A sustentável leveza do ser
A educação não é só na casa ou na escola – também existe na rua, no parquinho, na mesa do bar e no farol vermelho
Eu sei que muitos acreditam firmemente no lema que diz que uma educação boa começa em casa, com pais fortes e educados que deixam um espaço seguro e saudável para as crianças se descobrirem como seres humanos. Mas isso também dá muito espaço para abrir mão da responsabilidade pela comunidade, de não se responsabilizar pela criança sem casa, ou pela criança com uma casa precária, ou mesmo até com uma casa que poderia ser muito boa, mas em que a mãe trabalha dez horas por dia e ainda pega quatro horas de busão para ir e voltar e não sobra mais tempo para nada. A educação não é só na casa ou na escola – também existe na rua, no parquinho, na mesa do bar e no farol vermelho.
Estão faltando tantas educações. A educação de ser civil, de ser civil com os empregados, de ser civil com os que têm menos. A educação do corpo, de aprender como se faz não só para aceitar os nossos corpos, mas também como achar o prazer fundamental em viver dentro da nossa pele, o trabalho diário da força, e de sentir algo mais agudo no corpo que temos e que conseguimos construir. O trabalho diário da gentileza. O trabalho de compartilhar, e o trabalho de proporcionar a beleza, a beleza profunda, a todos. O trabalho de fazer mais do que só sobreviver.
A Tereza Perez, uma das maiores cabeças na educação brasileira que conheço, me escreveu uma carta outro dia em que ela me disse: “O convívio, os modelos de relacionamento, o reconhecimento do conhecimento como valor de transformação, o aprender a lidar com as diferenças, a respeitar, a argumentar, a cuidar de si e do outro, a esperar, a se comprometer consigo e com o grupo, a não mentir, a exercer a empatia, o diálogo. Pode ser nesse mesmo espaço que também se aprende o desrespeito, a violência, a dissimulação, a injustiça. Educar é fazer escolhas”.
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Pensei muito em como eu ia ilustrar a minha coluna este mês, pois um bumbum talvez não fosse apropriado para este tema, e decidi que nada mais justo do que mostrar uma das pessoas que a Tereza mais educou neste mundo, o Luiz, o filho dela.
Tenho muita sorte de poder chamar o Luiz de amigo. Tenho sorte por alguém que foi educado por uma mulher tão sábia estar tão presente na minha vida. Ele me mostra através das suas pequenas escolhas diárias o quanto uma educação mais ampla pode proporcionar a um homem. Também tenho muita sorte por tal homem educado ir atrás de mim na Bahia para carregar meus equipamentos e levantar as bailarinas por aí.
Obrigada, Tereza.
Mês que vem voltaremos a ter bumbum.
Créditos
Imagem principal: Autumn Sonnichsen