Da Nigéria para o mundo

Yagazie Emezi é fotógrafa, personalidade web e criadora do Yagalifefacts, uma série de cartuns sobre ser mulher na África de hoje

por Letícia González em

Procure um link oficial de Yagazie Emezie e verá que não há. A nigeriana de 27 anos tem vários: site, página de Facebook, perfis de Instagram (dois), conta no Youtube. As numerosas frentes virtuais dão a pista de que há algo característico do século 21 no trabalho e na personalidade da fotógrafa, que vem se firmando como uma das vozes jovens da África contemporânea, essa que existe fora dos safaris e da miséria absoluta. Ela é múltipla mesmo, e isso vem a somar. O estilo pessoal a alçou a musa do black power e garante mais de 80 mil seguidores no Instagram. Seus quadrinhos, baseados na própria vida, têm seu mérito na honestidade.

Conversamos com Yagazie sobre sua arte e suas inspirações. A seguir, três fatos que ficaram claros:

A África não é o que você pensa

Depois de estudar antropologia e cultura africana na universidade do Novo México, nos Estados Unidos, Yagazie voltou à sua Lagos natal com uma missão. Queria mostrar como a vida realmente é na Nigéria. Se apaixonou por fotografia, clicou ensaios de moda e passou a contribuir com o Everyday Africa, projeto que reúne imagens de todo o continente feitas por locais. “Não somos tão atrasados e violentos como a mídia retrata”, diz ela. Em Lagos, onde vive quando não está viajando, seu local preferido é o Art Café, uma coffee shop e loja decoração no descolado bairro Victoria Island (ou V.I. para os modernos).

Yagazie em Kuala Lampur - Crédito: Yagazie Emezi / Instagram

Maioria não é igual à representatividade

Três anos atrás, quando criou a personagem Yaga, baseada nela mesma, a ideia era apenas se expressar. “Comecei inocentemente, queria apenas me animar um pouco.” A menina de pernas finas e cabelo grande aparecia em quadrinhos únicos, refletindo sobre sexo, amor e coisas tão banais como ser penteada pela mãe. “Para mim desenhar um cabelão era apenas um fato do meu mundo. Passei a compartilhá-los e percebi que muitas mulheres se identificaram”, lembra a artista. Yagazie, que cresceu com o cabelo natural, garante que a pressão por fios lisos não é exclusividade do Brasil. “Por muito anos fomos bombardeados com um padrão distante da nossa aparência.” Mas, como algumas brasileiras, as nigerianas estão buscando novos modelos. “O natural está voltando à moda na Nigéria. Finalmente as pessoas começam a ver beleza entre nós.”

Foto para a campanha Lade@StandToEndRape.org, contra a violência sexual sofrida por mulheres - Crédito: Yagazie Emezi / Instagram

Machismo é universal

“Não vou cozinhar para você”, é o título de um dos vídeos que mais provocaram reações em seu canal de Youtube, seguido por 15 mil inscritos. Na faceta vloggler, Yagazie fala, mais uma vez, sobre fatos da vida. “Meus amigos homens dizem: ‘não vou casar com essa garota que não sabe cozinhar’. O que é isso?!”, questiona. Debate também dificuldades de relacionamentos, a solteirice e muita masturbação. Num deles, descreve o melhor orgasmo da sua vida em detalhes e avisa: “Precisava contar isso a vocês? Não. Mas quero falar sobre isso”. A bandeira da liberdade sexual ela defende também com seus cartoons. “Existe um critério diferente para julgar homens e mulheres que decidem curtir sua sexualidade e isso é nojento. Espero que meus desenhos sejam um passo na direção certa para que mulheres se abram mais e aceitem seu prazer.”

Vai lá:
yagazieemezi.com
instagram.com/yagalifefacts
youtube.com/user/yemezi

Créditos

Imagem principal: Yagazie Emezie / Instagram

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