Um ano e meio após o fim do Cordel, cantor e compositor lança disco solo pela internet
Um ano e meio após o fim do Cordel do Fogo Encantado, banda na qual permaneceu por 14 anos, José Paes de Lira, ou Lirinha como é mais conhecido, volta com um trabalho cheio de novidades e ao mesmo tempo, com algumas fortes semelhanças com seu antigo grupo. Sem deixar de lado a estranheza, a poesia e a teatralidade, o primeiro disco solo do músico, o álbum Lira, foi produzido por Pupillo, da Nação Zumbi, e conta com ilustres participações. O amigo Otto, a cantora Ângela Ro Ro, o músico Fernando Catatau e o filho João Paes de Lira, de apenas nove anos, são alguns exemplos.
Prestes a começar a turnê do disco, Lirinha conversou com a Tpm, por e-mail e telefone, e falou sobre o processo de criação do novo trabalho, a experiência de gravação com o filho e suas influências na música e literatura.
O disco Lira foi lançado na internet no dia 11 e está disponível para download. Por que essa escolha?
Quando terminei o disco Lira, percebi que a música estava muito forte. Como o disco é totalmente independente, posso fazer o que quiser com ele, resolvi disponibilizar pra espalhar esse som, minha música e poesia ainda não conhecida, meu primeiro disco solo. Escolhi o dia 11 de setembro porque é o dia da emancipação política da minha cidade natal Arcoverde, é dia de desfile na rua e eu quis participar dessa tarde, enfeitar este dia.
A sonoridade do novo disco é mais rock. Quais são as influências deste novo trabalho?
Neste disco as inflências são The Velvet Underground, Joy Division, Jonh Lennon, The Zoombies, Lula Cortes, Ave Sangria e Elomar.
Lira tem participação de Otto, Ângela Ro Rô, Fernando Catatau entre outros. Como surgiu a ideia de cada participação?
Fiz a música pra Ângela cantar, fiz a letra pensando nela. O Otto é muito importante pra mim, foi o músico que não permitiu que eu me afastasse dos palcos depois da minha saída do Cordel, viajei com ele fazendo participações durante esse tempo, meu grande amigo. Já o Catatau, eu chamei pra tocar um violão na música "Sidarta"...
A faixa "My Life" é de autoria de seu filho. Você pediu que ele fizesse a música ou a canção já estava pronta? Como foi a experiência de gravar com ele?
O meu filho faz muitas músicas, melhores que as minhas. Quando escutei essa fiquei impressionado, a letra é muito boa, a melodia também. É uma das primeiras composições dele em inglês. Ele mora no País de Gales há dois anos.
Você disse que, no disco novo, teve de se reinventar como intérprete. Como se deu essa reinvenção?
O disco tem um diferença dos trabalhos anteriores musicais. Uma delas é o aumento das possibilidades harmônicas, porque no Cordel do Fogo Encantado eu trabalhava com quatro percussões e um instrumento harmônico, o violão. Nesse trabalho, eu dei uma ampliada enorme nessa área. Os teclados, os pianos, a guitarra. Tudo isso propiciou uma música mais melodiosa, mais canção. Lira é um álbum de canções... No momento em que eu terminei essas canções, tive que descobrir uma forma de interpretação. Claro que faz parte da minha história, uma interpretação que eu construí ao longo dos anos. Tive que ver um outro lugar pra minha voz. Parti pra cantar mesmo. No cordel, eu trabalhava com a recita de poesias, eu dizia mais as palavras do que cantava.
Quais escritores te influenciam na carreira solo?
Graciliano Ramos, J.J.Veiga, Marcelino Freire, João Antônio, Virginia Wolf e Xico Sá
Há algo do Cordel no novo disco? Ou o disco representa uma ruptura radical?
Percebo muitos elementos do Cordel, mas essa percepção é muito particular, porque eu conheço a fundo a estrutura das duas bandas. Uma característica que eu vejo é a estranheza, o lugar diferente dos instrumentos e do sons. O Cordel tinha uma certa ousadia na sua instrumentação, era algo estranho. Tinha uma determinada agressividade no show, uma coisa meio rock, ao mesmo tempo era muito percussão. No Lira também vejo essa característica, com instrumentos diferentes, mas com uma sonoridade que também é original e estranha. Esse é um aspecto que eu gosto e vejo que também existia no Cordel. Outro ponto comum é a poesia...A poesia está bastante evidenciada, colocada em um papel muito importante no disco, a palavra está muito trabalhada...
Diversos artistas criaram discos marcantes depois da separação: Otto, Adele, Amy Winehouse. O fim do seu casamento influenciou este trabalho?
Vivi várias situações nesse período. Tive essa separação de um casamento longo [Lirinha foi casado com a atriz Leandra Leal], mas também tive a separação da banda que foi algo muito marcante. Eu tinha 14 anos quando comecei na banda, desde 97 tocava no Cordel... A separação foi um período estranho. Além da ruptura estética e artística que eu tive. No caso de Otto, de quem sou muito amigo, sei que o processo de composição dele teve relação com a separação; a separação motivou a construção. Não foi o que aconteceu comigo. Passei por esses períodos, mas percebe-se nas próprias letras que vivi uma transformação. É um momento em que eu renasço.
Após o fim do Cordel você atuou em alguns filmes. Agora a prioridade é a música ou veremos mais atuações suas?
Na música, costumo trabalhar numa zona de fronteira entre o teatro e a literatura. Trabalho muito literatura nos meus espetáculos. Me sinto mais inteiro, mais forte, quando utilizo esses elementos dentro do espaço da música. Também estou com muita saudade, sinto muita falta de tocar. Eu tocava bastante com o Cordel e estou há um ano sem isso. Não estou aceitando os convites ligados ao cinema. Estreou agora o filme Transeunte, de Eric Rocha, no qual eu faço uma ponta e outro do Geraldo Sarno, chamado O Último Romance de Balzac. Esses foram os últimos trabalhos que eu fiz e agora não pretendo fazer teatro nem cinema. Minha prioridade atualmente é a música.
Você já tem alguns shows marcados. O plano é fazer uma turnê de lançamento do disco?
Os shows do disco Lira começam agora dia primeiro de outubro por Natal e depois vamos fazer uma longa turnê.
Vai lá: Para baixar Lira acesse o site www.josepaesdelira.net