Pensa Rápido, com Marcius Melhem

A Trip convidou um time seleto de humoristas para uma sabatina com Marcius Melhem, ator e colega de Marcelo Adnet em "Tá No Ar" e de Leandro Hassum em "Os Caras de Pau"

por Redação em

O humorista da Globo que tira sarro da própria emissora. O comediante que você já deve ter visto de terno e gravata, peruca, barriga falsa ou turbante em rede nacional. A pedido da Trip, o ator Marcius Melhem, de Tá no ar e Os caras de pau, responde a perguntas enviadas por profissionais do riso, da TV e da internet. Esse time seleto de comediantes quer saber de Melhem: Como é trabalhar na maior rede de televisão do país? É possível fazer humor popular de alto nível no Brasil? As respostas para estas e outras dúvidas você confere abaixo.


Marcelo Tas: 

Tem um pessoal das antigas que insiste em dizer que é impossível fazer programa de TV que seja ao mesmo tempo inovador e popular. Se você discorda, conta aí como faz isso. Eu discordo. Esse raciocínio embute o preconceito de que o povo não é capaz de entender algo inteligente, e parte do pressuposto que, para cair no gosto da maior parte dos brasileiros, o humor tem que se nivelar por baixo e vir todo mastigadinho. Quem diz que o povo não entende piada é que não entende o povo.

Por que você tem esse corte de cabelo "caroço de manga chupada"? Tá escondendo a rebeldia da sua juba ou falta coragem de adotar de vez o meu penteado? [Risos] Meu cabelo só permite dois cortes: alto e baixo. É ruim de fábrica. Mas como é muito cheio, acho que não imitarei seu famoso corte, meu ídolo Marcelo Tas. 

Melhem em esquete de 'Tá no ar' - Crédito: Divulgação

Tom Cavalcante: 

Amigo, como segredo não tem gaveta, queria que você explicasse aos seus milhares de fãs se a ideia de acrescentar a letra “S” no final do seu nome, originalmente “Marcio”, foi uma atitude tomada após você se tornar um grande comediante na criação de dezenas de tipos ao longo da sua carreira. [Risos] Tom, se fosse por isso, você teria que ter uns duzentos “esses” - um pra cada um dos seus tipos maravilhosos. Esse nome [Marcius] é ideia da minha mãe, que achava que combinava melhor com Vinicius. Sim, eu sou Marcius Vinicius.

Até que ponto o bruxo que habita em você influencia e interfere na aparência dos seus companheiros de trabalho? Primeiro foi o [Leandro] Hassum que emagreceu rapidamente só para te imitar. Agora [Marcelo] Adnet nos apresenta uma cópia robusta de suas sobrancelhas. Hassum realmente está me imitando [risos]. Vou ter que engordar pra voltar com a dupla. Mas as sobrancelhas do Adnet não são culpa minha. São nossa dupla homenagem ao mestre Chico Anysio.

E por último, o Adnet e o Hassum estão ricos como você? Bem mais.


Nelito Fernandes, do Sensacionalista:

TV aberta fazendo humor de vanguarda, TV fechada visitando formatos consagrados. O que você acha desse fenômeno? Sinceramente, não sei julgar – e não quero julgar – se há ou não um movimento claro nesta ou naquela direção. Posso dizer que, na Globo, onde trabalho, eu faço parte de uma turma que está buscando um caminho de conexão com as questões cotidianas das pessoas. É por aí que queremos caminhos. Sem julgar se outros meios são melhores ou piores: é apenas o caminho que escolhemos.

Marcius Melhem em 'Tá no ar' - Crédito: Divulgação

O que o moleque de Nilópolis diria ao Marcius Melhem de hoje? Sem falsa modéstia, acho que eu honro aquele moleque. Ele só queria brincar pra sempre. E eu me sinto fazendo isso.

Depois de assumir dois projetos de sucesso, você não gostaria de assumir que ficou com inveja do novo corpo do Hassum? [Risos] Não troco um corpo magro, original de fábrica, por um recauchutado. 


