Pé na porta

Do Espírito Santo, as minas do grupo feminino de rap Melanina MCs não querem ser boazinhas e deixam isso claro no primeiro álbum, Sistema feminino

por Camila Eiroa em

É difícil pra mulher fazer rap? Na verdade, não. O difícil é ser reconhecida em um cenário majoritariamente masculino e machista. Foi nesse adverso contexto que, depois de muita batalha, as MCs capixabas Afari, Geeh, Lola e Mary Jane ganharam relevância na cena musical de Vitória com o grupo Melanina MCs. Na estrada desde 2012, elas mostram pela primeira vez suas rimas em São Paulo, neste sábado (21).  

Elas lançaram o primeiro disco, Sistema feminino, no início deste ano. Para a gravação, convidaram a baterista Larissa Conforto (Ventre), a guitarrista Gabriela Deptulski (My Magical Glowing Lens) e a baixista Carol Navarro (Supercombo).

Capa do primeiro disco do Melanina MCs, Sistema feminino

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As capixabas não estão preocupadas em serem boazinhas. “Nosso feminismo é de dar porrada, não vamos compactuar com o que os caras fazem. Estamos cansadas de dizer. É preciso fazer sentir”, diz Afari, 27 anos. A faixa que dá nome ao álbum, com melodia eletrônica e vocais poderosos, levanta a discussão sobre o protagonismo feminino na música e pede respeito: “Aplaude o nosso show”.

Sexta faixa do disco, “De role” é mais dançante e narra uma noite das minas no baile, com direito a sangue quente, champanhe e pista cheia.  Em “Crespo áspero”, elas homenageiam outras mulheres, como Elza Soares, Dona Ivone, Leci Brandão e Jovelina Pérola Negra. “Queremos que as mulheres respeitem suas naturezas, seus corpos, suas raízes. E que se amem antes de qualquer coisa, antes de amar qualquer outra pessoa”, defende Afari.

Afari, Geeh, Lola e Mary Jane: as rappers capixabas que retratam a vida da mulher nega nas rimas do Melanina MC

As MCs já tinham anunciado a que vinham em 2016, com o primeiro EP, Tesouro Escondido. As quatro faixas de estreia retratavam o cotidiano das mulheres negras na periferia de Vitória e mostraram o talento das cantoras. “Temos tomado cada vez mais espaço, é preciso lutar por protagonismo na cena”, defende Afari.

Todas as rappers têm trabalhos informais além da música. São atendentes, recepcionistas, cabeleireiras e telefonistas. Elas se viram para dar conta do recado. Além do Melanina MCs, existe mais um grupo exclusivamente feminino em Vitória, o Preta Roots, composto por Rayssa e Pdrita, desde 2008.

“Assim como nossa vivência com as mulheres maravilhosas que nos cercam, mães, tias, avós e até produtoras, o que nos inspira são as várias minas do rap que existem por aí. Tássia Reis, Flora Matos, Dina Di, Negra Li… Erykah Badu nem se fala, né? De cada uma dessas manas a gente extrai algo para criar”, conta Afari.

Vai lá
Melanina MCs
Sábado, 21 de abril, às 16h
Sesc Vila Mariana (rua Pelotas, 141, São Paulo)
Entrada gratuita 

Melanina MCs no palco: "Nosso feminismo é de dar porrada” - Crédito: Divulgação

Créditos

Imagem principal: Nunah Alle

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