Uma revista que só cobre os fatos depois de todo mundo

Já ouviu falar de "slow Journalism"? Os caras da revista Delayed Gratification elevaram o conceito às últimas consequências

por Renan Dissenha Fagundes em

 

Rob Orchad, editor da revista que pratica o tal 'slow journalism' - Crédito: Divulgação

Em um jornalismo dominado por um fluxo incessante de informações, em que ser o primeiro a dar uma notícia — mais do que a qualidade — é o principal objetivo, o britânico Rob Orchard (foto) resolveu dar um passo para trás. Há quatro anos, fundou a revista Delayed Gratification, que segue o princípio do slow journalism: publicada apenas quatro vezes por ano, oferece reportagens sobre as principais notícias dos últimos três meses. (O título da revista significa "gratificação adiada", o ato de deixar um prazer para depois.)

"Há uma parede de informação imensa que chega até nós 24 horas por dia e é demais para nos mantermos por cima", afirma Orchard, que hoje é diretor editorial na The Slow Journalism Company, empresa que publica a Delayed Gratification. "Há muita necessidade de fazer curadoria de notícias — cortar todos os ruídos, absurdos e trivialidades que gastam tempo, trazendo aos leitores as histórias que importam." Para isso, a revista expande a cobertura de fatos marcantes, recupera histórias que foram esquecidas pelo público e tem orgulho de ser a "última a dar as notícias".

O termo slow journalism, claro, é inspirado nas outras correntes do slow movement — o slow food e o slow travel são os mais famosos. A semelhança entre essas propostas, seja cozinhar ou viajar, e o jornalismo da Delayed Gratification, explica Orchard, é a ideia de ter tempo, seja para produzir ou para ler algo de qualidade. A quantidade absurda de notícias na internet, por outro lado, "pode comer o seu tempo, deixá-lo ansioso e tornar muito mais difícil para você sentar e se concentrar".

Orchard é otimista em relação ao futuro do slow journalism como um movimento. "Quanto mais as pessoas se desiludirem com notícias inspiradas pelo Twitter, que dizem o que está acontecendo em vez de o que as coisas significam, mais publicações e organizações vão aparecer em torno dessa ideia", diz. "Será sempre um nicho, mas pode fornecer um antídoto útil e nutritivo para a atual configuração da mídia."

Vai lá slow-journalism.com

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