João Kleber:

Marcius, com você vê a enxurrada de “humoristas” fazendo stand-up comedy no Brasil? O stand-up é um movimento que, dada a dificuldade de se produzir teatro, proporcionou uma abertura democrática para que comediantes pudessem subir ao palco. Afinal, você não precisa de cenário, figurino, quase nada. Como todo boom, trouxe muita gente com qualidade e sem qualidade. Foi uma corrida do ouro. Acho que vivemos agora um segundo momento, em que começam a ficar realmente os atores e saindo de cena os que só eram desinibidos ou caras de pau.

“Quem diz que o povo não entende piada é que não entende o povo”
Marcius Melhem

Eu iniciei minha carreira na Rede Globo como roteirista de humor no programa Planeta dos Homens e, já naquela época, havia uma carência de redatores. Hoje, na sua opinião, ainda existe esta carência? Existe. Ainda é muito difícil encontrar redatores de humor profissionais. Tem que garimpar, descobrir, treinar os novos, e saber atrair os já preparados. Mas ainda são poucos os que são tecnicamente bons em todas as etapas (criação, construção, diálogos, punch). Ao longo do tempo, dei muita sorte em conseguir ter sempre boas equipes. Hoje, no Zorra e no Tá no Ar, trabalho com gente muito boa, que admiro profundamente. É um sonho pegar uma cena e pensar “eu mesmo não faria esse texto tão bom”.

Você  não acha que o Brasil já é um país de piada pronta? Com certeza. A realidade é tão absurda que nos supera. A gente tem que se esforçar pra surpreender um povo acostumado com as maiores insanidades todos os dias.

Melhem em divulgação do novo 'Zorra total' - Crédito: Divulgação

Rafucko: 

Você já deixou de fazer uma piada por conta do lugar que trabalha (Globo) ou seus patrocinadores? Nunca. Nosso critério é que a crítica venha com humor. Se acharmos a piada ideal, fazemos qualquer crítica, inclusive à própria Globo.

Já sofreu censura externa ou interna? Qual? Nunca sofremos censura. Todas as nossas ideias passaram. O que fazemos, para riqueza do processo, é discutir sempre a melhor forma de atingir o objetivo daquela sátira, encontrando a melhor forma de chegar a esse objetivo. Pra nós, nada é proibido, nada é sagrado. A única espada na cabeça de qualquer criador se chama “classificação indicativa”, que é algo imposto pelo Governo Federal, que classifica a seu bel prazer, sem participação de nenhum autor, ou artista, o que deve ser visto, de que forma e em qual horário. Essa é a censura disfarçada desse país. Internamente só tivemos apoio e interlocução.


Rodrigo Fernandes, do Jacaré Banguela

Marcius, você começou fazendo humor no teatro, com a platéia rindo e aplaudindo a piada na hora que ela foi contata. Como você sabe que a piada é engraçada na TV, sem plateia pra rir? Nós temos muitas plateias até uma piada ir ao ar. A mesa de criação, a equipe na hora da leitura, os técnicos no estúdio, os editores, o pessoal de pós-produção… E diferentemente do teatro, o processo da televisão nos permite ajustar tempo, refazer, dublar, cortar, aumentar, até ficar bom. No teatro, se eu errar o tempo, errei, vamos pra próxima.

Melhem como Seu Boneco na nova 'Escolinha do professor Raimundo', 2015 - Crédito: Divulgação

Qual personagem foi mais difícil de imitar: Seu Boneco na nova Escolinha do professor Raimundo ou a Velha Surda d'A praça é nossaOs dois foram muito complicados porque são imitações de tipos consagrados por outros atores. Eu estudei muito, me concentrei muito, pra fazer com o máximo de respeito e honrar as criações do Lug de Paula e do Rony Rios. Essa profissão é tão doida que me permitiu no mesmo ano fazer Escolinha do professor Raimundo e A praça é nossa, dois programas fundamentais na história do humor. Isso junto com o Tá no ar. Ou seja: não tem essa de humor velho ou novo. Existe o humor, a turma do humor, da qual eu me orgulho de fazer parte.

Créditos

Com produção de Marcos Candido (Repórter)

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