Nunca fomos tão ansiosos?
A tecnologia deu novos tons ao problema da ansiedade, tão antigo quanto o ser humano. O que podemos fazer para não sucumbir às neuroses do século 21 – começando por entender como chegamos aqui
O sinal de visto, diz-se, foi inventado pelos romanos: era um "v", a princípio, de veritas, verdade em latim. Em outra hipótese, veio da letra grega nu, também sinalizada com um "v", significando a palavra nikas, vencer. (Keith Houston, autor do livro Shady Characters, prefere a primeira explicação.) Nos dois casos, era colocado ao lado de listas para sinalizar mais ou menos o que significa hoje: está correto; este item foi verificado.
Em 2014, porém, o WhatsApp, aplicativo de mensagens mais popular do planeta (são 600 milhões de usuários ativos), resolveu dar um novo sentido à referida marcação. Antes, na lógica do app, um único sinal avisava que a mensagem fora enviada, e dois que ela havia sido entregue — enviada para o servidor, entregue no aparelho, sem ação humana. Com uma dimensão mais social e, talvez, metafísica, a novidade era o sinal duplo em azul: ele apareceria depois que a mensagem fosse LIDA pelo interlocutor. Saberíamos assim exatamente o momento em que a pessoa do outro lado entrou em contato com aquele "Oi, tudo bem, vai fazer o que hoje?". Assim, o sinal, antes inofensivo, transformou-se numa espécie de marca da ansiedade e da paranoia: "minha mensagem foi vista, a resposta não chega, o que isso pode significar?".
A mudança foi bastante comentada (antes, o Facebook também havia inserido uma ferramenta semelhante no seu serviço de mensagens) e virou piada — na melhor delas, o sinal indica que Deus viu, porém escolheu não responder a sua prece.
Experiência presente
"Não tem problema você consultar o seu celular, não tem problema você ter drone de selfie, pau de selfie", afirma o psicólogo Cristiano Nabuco, coordenador do grupo de dependências tecnológicas do Instituto de Psiquiatria da USP. "O grande ponto é quando você começa a perder a mão e a ser afastado por um tipo de comportamento social em que você deixa de questionar o quanto aquilo te faria bem ou não." Nabuco acredita que, no caso da internet e dos smartphones, a ansiedade é um elemento secundário e o uso de tecnologia faz mais sentido dentro da família de patologias de transtorno do controle dos impulsos, que inclui jogo patológico, sexo patológico, compra compulsiva, entre outros.
Impulso é uma palavra que vem à mente ao saber do resultado de uma pesquisa da agência de marketing Tecmark que conclui que o usuário médio verifica o celular aproximadamente 1.500 vezes por semana, 3 horas e 16 minutos por dia.
Deixados sem celular, quase quatro em dez usuários se sentem perdidos. Muitos olham e-mail ou entram no Facebook sem ao menos pensar no que estão fazendo. Não é de se admirar que as pessoas acordem de madrugada para olhar se as mensagens foram respondidas. "A grande preocupação é que você não está de consciência presente em lugar nenhum mais", ele diz. "Se você perde contato com a experiência presente, essa saída de você mesmo é muito ruim."
Há uma certa preocupação com o futuro da humanidade também. No livro The big disconnect: protecting childhood and family relationships in the digital age, a psicóloga americana Catherine Steiner-Adair argumenta que podemos criar uma geração de viciados em tecnologia: tablets e outros gadgtes substituíram a vida familiar.
"A tecnologia transformou a forma como nos conectamos com a família e amigos à distância e como gerimos o fluxo do trabalho e da família", anota Steiner-Adair. "Porém nós sabemos que há um lado escuro lá. Pesquisas mostram efeitos prejudiciais sobre o cérebro em desenvolvimento, a aprendizagem precoce e desenvolvimento emocional. Sabemos que o entretenimento e a cultura on-line são de muitas maneiras antissociais e humilhantes e que as crianças têm acesso muito fácil a eles."
O fato é: a ansiedade de uma mensagem lida e não respondida veio se somar a outras tantas com que convivemos no século 21. São tantas que, temos certeza, nunca ninguém foi tão ansioso. Mas, afinal, o que é ansiedade? Será que somos realmente mais ansiosos hoje em dia? Como reconhecer a ansiedade e procurar formas de mantê-la sob controle, desacelerar?
Condição humana
Se é fácil reconhecer o sentimento de ansiedade — tensão, preocupações abstratas, medo de situações sociais, o coração batendo rápido, a respiração acelerada —, explicar de fato o quadro não é tão simples.
