Horizonte sintético

por Endrigo Chiri Braz

Em entrevista, o artista plástico Apo Fousek, que expõe na Rojo Art Space, fala sobre o circuito de arte e a relação da arte urbana com os esportes de ação

O paulistano Apo Fousek começou a desenhar cedo – e nunca mais parou. Parece que o incentivo da família na infância surtiu efeito. Tamanho efeito que a produção é frenética e ininterrupta. Tanto é que Apo já está indo para sua sétima exposição esse ano, a segunda individual. E não pense que o ano já acabou para ele. Ainda rola mais uma coletiva.

Dono de um traço bem peculiar, ele apresenta agora para o público a exposição Synthetic Landscape, que acaba de entrar em cartaz na galeria de arte da Livraria Pop, em Pinheiros. “Essa exposição tem a ver com o nosso dia a dia, com o fato das pessoas estarem sempre no piloto automático, não perceberem mais as coisas, as situações. Estão inseridas em um contexto e não percebem o que está acontecendo em volta”, adianta ele. 

Você começou bem cedo... Eu desenho desde os 3 anos de idade. Sempre fui incentivado pela minha família. Aí depois, com o skate, veio o lance de trabalhar com marcas e tal, e acabei seguindo mais o caminho do design mesmo. A arte sempre esteve presente, mas a partir de 2004 resolvi focar mais e investir na carreira de artista plástico. 

E com isso o skate ficou meio de lado? Agora estou meio parado, não tenho andado muito, mas ando de skate desde 1986. O skate tinha um lance de transgressão, de querer por pra fora de certa maneira, que eu achava muito interessante. O lance de querer fazer, protestar. Depois virou muito competição, profissionalismo, e perdeu um pouco essa essência. 

Mas a arte de rua ainda preserva esse lance da transgressão, do protesto... Não faço arte de rua. Uma coisa que acho um pouco estranha no Brasil é que se fala em arte urbana e remete direto ao graffiti. É um rótulo e não gosto. Não me considero um artista urbano por vir do skate. Aqui está muito enraizado no graffiti. O Beautifull Losers, um projeto de arte da Califórnia por exemplo, tem caras que vieram do skate e não necessariamente são grafiteiros. Mas respeito. Nunca nem tive oportunidade de grafitar. 

E o que preparou para essa nova exposição, a Syntethic Landscape? Essa exposição compila trabalhos novos, que fiz esse ano, e eu já tinha esse nome na cabeça há um bom tempo. E calhou que eu tinha uns trabalhos inéditos que encaixavam no nome, mas nada muito específico, como aconteceu na outra exposição que fiz, batizada de Organic Fast Food, em que as obras eram bem ligadas ao tema. A Syntethic Landscape tem a ver com o nosso dia a dia, com o fato das pessoas estarem sempre no piloto automático, não perceberem mais as coisas, as situações. Estão inseridas em um contexto e não percebem o que está acontecendo em volta. São quatro telas de 2004, que tinham a ver com tema, quatro pinturas em madeira, e mais sete pinturas em papel. 

E como é seu esquema de produção? O Stephan Doit, por exemplo, gosta de se isolar no meio do mato e ficar só pintando... Eu prefiro fazer isso também. Invejo um pouco o esquema do Stephan e tento buscar isso. Eu fico meio isolado, não ainda consigo totalmente. Esse ano, deixei de trabalhar como design por causa disso. Me incomodava bastante ter que dividir a cabeça e ficar administrando clientes que não batiam com as minhas idéias. 

E como você vê o circuito da arte em São Paulo para os novos artistas? O circuito de arte está melhorando. Acho que ainda existe uma falta de profissionalismo, principalmente no que se intitula de arte urbana. Armar um esquema, juntar forças e mostrar a cara. Está acontecendo igual um lance que sempre achei do skate: muita desunião. O mesmo está acontecendo com o circuito de arte urbana. Tem um puta potencial em termos de valor, qualidade, criatividade... tem muita gente boa. 

A arte urbana está se associando muito com os esportes de ação, está rolando muita pintura em shapes de skate e pranchas de surf, e vocês está inserido nesse esquema. Como vê isso? Algumas coisas não em agradam muito, principalmente quando pegam um atleta que desenha a um ano e pouco e só porque ele tem patrocínio de uma marca forte, ganha exposição na mídia por ser endossado por essa marca. Acho esse um ponto ruim. Parece que todo mundo virou artista. São muitas marcas querendo mostrar a cara, dizer que estão investindo em arte, e não é nada disso. E pior ainda é o fato de vários artistas abraçarem essa causa e toparem tudo. Estou fugindo disso. Começa a transformar tudo em produto, customização de tênis, óculos, pranchas etc. E arte não é isso. 

Tem alguma coisa em vista de exposição fora do Brasil? Eu estou trabalhando para expor lá fora. Foquei muito aqui esse ano, muitos compromissos, e acabei dispersando um pouco disso. Mas está pra rolar. É importante para fortalecer o nome e ganhar também. O público lá está mais preparado. Aqui tem que ficar catequizando, ficar explicando.

O que: Exposição Sinthetic Landscap, de Apo Fousek, na ROJO Art Space, na rua Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, 297, até dia 14/12.

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