As pessoas, quando me conhecem, meio que impactadas pelas minhas realidades, fazem sempre a mesma pergunta. Como consegui suportar mais de 30 anos de prisão sem enlouquecer? Respondo o mesmo de sempre. Não foi porque enfrentei, bati de frente, ou briguei muito pelos meus direitos. Comecei assim e isso não deu certo. Por muito pouco não sucumbi.
O que deu realmente certo e me trouxe até aqui, foi a capacidade que desenvolvi de resistir a toda e qualquer adversidade que se abatesse sobre mim. A resistência para suportar as piores torturas físicas e mentais em silêncio. A construção de uma autocrítica que me tirou do centro do mundo e me livrou de qualquer ilusão quanto a mim mesmo. A condição de observador que me deu condições de aprender com tudo que me ferisse ou magoasse. A imensa luta diária para transformar ansiedade em invenção e criatividade. Os livros que me trouxeram ideias inéditas, novas culturas e novas maneiras de lidar com o mundo e as pessoas. As pessoas que me trouxeram os livros e, principalmente gastaram o tempo delas me convencendo que ler era o caminho. As pessoas novamente, que me trouxeram o amor, a bondade, o interesse pelos outros, pelos cães, pelas árvores, pelas flores, pelo mar e pela vida. As pessoas que me ensinaram a não me acomodar, a não aceitar nada dado sem questionar. As pessoas enfim, que plantaram em mim o ímpeto e o atrevimento de lutar por justiça, igualdade, fraternidade, liberdade e amor para todos.
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