Carta com gosto de bolinho de chuva

Mãe,

Hoje acordei com vontade de escrever uma carta com gosto de bolinho de chuva. Mais do que isso: com vontade de ir com você e a Rita na padaria Barcelona pra devorar aquele pão de queijo que sempre comíamos quando éramos crianças.

Domingo passado, acordei bem cedo, com saudade, lembrando dos tempos em que eu corria pelos corredores da produtora TVC, falando sem parar e sonhando em trabalhar um dia naquele universo dos sets de filmagens. Lembro de cada set, de cada segundo que vivi visitando você nos estúdios Vera Cruz, do Lucas nos buscando no colégio para irmos até lá.

Estou recordando disso tudo por causa de um roteiro que estou lendo, aqui deitada na cama. Sinto falta de você me dizendo: "Faça com alma, acredite". Vou viver uma menina-mulher sem família que teve uma infância complicada, que casa com um jovem traficante e sonha com uma vida tranquila. Mas tudo vira ao avesso.

Engraçado pensar em você nessa hora. Fico a imaginando, agora, cercada pelos cachorros que você tanto ama e sempre contando uma estória engraçada para alguém. Vira e mexe me pego imitando suas falas, seus exageros, suas ideias para novas histórias, roteiros divertidos, citando filmes (coisa que mais ama na vida) a que assistiu, programas de TV que gosta...

Lembro também quando você dava bronca em mim e na Rita ao brigarmos nos corredores de casa. E sempre falava: "A amizade de vocês sempre tem que ser forte e verdadeira. Sem brigas!!!".

Você tem um jeito de falar que me encanta, carinhosa, assertiva de um jeito que sempre quer ouvir a opinião contrária. E sabe me inspirar como ninguém. Ser humano doce, generoso e carinhoso. Uma mãe leoa. É gostoso escrever agora, olhando para algumas fotos imaginárias e revendo nossos encontros e desencontros.

Você é minha maior influência. Tomara que esta carta chegue numa hora boa e pegue você bem feliz e inspirada. Amo você. Obrigada por tudo, sempre.

Beijo enorme e todo meu amor. Axé.

Seu mico,

Lili