Quanto custa?
Enquanto marcas de fast-fashion anunciam coleções novas com peças a menos de US$ 10, trabalhadores são abusados em algum canto esquecido do planeta
Em 2013, o edifício Rana Plaza desabou em Daca, Bangladesh, matando mais de mil funcionários da indústria têxtil. No mesmo ano, outras 377 pessoas morreram no incêndio de uma fábrica de tecidos no país. As tragédias no sudeste asiático chamaram a atenção para o ponto crítico em que se encontra o mundo da moda: enquanto marcas de fast-fashion anunciam coleções novas a cada semana com peças a menos de US$ 10, trabalhadores são abusados em algum canto esquecido do planeta. A situação é ainda mais desconcertante quando se mede o ritmo do consumo: só nos Estados Unidos, são 80 bilhões de peças vendidas a cada ano – 400% a mais do que se comprava há duas décadas.
The True Cost, lançado em maio (e no cardápio da Netflix), tem produção executiva de Livia Firth, ativista e diretora criativa da consultoria em sustentabilidade Eco-Age. Em seus discursos e nas iniciativas que promove, Livia destaca sempre nosso atual nó ético: "Do ponto de vista do consumidor, comprar uma camiseta por R$ 15 é realmente uma vantagem ou é uma armadilha? Veja bem, as corporações estão tentando nos fazer acreditar que somos ricos justamente porque podemos comprar muito. Mas a verdade é que elas estão nos tornando ainda mais pobres. E a única pessoa que está realmente ficando mais rica é o dono da marca de fast-fashion", diz em um trecho do filme.
O Brasil tem sua dose de Estados Unidos e de Bangladesh. Por aqui ainda estamos celebrando a chegada das marcas com preços acessíveis, enquanto mantemos costureiras em regime de escravidão. Em São Paulo, isso tudo acontece em um raio de 35 quilômetros que inclui a loja da Forever 21 no Morumbi Shopping (zona sul), a última fast-fashion a causar histeria nacional, e a oficina de costura em Itaquera (zona leste), onde 14 bolivianos foram libertados em meados de outubro. "Este é um problema global", explica Leonardo Sakamoto, fundador da ONG Repórter Brasil. A organização liderada por ele trabalha no monitoramento e na divulgação de notícias sobre trabalho escravo no país: "É que infelizmente as pessoas só percebem a desgraça quando ela está muito perto".