A coragem que nos move
O ensaio 'A floresta que me habita', realizado pela fotógrafa Marina Wang a convite da Roche Farma Brasil, traz cinco mulheres e suas jornadas contra o câncer de mama
Diz o dicionário que coragem é substantivo. Mas podia ser verbo: afinal, coragem é prática diária, manejo que leva à experiência. Coragem é, como o próprio dicionário define, enfrentar, suportar, realizar. É rotina principalmente de quem dorme e acorda todos os dias com uma batalha que não escolheu – história de vida de quem luta ou lutou contra o câncer de mama, tumor maligno mais comum em mulheres e o que mais mata brasileiras (Dados: Inca - Instituto Nacional de Câncer).
Roberta Perez, Débora Aquino, Evelin Scarelli, Joana Jeker e Thaís Avena são exemplos de mulheres que enfrentaram essa luta e para quem o substantivo coragem virou sinônimo do verbo viver. Hoje, elas contam suas histórias de uma maneira muito especial: a convite da Roche Farma Brasil, líder mundial em biotecnologia, as cinco foram fotografadas por Marina Wang para o ensaio A floresta que me habita, uma tradução, em imagens, de quem se tornaram após a doença, com toda a beleza e a sabedoria que as cicatrizes – físicas e emocionais – trouxeram. “A proposta do ensaio é a reconexão com a natureza”, explica Marina. “Foi um trabalho muito sensível porque, ao passar por algo como um câncer, você vive diversos processos de renascimento que, de fato, me lembram as estações do ano e a resiliência da natureza, que se transforma junto com seus fenômenos”, diz Evelin, que foi diagnosticada com a doença em 2013, aos 23 anos.
“Nunca tive a autoestima tão alta quanto na época do tratamento. Comecei a gostar de mim, e isso me fez questionar os padrões de beleza”
Roberta Perez
Roberta, que passou pelo tratamento em 2016, quando tinha 27 anos, viu no ensaio a oportunidade de dividir sua experiência – não como paciente, mas como mulher. “As fotos mostram a gente, não a doença. A protagonista é a mulher e o que ela faz com os cacos que o câncer deixa. É a nossa história real”, diz. “Acho fundamental mudar a maneira como a mulher com câncer de mama é vista.” Joana, que hoje é presidente da Associação de Mulheres Mastectomizadas de Brasília e luta por políticas públicas mais eficientes, faz coro à Roberta: “A mulher em tratamento não se vê doente. Se vê uma guerreira”.
Aceitação
O câncer de mama tem uma relação muito profunda com o feminino, já que mexe estruturalmente com o corpo e, portanto, com a autoestima. Além da queda do cabelo, que é um momento marcante do tratamento, é preciso encarar a mastectomia, que representa uma transformação imensa e irreversível – mesmo após a possível reconstrução –, que impacta não só o físico, mas também o psicológico das mulheres, que precisam aprender a conviver com um novo corpo.
Durante o ensaio, em que lidaram intensamente com a própria imagem, as cinco resgataram as memórias de como viveram essas mudanças. Cada uma sentiu de um jeito: Débora, que, em 2013, fez a mastectomia das duas mamas, precisou abrir mão da corrida durante o tratamento, mas se adaptou e foi nadar e pedalar, com menos intensidade. Já Roberta, que sofreu bastante com os efeitos da quimio, foi pelo caminho inverso e descobriu na corrida – atividade até então inédita – uma maneira de aliviar a dor física e emocional. “Um dia, caminhando no parque, decidi correr. Fiz 2 quilômetros e me senti tão viva que não parei mais. Corria todos os dias. As pessoas passavam e viam uma mulher careca, correndo e chorando”, conta rindo.
Para Joana, viver as perdas físicas foi uma das batalhas mais difíceis que enfrentou durante o tratamento. “Me achava horrorosa sem o seio, sem o cabelo. Me senti desestruturada”, relata. “Mas é isso, o cabelo cresce, você faz a cirurgia de reconstrução da mama, vai voltando a se sentir você mesma de novo. Tudo passa”, descreve hoje, dez anos após o tratamento.
“Para cada coisa que eu perdia, procurava algo que pudesse ganhar. Quando fiz a mastectomia, pedi uma prótese maior. Saí turbinada!”
Evelin Scarelli
Débora conta que tentou usar peruca, mas detestou. “Uma amiga me ligou e disse: ‘Estou aqui em um restaurante e entrou uma mulher careca. Sabe o que aconteceu?’, eu perguntei: ‘O quê?’, e ela: ‘Nada. Ninguém olhou com pena, ninguém se assustou, ninguém nem ligou’. A gente riu e ela pediu: ‘Larga essa peruca!’. Larguei e assumi minha careca”, se diverte.
Entre dias difíceis e dias bons, elas foram se redescobrindo e buscando novos olhares sobre si mesmas. E ser corajosa, todas lembram, é também aceitar as próprias vulnerabilidades e limitações. “É preciso se permitir viver a tristeza, o luto pelo seio, pelo cabelo. É importante aceitar o impacto das perdas, da mudança. Faz parte do processo”, ensina Débora.
Ponto de virada
Se cada mulher vivencia a doença à sua própria maneira, por outro lado, todas compartilham da mesma opinião: o câncer é um momento de enorme transformação. “Eu olhava para a minha filha, na época com 2 anos, e pensava: ‘Se eu morresse hoje, o que iria deixar para ela?’”, conta Déborah. “Na época, eu tinha um blog de corrida e me achava o máximo, celebridade do Instagram! Percebi que não vivia minha vida de verdade, estava num mundo imaginário, digital. Não tinha conexão com a minha filha. Esse foi o ponto de mudança para mim.”
Roberta diz ter passado por uma espécie de epifania quando recebeu o diagnóstico. “Foram os cinco minutos mais desesperadores da minha vida. Mas eu não tive medo de morrer, tive medo de não ter vivido”, lembra. “Me dei conta de que estava com 27 anos e caminhei por uma trilha que não era a minha. Então, com o diagnóstico, veio também o início de uma transformação muito profunda.”
Thaís, que foi diagnosticada aos 38 anos, em 2015, conta que, mesmo tentando levar a rotina normalmente, também viveu intensamente essa mudança. “Comecei a ver a vida de uma maneira bem diferente. Passei a prestar mais atenção às coisas que aconteciam quando elas de fato aconteciam. Foi uma fase muito marcante”, conta. “Tudo mudou com o câncer. E a mudança continua.”
Muito além do Outubro Rosa
Precisamos falar cada vez mais sobre o câncer de mama. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a doença é responsável por uma em cada seis mortes em todo o mundo. Por outro lado, trata-se de uma enfermidade que, se detectada precocemente, tem enorme índice de cura. Hoje, com terapias que agem diretamente no tumor e provocam menos efeitos colaterais e danos às células saudáveis, as chances de sucesso no tratamento na fase inicial do câncer são de quase 100%.
Se todas as brasileiras fossem submetidas à mamografia uma vez por ano, a estimativa é que a mortalidade por câncer de mama em mulheres entre 50 e 69 anos poderia ser reduzida em um terço. Estamos falando de muitas vidas. E, mesmo que a OMS recomende a mamografia anual a partir dos 40 anos, é fundamental que todas as mulheres realizem o autoexame e se consultem regularmente com o ginecologista.
Faça do autocuidado um hábito diário. A prevenção é simples e uma grande aliada da sua saúde. Para mais informações, consulte mulherconsciente.com.br
Créditos
Imagem principal: Marina Wang