Luiz Mendes: ”Em nome do que ou de quem ocorrem esses retrocessos? De Jesus é que não é”
Quando eu era menino, gay era "viado" e as pessoas os detestavam. Havia um preconceito acachapante, tão disseminado e generalizado que a maioria dos pais tinham o maior medo de seus filhos virarem "bichas", como eram chamados também. A ideia é que havia somente dois gêneros e, quem não pertencesse a algum deles, era um depravado e como tal deveria ser tratado. Passei minha juventude toda doutrinado dessa maneira. Depois que me envolvi com crime, piorou ainda mais. O homossexual era tido como menos que gente, para ser humilhado, espancado e mal tratado sempre.
Nas prisões eu os vi sofrer barbaramente, foi então que fui mudando meu modo de vê-los. Não era só compaixão pela dor deles. Eu sempre me interessei mais pelo que era execrável, que causava desordem, revolta e caos. Para mim, na medida em que fui lendo e aprendendo, sociedade era lavagem cerebral. As pessoas se escondiam de seus sentimentos e super valorizavam o controle social. Renunciavam à liberdade de ser em troca de padrões pré-determinados de segurança; guiavam-se pelo que os outros achavam delas. Na verdade, as pessoas viviam em busca de suprimir instintos que a natureza nos dotou em troca de idiossincrasias sociais que nem se sabiam se eram verdadeiras ou não. E o "pederasta", como eram então denominados, para mim, estavam ai enquadrados.
Eu arriscava meus passos, buscava novos caminhos e tentava pensar o que ninguém pensava. E, aos poucos fui me simpatizando pelo ser humano e principalmente pelos mais vilipendiados, os tidos por piores. Eu me interessava pelos "viados". Eles me pareciam mais sensíveis, mais cuidadosos, era como fossem outro mundo. E, ao me aproximar, eles me pareceram melhores ainda do que eu imaginava. Eram atenciosos comigo e revelavam-se ótimos amigos. Em pouco tempo, sem mesmo perceber, eu os estava defendendo e até discutindo por causa deles. O que mais me impressionava era o ódio que algumas pessoas lhes devotavam. Ficava questionando, curioso. O que o preconceito gera nas pessoas é algo que até hoje me impacta e deixa perplexo.
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Tenho admirado as conquistas que esses interessantes seres humanos, chamados de gays, têm realizado. Antes se escondiam, disfarçavam e não deixavam os outros perceberem. Temiam as possíveis represálias. Hoje vivem suas vidas mais à vontade, não sem os perigos que ainda os ronda; constantemente são espancados e até assassinados.
Há pessoas que os atacam ainda raivosamente, fazendo passeatas e reclamando veementemente contra suas justíssimas conquistas. E o interessante é que é de graça, os gays não fazem mal a ninguém, muito pelo contrário. As pessoas protestam contra algo que não lhes dizem respeito. O que tem, por exemplo, os auto ditos evangélicos (o nome correto seria neo-pentecostais), contra o casamento gay? Qual o problema real de famílias formadas por pessoas do mesmo sexo? Conheço algumas e devo dizer: além de viverem felizes como tantas que se considera "normais" (alias, o que é normal, quem dita essas normas?), ainda são exemplo de educação e respeito aos outros. No que "toca" aos "tementes a Deus" duas pessoas do mesmo sexo decidirem se casar? É só eles (os moralistas) não se casarem com pessoa do mesmo sexo e pronto, está resolvida a questão. Então porque esse escândalo, essa covardia contra pessoas que já foram tão humilhadas e maltratadas pelos preconceitos e pela homofobia?
O que eles têm com isso? Atacam a "moral" e os "bons costumes"? Mas há coisas muito mais lesivas que além de atacar as normas sociais, é crime e que os "evangélicos" aceitam. Seus pastores vendendo vassouras, toalhas, canetas "abençoadas" e cobrando para serem "tocados", por exemplo. Pastores sendo presos e cumprindo pena por entrada ilegal de dinheiro nos States. As pessoas que dirigem suas "igrejas" vivendo luxuosamente, pastores e "bispos", donos de fortuna incalculável com o dizimo que eles pagam. Ou pastores e notáveis de suas religiões, nos quais foram induzidas a votar, processados por roubos ao erário público, corrupção ativa e passiva, usando suas "igrejas" para lavagem de dinheiro, viajando com dinheiro ilegal nas cuecas, como mais metade da atual bancada dita "evangélica"?
Como levar a sério tais pessoas? Querem ainda voltar atrás e extinguir avanços sociais, conquistados à duras penas, por cidadãos com orientação sexual diferente da deles. Até na prisão a vida dos homossexuais esta melhorando, o preconceito vai sendo dissolvido aos poucos. Em nome do que ou de quem ocorrem esses retrocessos? De Jesus é que não é. Este era um exemplo de humanidade. Viveu e morreu no meio de ladrões, putas, pessoas do povo e conviveria, tranquilamente, com homossexuais. Seu evangelho era para todos.
