Sobre todas as cenas de sexo

Milly Lacombe lista suas cenas preferidas do cinema e da TV e questiona: "e se a gente chamasse cena de sexo gay apenas de cena de sexo?"

por Milly Lacombe em

No começo do mês de julho viajei à Itália e no vôo de ida uma descoberta casual me chocou: eu assistia Carol (2015), com Cate Blanchett e Rooney Mara, e como já havia visto o filme no cinema notei que a cena de sexo entre elas tinha sido limada da edição exibida pela companhia aérea. Pensei que talvez eles fizessem isso com todas as cenas de sexo de todos os filmes, mas quis o destino que o rapaz do assento ao meu lado estivesse vendo Garota Exemplar (2014) e que eu olhasse para a tela dele justamente quando o bonitão Ben Affleck fazia sexo oral em Rosamund Pike. A cena entre Affleck e Pike era muito mais gráfica do que a que vi no cinema entre Blanchett e Mara, e ainda assim ela tinha driblado a censura da companhia aérea.

Um pequeno enjôo me invadiu. Por que para aquela empresa a contundente cena de sexo hétero era aceitável e a delicada cena de sexo gay não? Enjoada, tentei refletir a respeito.

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Para que grandes audiências aceitem mais confortavelmente duas pessoas do mesmo sexo se pegando é comum que o sexo entre elas seja carregado de poesia, leveza, delicadeza e musicalidade. Nada muito explícito, nada muito direto, apenas sugestões.

Quando o caso é a exibição desse amor em rede nacional de TV é comum o frissom e o levante de torcidas: de um lado gritam aqueles que celebram a vitória do amor e do outro vociferam os que condenam a ousadia.

No dia 12 de julho, quando a novela Liberdade, Liberdade levou ao ar dois homens fazendo amor (os personagens de Caio Blat e de Ricardo Pereira) outra vez houve o levante; e outra vez a cena foi carregada de exagerada delicadeza.

Os personagens de Caio Blat e de Ricardo Pereira em Liberdade, Liberdade - Crédito: Reprodução

Mas há, claro, muitas formas de inserir poesia em cenas de amor entre homens, e o filme O Segredo de Brokeback Mountain, de 2005, foi contundente ao não tentar tirar a virilidade ou a força do ato. A cena de Jake Gyllenhaal e Heath Ledger fazendo amor em uma tenda na montanha é, para mim, uma das cenas de sexo mais intensas do cinema.

Do outro lado dessa lua fica a cena de Cidade dos Sonhos (2001), entre Laura Elena Harring e Naomi Watts, que emociona mais pelo que ficou de fora do que pelo que está sendo mostrado. É uma cena simples, nem chegamos a ver as duas atrizes totalmente nuas, mas as nuances de sentimentos que transbordam da tela tocam mais fundo a alma.

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Acho a cena de Cidade dos Sonhos tão excitante quanto qualquer uma de Azul é a Cor Mais Quente, filme que chocou o mundo em 2013 por exibir sexo explícito, durante alguns minutos, entre duas mulheres.

Cena de "Azul é a cor mais quente" - Crédito: Reprodução

Mas é sempre bacana quando uma emissora aberta de TV topa não limitar o amor exibindo indiscriminadamente cenas de sexo entre os mais variados personagens. Shonda Rhimes, a criadora, produtora, roteirista e diretora por trás de sucessos como Grey’s Anatomy (começou em 2005 e está em sua 12a temporada) e Scandal (começou em 2012 e está em sua 5a temporada) faz isso fartamente e andou tretando no Twitter quando alguém disse que as cenas de sexo gay em seus seriados estavam exageradas. Rhimes escreveu: “Não há cenas gays. Há cenas com pessoas nelas”, e depois continuou: “Se você usa frases como ‘cenas gays’ além de você estar atrasado para a festa você não está convidado para a festa #oneLOVE”.

Rhimes é uma das produtoras de TV que está no comando da tal festa, e seu nome ficará marcado na história como uma das agentes da revolução social, uma dessas pessoas que entendeu mais rapidamente do que outras que não existem cenas de sexo gay, apenas cenas de sexo. E que a festa já começou.

Algumas das melhores cenas se sexo de todos os tempos (que, por acaso, são de sexo gay...)

1. Cena do chuveiro, beijo entre Piper e Alex -- episódio 1, temporada 1 de Orange Is The New Black 

2. Cena de sexo na apresentação das personagens de Jamie Claiton e Freema Agyeman na temporada 1 de Sense8

3. Cena da primeira vez que Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux fazem amor em Azul é a cor mais quente

4. Rachel e April no banheiro  -- House of Lies temporada 1, episódio 1

5. A cena de Cidade dos Sonhos, entre Watts e Harring

6. A cena de sexo entre Brian e Justin em Queer As Folk -- episódio 1 temporada 1

7. Plata quemada, cena entre os protagonistas El Nene e Angel 

8. A dos protagonistas de O Segredo de Brokeback Mountain

Piper e Alex em "Orange Is The New black" - Crédito: Reprodução
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