Projeto do baterista Marcelo Callado reflete sua nova fase na música e o fim do casamento com Nina Becker
Conhecido por seu trabalho como baterista na banda Do Amor e na Banda Cê, do Caetano Veloso, Marcelo Callado lança seu primeiro projeto individual: Meu trabalho Han Sollo vol. II, deixando as baquetas de lado para cantar e compor. Além do personagem de Star Wars, o nome do disco faz referência ao seu primeiro trabalho, aos 16 anos, totalmente experimental e exibido apenas para alguns amigos.
Ao longo do carreira participou de projetos com artistas como Caetano Veloso, Jorge Mautner e Canastra. Também produziu o disco Gambito Budapeste em parceria com a cantora e compositora Nina Becker, sua ex-esposa. O fim do casamento e uma nova fase da vida em curso levaram Callado a encarar um projeto para transmitir sentimentos e vivências pessoais que não caberiam em nenhuma banda.
“Eu tive ideia para muitas músicas que tinham assunto parecido e muito pessoal. Não poderia esperar a minha banda. Não ia dar certo esperar. Eu tinha necessidade de botar no mundo”, disse à Tpm.
Meu trabalho Han Sollo vol. II é imprevisível e paradoxal. Ao mesmo tempo, assume tom divertido e melancólico, também coletivo e individual. Em Todos Nós, a letra satiriza: cada um sabe o cu que tem. Em Âncora, bota para fora a saudade que sente da filha, Cora, entre viagens de turnês; alguém que aguarda pelo seu retorno e por quem vale a pena manter os pés no chão.
“É um disco que reflete altos e baixos. Às vezes você está para cima, querendo resolver tudo da melhor forma possível, às vezes você está para baixo, achando que tudo acabou mesmo e é hora de ir pra outra. É um disco que reflete isso bem. É muito honesto, sem nenhum truque.”, confessou Marcelo.
De maneira inusitada, o disco conversa com diversos gêneros musicais, do forró de Pau de Galinheiro, passando pelo reggae de Olé, ao rock de Música Triste. Grande parte das composições são autorais, mas Callado conta com a parceria do amigo Gustavo Benjão, da banda Do Amor, e inclusive Nina Becker (em Papai Santo).
A influência das décadas de 60 e 70 também é grande, já que o modernoso não é muito a praia do carioca. A base é formada fundamentalmente por baixo, bateria e guitarra, gravados ao vivo, simultaneamente, com sobreposições propositais.
“A influência maior é o jeito que ele foi gravado. Eu mostrei a música para o pessoal, a gente fez alguns takes e gravou. Não teve programação, não teve autotune [usado para corrigir a voz]. Pouquíssima coisa foi editada.”
Apesar de afirmar que “o moderno já é chato há anos” (em Por dentro todo mundo é rabujento), Callado avalia positivamente a produção cultural no Brasil atualmente, destacando o trabalho de artistas como Arnaldo Rebel, Ava Rocha, Siba, Jonas Sá, Negro Leo, Karina Bhur e outros. “Tem coisa muito boa sendo feita. A gente está muito bem.”, disse.
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