'Velha para isso' não existe

Vânia Cavalera fala sobre tatuagens, a relação com os filhos, vaidade e a condição feminina

apresentado por Natura

Vânia Cavalera tem três filhos, sete tatuagens, 73 anos. Nenhum desses números a define. De riso solto, Vânia é uma soma de sua história e tem orgulho de onde está. “Não tenho vergonha, não quero botox, não quero esticar para lá e para cá. Essa sou eu”, diz.

Ex-modelo, Vânia está acostumada aos holofotes, principalmente após o sucesso dos filhos Iggor e Max, fundadores do Sepultura. Hoje, Vânia é um dos nomes da campanha da Natura #velhapraisso. Com relação às tatuagens, destaque na campanha, garantiu que este ano entram mais duas. “Só estou esperando o Iggor voltar de viagem – ele que me leva para fazer essas coisas – e vou fazer Cosme e Damião e os nomes dos meus filhos, que ainda não tenho no meu corpo”, afirma. Para ela, não existe esse papo de estar velha para alguma coisa. Vânia faz suas escolhas. Confira a entrevista: 

Com quantos anos você fez a sua primeira tatuagem? Qual foi a primeira? Foi na faixa dos 40. Foi aquela bobinha, uma rosa no ombro [risos]. Era a minha flor predileta. Aí eu fiz no ombro, porque era onde eu poderia ver toda hora. Quem faz tatuagem é para mostrar. Eu faço e gosto de mostrar. Tem um detalhe: todas as minhas tatuagens, eu faço questão que o tatuador assine. Acho que é uma obra de arte deixada na sua pele.

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Qual é a mais recente? A mais recente foi essa do punho fechado da vitória, que tem escrito “missão cumprida”. É a minha missão com meus filhos. Todos estão dentro da profissão, casados, com família, tenho oito netos... Embora a gente esteja sempre caminhando junto, minha missão com essa parte está cumprida.

Como é sua relação com os filhos? Tenho muito orgulho dos meus filhos. Quando eu fiquei viúva fomos nos tornando cúmplices, é uma união única, de amor, confiança. Eu com eles e eles comigo. Isso existe até hoje. É muito bom. [O marido de Vânia, Graziano Cavalera, infartou aos 40 anos, em 1979. Os filhos tinham 2, 9 e 10 anos]

Como você reage quando escuta a frase “você está velha para isso”? Tenho vontade de rir. Eu dou risada. Para mim, isso não existe. Eu não me sinto velha. Pode falar que não me incomoda, de maneira alguma. Essa campanha é maravilhosa por isso. Ela alcança o objetivo. Fala para a mulher “não tenha vergonha, não tenha receio, é bonito dizer a idade”. As rugas que eu tenho, como elas são mostradas, isso é a minha vida, é a minha história no meu rosto. Me orgulho disso, não tenho vergonha, não quero botox, não quero esticar para lá e para cá. Essa sou eu.

Por que você aceitou o convite para participar da campanha da Natura? Uma amiga conhece a agência responsável pela campanha. Essa agência estava procurando uma mulher na faixa dos 60 anos tatuada e a minha amiga me indicou. A agência me ligou, explicou como era a campanha, eu falei “nossa, aceito maravilhosamente e me sinto honrada”. Eu digo que eles tiveram um bônus muito grande. Eles queriam uma mulher na faixa de 60 e têm uma de 73. Queriam uma mulher tatuada, tiveram uma tatuada e de dreads no cabelo [risos].

Como você lida com a vaidade? Sou muito preguiçosa. Tem pessoas que malham, fazem esporte. Sou preguiçosa. Sempre fui. Não me esforço porque vai contra aquilo que eu sinto. Gosto do que eu uso, do que eu visto, dos meus cabelos, de me olhar no espelho e falar “está legal”. O importante é eu gostar; essa é a minha vaidade.

O que é ser mulher hoje para você? Acho que nós estamos em uma etapa maravilhosa, aqui presentes e cada vez mais presentes. Uma campanha dessas mostra tudo, é tão verdadeira. Pelo que eu tenho ouvido, a campanha teve o resultado esperado, ou até melhor. Tem aprovação, aceitação, as pessoas dizem “a gente precisava disso, que bom”. Outra coisa maravilhosa: encontro as pessoas e elas dizem “venho de metrô e vejo você” [risos]. Acho lindo isso. A mensagem chega em todos, desde a fashion week ao metrô Itaquera. Isso é o alcance da comunicação.

As mulheres ainda têm conquistas pela frente? Sim. O desrespeito dos homens por uma roupa, por uma calça apertada, por um short, ainda tem. Pelo menos no Brasil, a mentalidade machista ainda existe. Ainda há muitos abusos. A mulher precisa de mais proteção, infelizmente. Ainda temos um longo caminho a percorrer nesse sentido. Falta respeito pela mulher, por nós.

Que conselhos você daria para as mulheres hoje? Conselho é uma coisa muito comprometedora [risos]. Eu dou para os meus filhos. Mas para as mulheres, não sei se teria um conselho. Tenho uma frase: sejam vocês mesmas. Não tenha vergonha, seja você em qualquer circunstância da vida. Não se esconda, mostre a cara.

Como você fica confortável com você? Adoro dar risada, dou risada de mim, depois dou risada dos outros... Mas tenho meus altos e baixos como todas as pessoas. Música me transporta para um mundo que me faz chorar, toca lá no fundo. Tenho momentos em que é bom chorar e em que é bom dar risada. É assim que eu convivo comigo.

Como você gostaria de ser descrita? Não sei. Cada pessoa tem o seu olhar, tem uma maneira de interpretar as nossas ações; é difícil. Não tem nada a ver com a pergunta, mas por exemplo, quando perguntam: “Vânia, como você se vê dando tchau?”, já falei que quero ser cremada. Acho absurdo um parente ficar pagando por um pedacinho de terra para uma carne apodrecer e ficarem uns ossos lá, quando poderia ser construído naquele local um orfanato, uma creche, uma praça. Quero ser cremada. Nada de pagar terra, de jeito nenhum. Minhas cinzas, quero que sejam jogadas na avenida Paulista – eu amo a Paulista – no dia da Parada Gay. Já pensou 1 milhão, 2 milhões de pessoas felizes na avenida Paulista? Eu quero estar lá com todo mundo. As cinzas mais felizes do mundo vão ser as minhas [risos].

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