Coração Aberto

por Luiz Alberto Mendes

 

Desde o momento que tomei consciência da vida e das pessoas, passei a sonhar em fazer alguma coisa que fosse realmente significativo para a vida e as pessoas. Tentei e na maioria das vezes não consegui. Fracassei muitas vezes, mas a soma de meus fracassos, de alguma forma me capacitou a perceber uma coisa fundamental: por onde iniciar. E não há outro começo senão por mim mesmo. Eu sou meu ponto de partida. Devo partir por mim sempre. E os meios são sempre aqueles mesmos que as experiências e os fracassos me ensinaram: Trabalho, disciplina e firmeza de pensamento. Não sei exatamente o que devo fazer, mas sei que devo me preparar para fazer. Primeiro tenho que me disciplinar. Vencer vícios, hábitos nocivos e maneiras hostis. Mexer em meu comportamento com as pessoas e selecionar desejos no sentido de concentrá-los em objetivos.

Começo já a ter alguns reflexos das posições a serem tomadas. Sei que não posso deixar de ser o que sempre fui. Mudanças radicais são apenas lavagem cerebral que não dura no tempo. Mas percebo que mesmo sendo como sou, dá para ser melhor. Dá para dar uma inclinada que contemple a vida e as pessoas. Percebo que não sou assim tão errado e torto quanto pareço à minha auto-crítica. Há um núcleo bom que foi preservado e um potencial ainda a ser explorado. Já fui muito melhor e sei que dá para voltar a isso. Claro, vai depender do esforço empreendido.

O que desejo ser? Principalmente um homem que compreende os outros homens e bem por isso é capaz de compaixão e amor por si e por cada um deles. Um homem que viveu e conviveu com as piores misérias humanas dentro de si e fora de si e por isso agora chora. Chora ao perceber a imensidão de sofrimentos que derramamos sobre nosso futuro. Dói aqui no peito em ver homens ambiciosos, completamente tomados pela sede de poder e que não têm a menos consideração pela dor e pela miséria humana. Só enxergam a si e suas mesquinhas individualidades. Seres humanos sem a menor compaixão, com os corações endurecidos como pedra. Não há como separá-los de mim; não são muito diferentes de cada um de nós; compomos, todos nós, a humanidade. Avançamos ou recuamos todos juntos.

O que pode separar um pouco desses ainda convictos de que são melhores ou maiores, são aquelas décadas de sofrimento e dor que vivi, sobrevivendo somente porque estava vivo. A solidão, embora me tenha ensinado a conviver comigo mesmo, me fez ansioso por amar e ser amado por tantos quantos fosse capaz. Os espancamentos, as humilhações e todo aquele mar de angústias; me fizeram perceber que ninguém merece passar por aquilo. E eu quis me livrar de todo meu egoísmo e todo esse monte de falsas importâncias que me separavam de cada ser humano. E hoje quero vencer cada vão momento que não possa me preparar para ser o que devo ser. Quero ser honesto, não mentir, não enganar e ser verdadeiro e puro em minhas intenções. Preciso de meu coração aberto, vencer toda inibição, medos e individualismos; tudo isso que ainda me mantêm preso ao que não devo ser. Ser honrado, proceder com nobreza e elegância. Ter um sorriso para cada palavra a todos que de mim se aproximarem. Sei que estou longe disso, mas já estive muito mais longe que agora, no extremo oposto, e vou me aproximando. Estou velho, muitas vezes doente, mas ainda tenho esperanças. Cada vez estou mais convencido de estar no meu caminho como jamais estive. Não tenho dúvidas, só certezas. Só não posso esquecer que, além de tudo isso que tenho a realizar, ainda devo morrer...

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Luiz Mendes

29/04/2015.    

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