RESPOSTA AOS DETRATORES
CONSELHOS.
As pessoas vivem me aconselhando para que esqueça todo o passado. Querem que eu apague da memória todo sofrimento de mais de 30 anos encarcerado entre frias grades e cinzentas muralhas. Existem aqueles que se dizem até intimidados com o que falo das dores vividas. Sentem como se minha verdade me tornasse duro, implacável e incontrolável. Temem que eu seja capaz de loucuras e isso os ameaça.
Estive pronto a fazer isso assim que me livrei dos portões de ferro que me tangiam. Mas, não. Pensei imediatamente e me revoltei. Toquei o fundo da vida em meu mergulho na dor e jamais poderia esquecer. Não é bom nem ruim, não é possível fazer juízo de valor. Sou eu simplesmente. Nada pode sobreviver à pressão da necessidade, do isolamento e da miséria íntima. Nem o ódio. Tudo se dilui. Tudo que se tem a fazer é não perder a vontade de morrer. Sim porque a vontade de morrer é que faz sobreviver. Não podia ficar me morrendo aos poucos. Sentir minhas emoções fenerecerem, a razão se corromper e a alma se quebrar, embora a vida persistisse em continuar. Queria morrer de forma digna, limpa e escolhida. Talvez um tiro ao tentar escalar a muralha.
A dor, o sofrimento humano, nos fala de um mundo sem heróis verdadeiros. Escrevem aquele que vivenciaram, e eu comprovo com meu testemunho; nas piores circunstâncias, a vida humana fica desprovida de sentido. E, eu sei, ao faltar vontade de viver, o que resta é sofrimento cru e irreversível. Existem coisas, no vórtice avassalador da dor, que um homem não devia viver. E se viver, para ele é melhor morrer que esquecer.
Só posso responder assim aos que me aconselham do alto de suas experiências. Sou o acúmulo do que vivi. O que doeu e fez sofrer é parte vibrante de meu ser. Lamentável para quem se sinta intimidado. Sou e me fiz na dor como qualquer poeta digno desse nome.
Luiz Mendes
03/09/2009.