O luxo de cada um: com Raí e Agnaldo Farias
A Audi perguntou a seis pessoas, entre famosos e anônimos, o que suas áreas de atuação tem de mais valioso na tarefa de transformar o mundo em um lugar melhor para todos. Leia os depoimentos do ex-jogador Raí e do crítico de arte e curador Agnaldo Farias.
Por Carlos Eduardo Freitas e Carla Vianna
“O esporte inspira. Ele socializa, transmite valores, é saudável, trabalha o raciocínio, a disciplina e o foco”, diz o ex-meio-campista Raí Vieira de Oliveira, 46 anos. “Poder praticar esporte é um luxo”, completa. Depois de conquistar a glória nos gramados – foi campeão do mundo pelo São Paulo em 1993 e pelo Brasil na Copa de 1994 –, Raí deixou o futebol em 2000 para dedicar-se à Fundação Gol de Letra.
A ONG fundada em parceria com o também ex-jogador Leonardo em 1998 busca dar outra perspectiva de vida a cerca de 1.300 crianças em comunidades carentes da Vila Albertina (São Paulo) e do Caju (Rio de Janeiro). “O esporte ajuda na formação. Defendo que ele seja integrado às outras formas de conhecimento e educação.” Irmão mais novo de Sócrates, morto em dezembro passado, ambos iniciaram suas carreiras em paralelo aos estudos. Sócrates, depois de parar, se formou em medicina. Raí concluiu o segundo grau. “Minha formação escolar e familiar me deu estabilidade para encarar os momentos difíceis. Mas essa base foi complementada com a educação esportiva”, diz.
“É importante saber construir conquistas coletivas.”Em fevereiro, Raí foi a Londres receber o prêmio Laureus, considerado o Oscar do esporte, que premia os melhores atletas e equipes do ano. Ao lado do tenista sérvio Novak Djokovic e do Barcelona, recebeu o troféu na categoria Good Awards (esporte para o bem) por seu trabalho à frente da fundação. “Saber utilizar o esporte para uma formação cidadã pode ser um grande agregador para conquistas sociais. Com essas duas atividades juntas, teremos um país com seus direitos respeitados, mais saudável e, de quebra, capaz de se tornar uma potência olímpica”, pontua.
Agnaldo Farias
“O grande luxo do nosso tempo é poder dispor do próprio tempo”, diz Agnaldo Farias, crítico de arte e curador. E o que isso tem a ver com o luxo na arte? Tudo: “A obra de arte nos proporciona ver tempos distintos e até viver em tempos distintos”, explica o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo, que assinou as curadorias da Bienal Internacional de São Paulo em 2010, 1996 e 1992. Agnaldo tem viajado por esses tempos que cita de muitas formas, fez inúmeras exposições nas instituições de maior prestígio por aqui. Hoje, coordena a edição 2011-2013 do Rumos Artes Visuais, do Itaú Cultural.
Por conta da tarefa, viajou por todo o país, ajudando a mapear a produção de arte contemporânea, e selecionou mais de cem trabalhos de 45 artistas entre 1.770 projetos inscritos. E, por isso, afi rma ainda ligando tempo e arte: “Hoje em dia temos o tempo que nos é imposto. Nosso tempo é dos outros, do trabalho, da família, dos amigos”, diz. Segundo ele, a arte amplia nosso tempo tanto por meio do devaneio, de experiências, como por meio de viagens do espírito. Muito da arte contemporânea que foi exibida no Brasil nos últimos 20 anos teve o carimbo de Agnaldo.
O que ele gostaria de compartilhar com o público brasileiro? O artista belga David Claerbout. “Adoraria realizar uma grande exposição sobre sua obra, seria uma aula sobre tempo e pontos de vista”, conta. Claerbout mistura cinema com fotografi a.“Com uma mesma cena ele produz por volta de 15 mil imagens diferentes”, explica. Mas o que, em sua opinião, o Brasil não pode se dar ao luxo de negligenciar é o estímulo à produção e difusão de arte. “O país está errado ao tratar arte como entretenimento”, diz. “A qualidade da arte se mede pela capacidade de produzir perguntas, evocar dúvidas.”