Entender e estender

por Paulo Lima
Trip #196

Fazer a Trip é brincar com a ideia de que podemos questionar os limites que nos orientam

O tema desta Trip que abre 2011 foi um presente do nosso colunista e parceiro de décadas Ricardo Guimarães. É dele, não por acaso, a pensata que melhor resume a visão que procuramos lançar sobre a ideia. Reproduzo aqui um trecho da coluna Somos todos limitados, com sua original analogia entre ela e o que se vê por aí nos padrões vigentes e, por consequência, nos veículos de comunicação e nas peças de publicidade: “Não gostamos de limites. Liberdade total é causa nobre. Herói popular é aquele que vai além dos limites: expande as fronteiras, expande a juventude, expande a riqueza, expande o poder de fazer o que bem entende, sem se submeter a nada e a ninguém. Esse heroísmo ingênuo garante a eficiência da maior parte dos apelos publicitários. Por isso, o cartão de crédito mais legal é sem limite. Mas sem limite a vida não existe. Limites de tempo e espaço definem o que é a vida...

... Gostar dos limites, acolhê-los, entender sua função e significado nos permite crescer para dentro – em qualidade, consistência, profundidade e criatividade”.

Uma olhada rápida nas páginas da revista dirá muito sobre os limites que nos interessam e que nos orientam há anos. E sobre como lidamos com eles. Vejamos um dos primeiros com os quais temos que lidar desde os primeiros dias de vida. A pele, o tal maior órgão do corpo, uma espécie de membrana que separa o que pensamos que somos daquilo que imaginamos não ser. Fazer um instrumento de comunicação como a Trip é brincar com a ideia de que podemos questionar esses limites. Viver em outras peles, mergulhar na alma de uma mulher atormentada por traumas, que descobre numa academia de halterofilismo e na ciência a cura para suas supostas limitações... Descobrir o que vai no coração de um motoboy anão ou da garota dona de uma beleza embriagadora, que sabe que o tempo estabelece limites implacáveis para sua exuberância... Cair pra dentro do cérebro de um sujeito que vive andando na linha que aparta o sucesso profissional e o trabalho de extrema utilidade pública, da morte horrível nas mãos ensanguentadas do crime...

O que nos faz entrar fortes em nosso 25º ano de vida tem muito a ver com o fato de que desde o primeiro número (quando nossas ideias ainda viviam ameaçadas pelos estreitos limites físicos como papel, máquinas impressoras e dinheiro) soubemos usar os tais limites a nosso favor. Percebendo, por exemplo, que se os recursos materiais eram limitados havia uma fronteira que, uma vez rompida, abria uma galáxia de possibilidades, praticamente sem limites. Se conseguíssemos apontar nossos olhos para dentro e penetrar a pele, uma viagem sem fim através do jogo infinito entre os verdadeiros limites e os enormes potenciais do ser humano garantiria décadas de um trabalho socialmente útil, intelectualmente desafiador e, o melhor, extremamente rico e divertido. Aqui estamos então, para continuar ao seu lado brincando de entender (e por que não de expandir e de estender) os limites das nossas consciências.

Paulo Anis Lima, editor

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