Especial 32 anos da Trip: corpo
Selecionamos as imagens, ideias, reportagens e personagens que refletem a visão da Trip para a máquina mais complexa que existe, o corpo humano
Neste ano, em que celebramos o 32º aniversário da Trip, decidimos selecionar imagens, ideias, reportagens e personagens que, ao longo dessas décadas, traduzem com graça nossos temas de interesse e nos ajudam a clarear o olhar da revista para o mundo.
São 12 os pilares que fundamentam nosso projeto editorial: Corpo, Alimentação, Trabalho, Sono, Teto, Saber, Liberdade, Biosfera, Conexão, Diversidade, Acolhimento e Desprendimento. Foi um mergulho prazeroso e profundo em nossa história.
Todo este conteúdo foi acrescido de informações e novas entrevistas com personagens que protagonizaram passagens importantes da trajetória da Trip. Seguimos sempre em frente.
2012
#214 | Tema: Masculinidade
Homem de fases
Por Bruno Torturra Nogueira
Thammy Miranda ficou famosa aos 16 anos, quando surgiu como bailarina nos shows da mãe. Magra, mas cheia de curvas, cabelão no meio das costas. E caprichando no rebolado que seu nome artístico, Thammy Gretchen, evoca. Em dois tempos a moça prometia ser uma sucessora à altura da mãe nos anos 80. Só um problema: Thammy não gostava nada do papel de princesa do bumbum. É que, desde pequena, gostava mais de olhar para as meninas do que se portar como uma. No meio de uma turnê, por conta de mensagens de celular, sua mãe descobriu o segredo de Thammy. Estava tendo um caso com uma mulher. E com súplicas, broncas, orações e porradas tentou trazer sua filha para o lado hétero da força. O resultado? Nenhum. “Eu me olhava no espelho e não gostava. Era como se eu tivesse nascido errada”, conta.
Todos queriam mais imagens da Thammy de cabelo curto, tingido de loiro, tatuada, com roupas de menino e desfilando com a namorada. Depois de um mês de silêncio, resolveu contar tudo na TV. Saiu do armário. Foram horas e horas de programas de auditório debatendo sua vida, sua sexualidade. Mas, Thammy, você se sente um homem? “Eu acho que, se considerar como eu sou internamente, eu deveria ter nascido homem, sim”, admite. Mas você queria ser homem? “Sou muito feliz do jeito que sou...Se bem que eu podia ser um negão. Pelo menos eu ia ter um pintão!” E desembesta a rir, dizendo que, no fundo, não lhe falta nada.
Aparentemente em paz, Thammy está cada vez mais realizada em seu conturbado projeto de ser quem ela sente que é. E já planeja o futuro. “Quero ser mãe.” Mãe, mas um pouco pai... já que a barriga vai ser a da namorada.
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E agora?
Em 2015, três anos depois da entrevista, Thammy se percebeu um homem trans. Começou o tratamento com hormônios, fez uma cirurgia para remoção dos seios e se entendeu com a identidade masculina. “Foi a maior descoberta da minha vida. Sou 100% mais feliz hoje”, conta. Os planos de ter um filho se mantiveram e, em dezembro, a atual namorada de Thammy passará por uma inseminação artificial.
1998 | #62
Old is gold
Por Paulo Lima
A fotógrafa norte-americana Etta Clark passou décadas procurando e registrando os rostos, os modos de vida, os corpos e as ideias de pessoas de mais de 60 anos que descobriram que a saúde e o prazer gerado por ela são os bens mais preciosos que podemos carregar. Em seu livro Growing old is not for sissies (Envelhecer não é para fracos, em tradução livre, 1986), o que se vê são retratos da mais ampla, abrangente e plena felicidade. “Eles não estão preocupados com a estética ou esse negócio de fazer exercício para ter um belo corpo. Os atletas do meu livro têm orgulho por estarem fazendo o que gostam nessa idade”, diz a fotógrafa.
E agora?
Growing old is not for sissies II foi lançado dez anos depois, em 1996. Todos os retratados, tanto no primeiro quanto no segundo livro, já faleceram. “Eu estava no processo de fazer um terceiro quando meu parceiro ficou muito doente e eu perdi o vapor para continuar. Ainda estou fotografando muito, mas principalmente paisagens, com minha câmera digital”, contou Etta à Trip.
1999 | #74
Pelado, pelado
Estilo Lara Gerin
Para que serve uma roupa? Só para cobrir carcaças esquálidas, barriguinhas pançudas, seios rijos, xoxotas peludas, pintos pontudos, ancas arredondadas. Veja as páginas acima e tire suas próprias conclusões.
*Ensaio inspirado no livro Naked New York, de Greg Fiedler
2013
#219 | Tema: Barriga
É tudo uma coisa só
Por Milly Lacombe e Teté Martinho
Atire a primeira pedra quem nunca sentiu um frio na barriga de medo ou teve de sair correndo para o banheiro em uma situação de tensão. Cada uma à sua maneira, as medicinas, filosofias e religiões orientais explicam essa via de mão dupla há milênios. Os japoneses acreditam que é na barriga que se sente, se pensa, se tomam decisões, se guardam segredos; a medicina hindu e a filosofia iogue baseiam-se no sistema de chacras, que relaciona emoções e órgãos.
“A região abdominal é nosso centro de energia. É como se fosse uma segunda mente”, diz a monja Coen. A neurociência concorda: com 100 milhões de neurônios acomodados do esôfago ao ânus – mais do que no resto do sistema nervoso periférico inteiro –, o aparelho digestivo é, de fato, um segundo cérebro. “90% da serotonina não é produzida no cérebro, mas na região do intestino e do fígado”, diz Ricardo Ghelmam, que coordena o Núcleo de Medicina Antroposófica da Unifesp. Para o bem da barriga, é preciso cuidar da cabeça – e vice-versa.