Seu signo pode ser outro

A astrologia védica considera o eixo de rotação da Terra, atualizou o zodíaco e é consultada por toda a população indiana para organizar a vida

por Camila Eiroa em

E se dissessem que seu signo, na verdade, não é aquele que você pensa? Não, não estamos falando das notícias que a cada ano viralizam na internet com um 13º signo. Estamos falando da Astrologia Védica, praticada na Índia como oráculo por diversos gurus. Por considerar a alteração do eixo da Terra, que acontece todo ano, ela tem uma leitura diferente da astrologia ocidental. O que significa que, se você fez um mapa astral, pode se acostumar com a ideia de que a interpretação provavelmente irá mudar.

"Na astrologia védica, quem nasce entre os dias 13 e 22, permanece com o mesmo signo. Nós temos uma margem de erro de dois dias, mas isso ano a ano vai mudando. Para quem sofre essa alteração, computamos o signo anterior", pontua Prem Ramani, astróloga brasileira que hoje vive na Índia. Ela conta que pela movimentação natural da Terra, todos os anos temos uma alteração de poucos segundos na posição dos astros e esse é o dado que a astrologia ocidental não considera.

Ou seja, se você é de leão, na verdade pode ser de câncer. Já pensou?

Aos 44 anos, Ramani se dedica integralmente à essa cultura. O interesse precoce pelos astros a levou até a tradição dos vedas, em 2005. "Era uma junção de todas as informações que eu tinha colhido até então, por isso me encantou. Porém, quando você estuda a védica, logo descobre que precisa estudar mais ainda. É uma desconstrução [risos]", diz. Os vedas são as escrituras sagradas e antiquíssimas do hindu, contêm tratados sobre como as pessoas podem se adequar a todos os elementos da natureza para harmonizar a vida.

LEIA TAMBÉM: Astrologia é autoconhecimento

Gochara – O Trânsito dos Planetas - Crédito: Reprodução

Os indianos acreditam que seu método de interpretar os astros está mais perto do que a astronomia considera correto. Por outro lado, o astrônomo Helio J. Rocha Pinto, da Sociedade Astronômica Brasileira, discorda: "A astronomia surge como ciência que estuda e explica os movimentos celestes e suas propriedades fisico-químicas. Ela segue o método científico, enquanto a astrologia segue afirmações subjetivas que não podem ser testadas cientificamente".

De um modo prático, Helio explica a diferença do eixo da Terra que Ramani cita. "Como a marcação dos signos está atrelada aos equinócios, acaba por haver um gradual e lento deslocamento entre constelação (real, observada no céu) e signo (divisão arbitrária de 30 graus a partir do ponto equinocial, ao longo da eclíptica). A prática védica deve seguir as posições planetárias com respeito a essas constelações reais."

ESCUTE NO TRIP FM: Oscar Quiroga fala sobre inferno astral

Outra grande diferença dos astrólogos indianos para com os tropicais, além da interpretação e cálculo, é que eles receitam medicinas para que as pessoas amenizem ou potencializem os aspectos astrais de acordo com uma necessidade individual. Esses remédios, como chamam, são meditações, rituais, uso de pedras, essências e chás. "Diferente da cultura ocidental, a védica se comunica com a agricultura, a ayurveda, os ritos sagrados e as festividades. Tudo isso exige que o astrólogo se capacite ainda mais para ajudar as pessoas", explica Ramani.

Na Índia, a crença faz parte do dia a dia de todos, e os astrólogos são vistos como verdadeiros mestres e professores. Por lá, é natural consultar o mapa natal e, quanto mais os indianos podem pagar pela leitura, mais se sentem felizes. Muitos casamentos, gravidez e nascimentos são estudados rigorosamente antes de acontecerem, para que tudo saia da melhor maneira possível.

LEIA TAMBÉM: Entrevista com Susan Miller

A jornalista Gabriela, de 32 anos, já tinha ouvido falar da astrologia védica, mas depois de ver uma palestra de Ramani ficou curiosa e resolveu fazer uma leitura. "Já tinha feito meu mapa ocidental, que mostrou coisas importantes sobre a minha vida e foi muito transformador para mim. Quando fiz o mapa védico, tinha no fundo uma esperança de continuar libriana, mas sou virginiana. Ainda estou confusa sobre qual astrologia acreditar, qual horóscopo ler", diz. A começar pelo formato do mapa, que não lembra em nenhum ponto as formas circulares e elípticas que estamos acostumados. O mapa indiano é quadrado.

Exemplo de como é feito um mapa astral védico - Crédito: Reprodução

Para a astróloga brasileira Maria Eunice Sousa, que segue a tradição ocidental, todas as aplicações astrológicas são válidas. "Acho ótimo que tenham sistemas diferentes e formas diversas de interpretação. Os seres humanos também são múltiplos na forma de ver a vida." Ela mantém um blog com previsões de trânsitos, nada de horóscopo de jornal. E, assim como Ramani, acredita que a previsão típica de jornais ou revistas mensais é muito rasa. "Ora, sabemos que as pessoas não são iguais, o horóscopo desconsidera os demais pontos celestes que estão no mapa natal do indivíduo."

Prem Ramani não desmerece os estudos dos astrólogos brasileiros que seguem a linha que somos acostumados, mas, hoje, defende que a astrologia na Índia é mais profunda e verdadeira. "Ela dá dicas para que a gente se afine com a natureza de acordo com a nossa configuração, por isso é importante e muito sério o cálculo de cada mapa", finaliza.

Créditos

Imagem principal: Leinad-Z, em Andreas Cellarius Harmonia Macrocosmica, 1660

Arquivado em: Tpm / Espiritualidade / Comportamento