Ser para os outros ou não ser nem para si

por Luiz Alberto Mendes em

Viver para os outros

 

Há cerca de duas décadas descobri que nós somos seres que vivem para e com os outros. Relutei e discuti muito com pensadores e comigo mesmo sobre a primeira parte. Difícil para nós que lutamos tão desesperadamente para manter nossa individualidade, quando queriam nos tornar conjunto amorfo, zumbis aprisionáveis que não pensam; monstros desumanos que sequer sentem. E, por conta disso, foi e esta sendo difícil admitir em toda sua amplitude, que a outra pessoa é todo o significado do que pensamos e somos. Como ser para os outros que me feriram, abandonaram, judiaram, torturaram e prenderam até não mais poder? Pior que não queriam mais me soltar, por "eles" eu morreria lá dentro. Não fosse a intervenção de um amigo advogado, eu estaria preso até hoje; 10 anos depois de haver cumprido 31 anos encarcerado em suas masmorras.

Mas não há alternativas: ou se é para os outros ou vamos até o fim brigados com a vida, com os outros, infelizes e ressentidos. A vida toda eu havia me sentido tremendamente desvalorizado. Como se estivessem sendo roubando de minha importância, meu valor. Primeiro por meu pai em casa que batia qual eu fosse um cão. Depois nas ruas pelos comissários de menores que espancavam e pela polícia que torturava. E na prisão, pelos carcereiros e guardas de presídio que humilhavam e desrespeitavam. O Choque da PM que atirava bombas, balas de borracha e quebrava no pau. Precisei que os outros me amassem primeiro para que eu pudesse me amar. Porque somente quando pude me considerar digno de ser amado é que pude relaxar e me amar.

O amor e a amizade são as únicas formas que temos de mostrar nós mesmos que não estamos sozinhos, como parece que estamos. Tudo indica que somos seres singulares e que nossa vida faz diferença porque pode apresentar algo inédito de repente. De fato parece que podemos enriquecer o mundo com nossa presença. Quando as outras pessoas passam a ser importantes para nós, a nossa existência passa a ter significado. E assim, junto aos outros, podemos tornar esse mundo mais interessante e viver uma aventura muito mais agradável.

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Luiz Mendes

15/05/2014. 

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