Eu moro em uma ONG

As pessoas me perguntam como a Graziela, que tem só 4 aninhos, reage a todas essas informações. Ela reage do jeito mais bonito de todos, com compaixão.

por Elka Andrello em

Procurar um lugar para morar é sempre exaustivo. Imagine achar um ap para morar num lugar onde você mal consegue se comunicar com as pessoas com uma pequerrucha de 4 anos a tiracolo! Para deixar a tarefa ainda mais agradável, procurar uma casa em Kathmandu no Nepal, onde a coleta de lixo é precária, as ruas não tem nomes, são mais ou menos asfaltadas, sem calçada, as motos circulam em trilhas apertadas junto com  pessoas e vacas, e todo mundo gospe muito e assoa o nariz no chão. Drama!! No meio desse caos, eu consegui achar uma guesthouse que a minha amiga Ju indicou. Uma fofura, com jardim, visinhos gringos estudantes de shedras que ouvem jazz e tomam vinho, e vista para o Shechen Monastery, monastério fundado pelo super mestre budista Dilgo Khyentse Rinpoche. E o mais legal, a guesthouse pertence a ONG Rokpa e todo o dinheiro arrecadado vai para um orfanato em Kathmandu. Tem um gostinho especial pagar um aluguel que vai para ex- crianças de rua.

 

 

 

 

 

 A Rokpa foi fundada há 25 anos pelo lama e médico de medicina tibetana Dr. Akong Tulku Rinpoche, e pela suíça Lea Wyler. Dr. Akong Rinpoche é um dos muitos refugiados do Tibete durante a horrível e violenta invasão chinesa em 1959. A fuga dele foi trágica, começou com um grupo de 300 tibetanos que após passarem por terríveis dificuldades terminou na Índia com apenas 13 sobreviventes!!! Rinpoche fez o voto de ajudar pessoas que vivem em condições de dificuldades extremas como: fome, doença, medo e angústia mental. Junto ao polêmico Chögyam Trungpa Rinpoche, famoso por ser apreciador de bebidas e mulheres e lógico um grande mestre budista, criou a primeira escola de budismo tibetano do ocidente, na Escócia em 1967. Entre seus vários projetos sociais, Dr. Akong Rinpoche criou um método de psicoterapia, a Tara Rokpa Therapy, baseado nos ensinamentos budistas com foco nas dificuldades psicológicas dos ocidentais, cá para nós, beeem diferentes dos dramas orientais. E eu hoje sou visinha do Dr. Akong Rinpoche, onde estou sentada escrevendo esse texto, fica a porta de comunicação para a casa dele que não tem tranca.

 

 

 

A Lea Wyler também tem uma história bem bacana. Ela é filha do Felix Salton, o autor do Bambi, nasceu em Zurique onde foi uma atriz bem famosa. Largou os palcos para cuidar da mãe doente terminal, entrou em crise e veio para a Índia e Nepal onde fez uma peregrinação com o Dr. Akong Rinpoche. Daí surgiu a ONG Rokpa que luta contra a fome e pobreza das crianças. Ela é conhecida por aqui como “Mummy Lea”. Junto com o Rinpoche, está envolvida em mais de 120 projetos na Ásia, Europa e Africa. O que eu acho bem legal da proposta da Rokpa é que eles escolheram ajudar menos pessoas mas são comprometidos em ajudar a longo prazo, durante todo o desenvolvimento da criança até virar um adulto capaz de se cuidar sozinho e com a consciência de ajudar os outros. Como bem disse o Rinpoche: “A Rokpa tem uma ação neutra, tentamos ser éticos e dar ouvidos às pessoas, é mais eficiente deixar as pessoas nos dizerem o que elas precisam. Juntos nós podemos fazer o nosso melhor para reduzir o sofrimento. É assim que damos às nossas vidas um significado mais profundo.”

 Essas são algumas histórias contadas pelas crianças Rokpa. Eu que tenho uma filha de 4 anos, acho incrível ver como seres tão pequenininhos e indefesos conseguem sobreviver a tantas dificuldades.

 

As pessoas me perguntam como a Graziela, que tem só 4 aninhos, reage a todas essas informações. Ela reage do jeito mais bonito de todos, com compaixão. E eu dou ainda mais valor a vida e a filha que eu tenho.

 

 

 

 

 

 

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