Sexo na prisão: uma necessidade ou um privilégio?
Visita Íntima
Há quem ainda pense que manter relações sexuais, fazer amor, seja algo que o homem aprisionado não deva ter direito. Vêm a prática sexual como privilégio. Julgam segundo seus preconceitos, sequer se interessam em conhecer informações científicas acerca do que falam. Não sabem que sexo faz parte das necessidades naturais e essenciais do homem. Vivemos séculos, milênios de doutrinação acerca da abstenção sexual como virtude e a função sexual como algo sujo, pecaminoso. A partir de Freud essas idéias estúpidas começaram a ser questionadas. Reich joga a pá de cal em cima dessas antiguidades todas que nunca tiveram sentido.
Pessoalmente penso que sexo é função e necessidade fisiológica como quando usamos o banheiro, respiramos ou nos alimentamos. Nós humanos é que misturamos no liquidificador da história, tal necessidade fisiológica aos nossos sentimentos mais recônditos. Principalmente porque essa é a única função de nosso corpo que exige o concurso de outra pessoa para ser efetivada (claro, há o onanismo, mas...). Envolve vontade e prazer e tais forças e sentimentos estão na parte mais selvagem de nossa natureza. A disposição depende de cada um, todos somos semelhantes, mas não iguais. Parece que fomos criados com matriz única que não se repete jamais. A vontade é como um potro selvagem a ser controlado para que vá na direção que ansiamos. O prazer é uma dádiva, um "plus" a mais da vida que deve ser trabalhado para que renda o máximo de alegria possível. Parece que quanto mais experiência e conhecimento, maior a satisfação no ato sexual, que então passa a ser chamado de "fazer amor".
Amor não é exatamente como faço
não pode ser pesado como um abraço
Nem tão leve ou lasso
Que apenas marque o compasso...
As informações científicas afirmam que a energia sexual é uma das mais possantes do organismo humano. Explicam que é uma força que não se dissipa naturalmente e que quando não utilizada, transforma-se em outros tipos de energia. A Kundaline é uma das prática dos sadhus e yoguins na India, que se utilizam da energia sexual para o desenvolvimento psíquico. A contenção sexual, não é nem um pouco saudável para a psique humana, quanto mais quando obrigatória. Ainda não se sabe exatamente a extensão do mal que possa causar, embora já se tenha conhecimento de que a explosão emocional, a violência e até o histerismo tenham ai algumas de suas raízes.
Na polêmica sobre a visita íntima nas prisões, essa é parte importante a ser levada em consideração. Ninguém quer que a prisão produza monstros. A energia sexual contida vai ser transformar em alguma outra energia. Que nada se acaba e tudo se transforma é lição que nos foi ensinada há dois séculos atrás. Já era para termos aprendido essa lição. Somos demorados para aprender coisas que realmente importam. Faz mais de 2 mil anos que nos ensinaram que amar, perdoar e servir é o melhor caminho e até agora somos cruéis, vingativos e nos matamos feito bichos.
Depois existem as companheiras de quem esta preso que nada têm a ver com suas condenações. São sempre as primeiras vítimas. A pena não pode ultrapassar a pessoa do apenado; essa é a doutrina da lei que, diga-se de passagem, é muito justa nessa parte. Sexo é direito natural de cada um de nós. Porque as companheiras dos presos têm que se sacrificar, serem proibidas, se têm esse direito? E só podem fazer com seus companheiros. Vivemos em regime de monogamia e a relação sexual fora do casamento é adultério. Até a pouco tempo tal prática era crime.
A visita íntima não pode ser tratada como regalia, privilégio. Antes é uma necessidade até para o autocontrole da agressividade à qual fica exposto o prisioneiro. Qualquer médico ou especialista em saúde sabe disso; essa é uma informação já do começo do século passado. É quase uma espécie de profilaxia, calmante e atenuante. Depois, considero que a relação com a cultura feminina é fundamental para a saúde psíquica do homem. A mulher sempre foi, desde os primórdios, a educadora do homem, são nossas mães, irmãs e companheiras. Fortalecer os já fragilizados vínculos familiares do homem aprisionado é tarefa social das mais relevantes. Pode implicar na diminuição da altíssima taxa de reincidência registrada pelas estatísticas.
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Luiz Mendes
30/04/2014