Onde vive a rede: a internet tem um peso?

O artista irlandês John Gerrard registrou uma ’data farm’ do Google - um prédio que a empresa preferia não mostrar

Tirando a existência eterna do jogo FarmVille, e histórias de pessoas que largaram tudo para morar no campo, "fazenda" não é uma palavra obviamente relacionada ao contexto da vida digital. Mas deveria: por mais abstrata que a "nuvem" possa ser, o armazenamento de dados continua sendo físico, em lugares batizados de data farms, ou fazendas de dados, complexos tecnológicos perdidos na vastidão central dos Estados Unidos. Ou seja, a internet pesa, e muito.

Para tentar descobrir com o que a internet se parece, o artista irlandês John Gerrard resolveu fotografar, no ano passado, uma dessas fazendas. No caso, um prédio do Google no interior de Oklahoma. A empresa, porém, não autorizou o retrato da parte externa do complexo — apenas imagens do interior, brilhante e moderno, são divulgadas. Gerrard alugou então um helicóptero para fazer uma inspeção fotográfica do local, ponto de partida para a instalação Farm (Pryor Creek, Oklahoma), 2015, exibida pela primeira vez em Londres entre fevereiro e março.

A obra de Gerrard é uma simulação, criada a partir de 2.500 fotos clicadas do helicóptero, uma escultura digital do prédio exibida como que por uma câmera de vídeo que mostra um prédio sem apelo arquitetônico particular, com geradores de energia e torres de resfriamento. Trata-se de uma imagem que fica bem longe da visão imaterial que se tem da internet, ou da narrativa corporativa moderna do Google. Não é completamente distinta de uma outra estrutura que Gerrard registrou no estado americano: a fazenda de porcos de Sow Farm (near Libbey, Oklahoma), 2009.

Outro que decidiu explorar esse aspecto material da internet foi Andrew Blum. O jornalista rodou o planeta para descobrir os bastidores da rede, dos cabos de fibra óptica que cruzam o oceano Atlântico às fazendas de dados. Em Tubos: o mundo físico da internet, de 2013, Blum narra o que encontrou nessa "jornada ao centro da internet", como diz o subtítulo original do livro, unindo histórias e reportagem de campo com explicações sobre o funcionamento da rede mundial de computadores.

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