Especial 32 anos de Trip: Teto

Selecionamos as imagens, reportagens e personagens que refletem nossa visão sobre a importância do abrigo, do conforto e da dignidade

por Redação em

Neste ano, em que celebramos o 32º aniversário da Trip, decidimos selecionar imagens, ideias, reportagens e personagens que, ao longo dessas décadas, traduzem com graça nossos temas de interesse e nos ajudam a clarear o olhar da revista para o mundo.

São 12 os pilares que fundamentam nosso projeto editorial: Corpo, Alimentação, Trabalho, Sono, Teto, Saber, Liberdade, Biosfera, Conexão, Diversidade, Acolhimento e Desprendimento. Foi um mergulho prazeroso e profundo em nossa história.

Todo este conteúdo foi acrescido de informações e novas entrevistas com personagens que protagonizaram passagens importantes da trajetória da Trip. Seguimos sempre em frente.

A saga de 10 irmãos que dividiam um apartamento de 54 metros quadrados e o ofício de levantar prédios na Construsouza

2006

#144 | Tema: Espaço e urbanismo

Festa no apê

Por Carolina Cassiano | Foto de Guilherme Young

Seis homens e quatro mulheres se espremem entre sala, dois quartos com um beliche e um triliche, cozinha e o único banheiro da casa. A irmã mais jovem, quase adolescente, tem 19 anos; o mais velho tem o dobro. Vieram da roça, da zona rural de Braúna, a 520 quilômetros de São Paulo. Bem-vindo ao mundo dos Souza, dez irmãos que moram num apê de 54 metros quadrados no centro de São Paulo. Eles são donos de uma construtora – a Construsouza – e levantam prédios inteiros no braço.

Paulo [o irmão mais velho] saiu de Braúna aos 21 anos para morar com um tio, pedreiro, em Guarulhos. Em dois anos, ele aprendeu a colocar revestimento, a levantar parede, a fazer pintura. “Descobri, rápido, que amava este serviço”, conta. Foi tanto serviço que começou a chamar os irmãos, que tinham ficado na roça, para morar e trabalhar com ele. Veio João, veio Joaquim, veio José, veio Pedro e até Luzia. Paulo ensinou um por um. Depois da reforma, que eles mesmos fizeram, os seis passaram a dividir 54 metros quadrados. Passavam um baita aperto. De espaço, não de dinheiro. No ano em que João se juntou a Paulo, eles trabalharam tanto que folgaram apenas seis dos 365 dias.

E agora?

Eles não dividem mais o mesmo teto. Com o passar dos anos, cada irmão seguiu seu caminho. “Aconteceu muita coisa! O pessoal foi casando e saindo do apartamento”, conta Lucilene, 33, uma das irmãs mais novas, que hoje trabalha na área de tecnologia da informação. O primeiro foi Paulo, que passou a trabalhar sozinho, construindo e alugando casas. “Ele tem umas seis”, conta ela. Ao lado de Pedro, Joaquim – que se formou em engenharia civil – fez o mesmo, com o nome da Construsouza. “Hoje, têm 16 casas alugadas e uns cinco funcionários.” Luzia e João voltaram para o interior. José passou em concurso público, é engenheiro civil dos Correios e não encara mais fila pra tomar banho.

A narrativa do projeto de cidade da Disney, concebida como um lugar futurista e realizada como uma pacata comunidade

2006

#144 | Tema: Espaço e urbanismo

A felicidade mora aqui?

Texto e foto de Bruno Torturra Nogueira, de Celebration, Flórida

A Highway 192 corta Orlando em uma apoteose de lojas, minigolfes e colossais anúncios explodindo em neon. Acontece que em uma das saídas, na cidade de Kissimmee, a velocidade-limite cai para menos da metade e algo mágico acontece: desaparecem os logos e a pista muda de nome – Celebration Avenue, a avenida principal do “melhor lugar do mundo”.

Celebration [na Flórida, a 30 minutos de Orlando] foi criada em 1994 meticulosamente para fazer seus moradores mais felizes. Claro que dentro do que a Disney entende por felicidade. Uma cidade sem edifícios, sem velocidade e nostálgica. A procura foi tanta que a empresa sorteou quem teria o direito a morar ali. Paga-se para ter o direito de disputar. Dois proprietários são bem conhecidos dos brasileiros: Silvio Santos e Jorge Ben Jor.

Após estabelecer os padrões, criar as tradições, os feriados e as “leis”, e depois de receber seus dólares dos terrenos e casas, a Disney vai pular fora. Até porque nunca quis fazer de Celebration uma “cidade temática”. Walt, o pai do Mickey, queria criar uma cidade futurista (veja box), quase oposta à comunidade que a empresa de fato planejou.

E agora?

Celebration permanece uma comunidade de aproximadamente 10 mil habitantes e mais de 4.300 residências.

Mas orgulhoso mesmo Walt Disney ficaria da central de energia solar com capacidade de acionar dois parques do Walt Disney Resort (Flórida), que deve entrar em operação até o fim deste ano.

O casamento da professora Maria da Hora, 1,22 m, com o taxista Toinho, 1,35 m, foi um acontecimento em Itabaianinha

2008

#168 | Tema: Teto

Ah não!

Por Arthur Veríssimo | Foto de Nelson Mello

Conhecida como a cidade dos anões, Itabaianinha, encravada na região sul de Sergipe, é o local que possui mais casos de nanismo no mundo. Vamos aos números: o Brasil tem em média um anão para cada 10 mil habitantes. Em Itabaianinha, com 80 anões entre seus 32 mil moradores, o índice é 25 vezes maior. Esses dados atraíram pesquisadores e médicos da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal de Sergipe. Mas foram cientistas americanos da Universidade John Hopkins que primeiro detectaram a razão do problema: uma mutação genética no fator liberador do hormônio de crescimento (GH).

Com o isolamento geográfico que transforma vilarejos em espécies de ilhas e os casamentos consanguíneos (primos e primas, tios e sobrinhas) tão comuns em certas regiões do Nordeste brasileiro, o índice de nanismo explodiu em Itabaianinha, gerando um grupo de pessoas com altura entre 1,05 m e 1,35 m.

 A mutação existe na cidade, mas é muito diferente da dos filmes e novelas de mutantes. Nessas plagas, só existem pessoas querendo viver com dignidade e sem preconceito, em uma realidade marcada por grandes desafios e dificuldades.

E agora?

Itabaianinha não perdeu o trono e segue conhecida como a cidade dos anões. Ela cresceu (hoje são 41.684 mil habitantes, segundo o IBGE), mas estima-se que o número de anões segue estável.

O taxista José Nilson Viana, conhecido como cigano, decidiu trocar as quatro paredes pelas quatro portas e vive em seu carro há 15 anos

2010

#185 | Tema: Dá para ser feliz na cidade?

Motor home

Por Laura Artigas e Danilo Verpa | Fotos de Letícia Moreira e Danilo Verpa

Aos 55 anos [em 2010], José Nilson Viana trabalha como motorista de praça há 27. Há três anos está em um ponto de táxi na rua Barão de Limeira, no centro de São Paulo. Morar no carro aconteceu em 1995, quando a sua esposa expulsou-o de casa, com direito a arremesso de mala pela janela. “A  primeira noite no banco de motorista inclinado foi difíicil, mas, uma semana depois, a decisão definitiva foi tomada.”  

E agora?

José casou-se em 2014 e foi morar em Guarulhos. ”Mas sinto saudade da vida louca”. Seu ponto ainda é na Barão de Limeira.

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