Semana Internacional de Música de São Paulo
Entrevistamos diretora do evento que reúne shows e paineis de debate em São Paulo
A matemática dos shows é tão certeira quanto incerta: para cada ingresso vendido, há um sem fim de reclamações de seu comprador -- muitas vezes, com razão. O aumento sensível de apresentações internacionais no país escancarou as oportunidades do mercado nacional na mesma medida dos problemas ainda enfrentados por aqui.
Quem aponta isso é Fabiana Batistela, diretora da Semana Internacional de Música de São Paulo (SIM). O evento, inspirado na conferência parisiense MaMA, é um dos primeiros do gênero no país e pretende discutir temas como os problemas do mercado. “Acho que o SIM chega justamente nessa fase em que as coisas estão começando a se organizar para um futuro”, diz Batistela,
Na conversa abaixo, Batistela fala sobre o mercado musical no Brasil, vantagens e desvantagens em relação a Europa e Estados Unidos e, claro, sobre o formato do evento. Pensado como conferência, ele também terá espaço para shows de artistas nacionais e internacionais. No site é possível ver a programação das apresentações que vão de 5 a 8 de dezembro.
Trip: Como surgiu a ideia de fazer o SIM? Fabiana Batistela: Entrei em contato com o Fernando Ladeiro-Marques, diretor do MaMA em Paris, e foi através do consulado francês que a gente começou um papo pra trazer o evento pra São Paulo. O Fernando passou pra gente essa expertise e a gente montou o festival aqui.
E como ele vai acontecer? O formato tradicional de conferências de música é fazer uma feira num galpão onde os profissionais da música tem seus stands e as pessoas visitam. Achei esse formato um pouco antigo, cafona. O MaMa tem a proposta de usar a cidade como estrutura. Eles tem uma base onde os profissionais se encontram e os shows acontecem ao redor. Você aproveita a cidade, acaba conhecendo a dinâmica de show dessa cidade. E as bandas tocam em lugares abertos ao público. A nossa base é na Praça das Artes e ao redor a gente vai espalhar nossa programação musical.
Qual o atual estágio dos negócios em música no Brasil? A gente está numa bagunça. Para mim o mercado da música entrou em crise porque mudou, foi uma transformação. Agora a gente está mudando e conseguindo entender como trabalha esse mercado. Acho que o SIM chega justamente nessa fase em que as coisas estão começando a se organizar para um futuro. O Brasil tem muito potencial, acredito no mercado daqui, não sou pessimista, mas a gente sabe que não está bombando como diz a propaganda feita lá fora.
Mas qual a coisa boa desse mercado aqui no país? A boa é o clichê da diversidade. Aqui aceitamos vários estilos. Acho que tem um público que é aberto a muita coisa. O problema é que muitas vezes essa informação não chega nesse público. A rádio que a gente tem hoje é comercial, focada nos interesses de grandes corporações e o que chega no público de massa é combinado. A rádio, aqui, não é nichada. Aqui tem uma questão de profissionalismo também, como horário de show. Os shows acontecem de madrugada porque o foco da casa é a venda de cerveja. E o público daqui é muito mal acostumado: todo mundo quer ser VIP. No SIM a gente apostou nessa postura de não dar VIP, porque senão a gente não se sustenta e passa a depender do governo. Nos EUA e na Europa tem dinheiro circulando e isso sustenta muito profissional e artista. Esse tipo de diferença a gente quer discutir aqui. Será que não podemos ter um mercado privado que não dependa de governo? Não que a gente não queira essa grana, mas no Brasil falta opção: só tem dinheiro de patrocínio privado e governo.
Qual sua dica de show do SIM? É mais fácil comprar a credencial que comprar vários ingressos. O Bosco Del Rey é um destaque. Ele tem muita ligação com o pessoal do CSS e do Bonde do Rolê. Ele tem essa ligação com o Brasil por aí e o trabalho dele é incrível. A Owlle, a francesa, está sendo considerada uma nova Florence. A Owlle acho que vai bombar também. O Dead Combo é uma banda portuguesa incrível também. O Nasser também são o novo Soulwax ou o novo LCD Soundsystem. Tem um artista incrível, o Uzig, de Barbados. Ele vai fazer um show meio intervenção. Ele é um virtuose no tambor de aço.
Vai lá: SIM São Paulo
Onde: Bar Riviera, Da Leoni, Baixo, Cine Joia e Praça das Artes
Quando: de 5 a 8/12