você se lembra do ‘Versão Brasileira Álamo’?”. Não, não era ele.

Crédito: Priscila Prade


Mas a imitação é perfeita, e tem variações: “Versão Brasileira BKS, Versão Brasileira Herbert Richards”. À noite, gosta de garimpar programas trash na TV. Mas não os trash conceituais, ensaiados: “Os bons trash, aqueles de verdade, sabe? Gostava de ver a Gracinha Sodré apresentando programas”. Emenda uma pérola atrás da outra, é um verdadeiro palhaço. Apesar do physique du rôle de galã, Rodrigo Lombardi não está nem aí para essa história de imagem que fica sempre aprisionada num mesmo papel. “Tenho medo mesmo é de virar mendigo.” Sem dúvida, Rodrigo é o antigalã mais lindo que já passou pelas páginas da Tpm.

Créditos

Assistente de fotografia Gabriela Hadad; Figurino Luana Prade; Locação Kelly Marietto; Maquiagem Beto França; Agradecimentos Calvin Klein Underwear tel.: (11) 3898-0229 e Real Castilha Hotel tel.: (11) 3331-945

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