Os roof toppers chegam ao Brasil

Ponta Grossa, Paraná, 2016. Um grupo de escaladores urbanos brasileiros "toca o terror" subindo em prédios, pontes e chaminés no interior paranaense

por Marcos Candido em

As manchetes dos portais gritam: "Polícia procura membros do grupo de escaladores"; "Jovens desafiam a morte". Os telejornais estão inconformados: "Jovens são acusados de invasão de propriedade".

Desde agosto, o clima de alarde tomou conta da cidade Ponta Grossa, no Paraná. Todos querem saber quem são os 1mprudentes, um grupo que tem escalado em prédios, chaminés e pontes do município com cerca de 300 mil moradores no interior paranaense. Até a polícia foi acionada para ir ao encalço deles. "Vamos acompanhar as páginas das redes sociais onde isso é divulgado para avançar no inquérito policial", diz o delegado Flávio Zanin, responsável pela busca.

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Mesmo que a imprensa local e as autoridades não conseguiam compreender, os escaladores da cidade são membros de uma comunidade mundial de exploradores urbanos: os roof toopers. Com pouco ou nenhum equipamento de segurança, os toppers sobem em pontes, monumentos e prédios em busca de um bom vídeo para lançar na internet. A modalidade é famosa na Rússia e Ucrânia, mas também há representantes em regiões como Ásia e América do Norte.

Como os estrangeiros, os brasileiros também ultrapassam tapumes, escalam em andaimes e entram, às vezes, em terrenos sem permissão. Mas enquanto no exterior escaladores possuem até patrocinadores, o conjunto tupiniquim sofre com represálias da polícia, sob acusações que vão de invasão de propriedade a incitação ao crime. "Por ser algo novo por aqui, as pessoas enxergam o que fazemos de forma errada", diz João Pedro, de 20 anos, membro do 1mprudentes. "Nunca incentivamos as pessoas a executarem essas acrobacias, nós só divulgamos nosso esporte radical", defende. 

Crédito: Divulgação

Os 1mprudentes (nome escolhido após serem chamados de imprudentes no noticiário local) é formado por cinco jovens que já se encontravam em uma praça no centro de Ponta Grossa para treinar parkour e calistenia. A primeira escalada foi em uma passarela. Com o tempo, aumentaram o desafio para alcançar os 120 metros de altura em uma torre abandonada, sem equipamento de segurança. "Se usássemos proteção, faríamos o que qualquer um pode fazer", explica Marlon Prado, de 18 anos. "Nós treinamos todos os dias, mas não para acertar a subida, e sim para nunca haver a mínima possibilidade de erro."

Nenhum praticante é obrigado a ir ao cume de um prédio. Ir a esses picos altíssimos e fazer acrobacias arriscadas, entretanto, alavanca a popularidade de um topper na internet. Os russos Vitaly Rasklaov e Vadim Makhorov, uma das duplas de toppers mais famosas no YouTube, possuem 6 milhões de visualizações com um vídeo gravado no alto da Shanghai Tower, centro financeiro de 630 metros de altura na China, segundo maior prédio do mundo (o canal tem mais de 85 milhões de visualizações no total).

Uma outra dupla usou drones para filmar uma topper de biquíni a dezenas de metros de altura. Seguindo a tendência, em setembro os 1mprudentes se fantasiaram de Esquadrão Suicida para o vídeo que se tornou o mais acessado do canal. O grupo brasileiro, ainda pequeno, possui quase 140 mil visualizações no YouTube e 1.325 inscritos.

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A busca intensa pela fama já contabiliza mortes. No ano passado, Andrey R., de 17 anos, morreu ao cair do nono andar de um prédio na Rússia — os registros do jovem ainda ilustram seu perfil com mais de 4 mil seguidores do Instagram. No Réveillon de 2015, um topper também morreu ao tentar fotografar uma boa imagem de Nova York durante a queima de fogos. O número de casos pode se tornar maior, mas o 1mprudentes não temem se tornar estatística. "A adrenalina e o preparo psicológico tiram o medo", explica Marlon.

Crédito: YouTube

Segundo o documentarista Darren Lovell, diretor de Urbex: enter at your own risk, toppers se arriscam para tentar sair do marasmo cotidiano, em uma experiência que vai além da fama. "Com as fotos tiradas lá de cima, eles querem que você se apaixone pela sua própria cidade ou querem mostrar que o cenário com o qual você sempre sonhou está bem próximo", afirma. Enquanto a coleção de boas fotos, fãs e intimações policiais aumenta, os 1mprudentes prometem continuar com o esporte radical das alturas.

Créditos

Imagem principal: Divulgação/1mprudentes

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