Parente do medo, a diferença da ansiedade seria, na definição que o psicanalista austríaco Sigmund Freud propôs, a falta de um objeto concreto. Um medo sem causa identificável. Foi Freud quem abriu caminho para o entendimento moderno que temos do fenômeno, mas não foi ali que a ansiedade nasceu.
Com outros nomes, o sentimento atravessa toda a história da civilização, quase sempre em conjunto com a depressão. Na Grécia Antiga, há 2.500 anos, Hipócrates associava esses sentimentos aos humores da bílis negra, mélas cholé. O que hoje classificamos de ansiedade já foi chamado de melancolia, histeria, nervosismo, neurose. Ansiedade, a palavra, tem pouco mais de cem anos (vem do alemão Angst). Como diagnóstico clínico, o transtorno de ansiedade tem pouco mais de 30.
"Enfrentar e compreender a ansiedade é, em certo sentido, enfrentar e compreender a condição humana", afirma o jornalista americano Scott Stossel no livro Meus tempos de ansiedade (Companhia das Letras), lançado no Brasil no fim de 2014. Misturando relatos pessoais — Stossel sofre de transtorno de ansiedade desde a infância — com informações científicas, filosóficas, históricas e literárias, o relato dá um panorama bastante amplo dessa condição, tão humana, que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, são os distúrbios de ansiedade as doenças mentais mais comuns do planeta. Mas a ansiedade em si, diz Stossel, não é uma doença (a não ser quando é muito forte, crônica, patológica). Antes, é um mecanismo de defesa já presente na fisiologia de outros animais vertebrados. Biologicamente, pelo menos, tanto em ratos quanto em humanos a origem do medo é a mesma: em duas estruturas do cérebro chamadas amígdalas.
Em 1872, Charles Darwin (ele mesmo um ansioso) argumentou no livro A expressão das emoções no homem e nos animais que algumas emoções primitivas foram perpetuadas entre as espécies ao longo de milhares de anos de evolução, como o medo, que é uma resposta automática do organismo ao perigo. Tais emoções de "lutar ou fugir" foram importantes na evolução das espécies. Pense em um animal selvagem, ou em um dos nossos ancestrais pré-históricos. Uma escolha correta na reação de luta ou fuga pode ser essencial para a sobrevivência. Com o tempo, conforme fomos nos civilizando, as ocasiões de perigo real (proximidade de predadores) diminuíram, mas a emoção primitiva continuou (mensagens lidas e não respondidas). Eis a ansiedade: quando uma resposta fisiológica ao medo não é acompanhada de um objeto real de perigo.
Filosofia cura
Mas nem tudo é tão simples (se é que podemos chamar isso de simples). Embora hoje estejamos inclinados para o lado das pesquisas científicas, a causa específica da ansiedade ainda é motivo de discussões diversas. O debate remonta, mais uma vez, à Grécia antiga. Na teoria de Hipócrates (e para Aristóteles depois) o problema da bile negra era biológico, médico: a reposição de humores seria o tratamento adequado. "Já Platão e seus seguidores acreditavam que a vida psíquica era autônoma em relação à fisiologia e discordavam da ideia de que a ansiedade ou a melancolia tinham uma base orgânica no corpo", escreve Stossel. O tratamento, nesse caso, seria filosófico.
A oposição segue, nos dias de hoje, entre as modernas psicofarmacologia e terapia cognitivo-comportamental. E há ainda muitas outras visões: a ansiedade seria causada por problemas psicológicos para os seguidores de Freud, seria um estado espiritual para o filósofo Soren Kierkegaard e os existencialistas, seria um produto cultural da modernidade para Albert Camus, W. H. Auden e outros escritores e comentaristas do século 20. Todos tentando buscando afirmar algo sobre esse misterioso cruzamento entre "função da biologia e da filosofia, do corpo e da mente, do instinto e da razão, da personalidade e da cultura".
Sempre fomos ansiosos
"Considerei que estávamos, como sempre, no fim dos tempos", afirma o narrador de Jorge Luis Borges no conto A escritura de Deus. Levando em conta esse traço fatalista da mente humana, de se considerar sempre no fim dos tempos, é natural que, já há alguns séculos, pelo menos desde que a Revolução Industrial e o Iluminismo colocaram a noção de progresso — seja ele econômico, social, tecnológico — no centro da civilização, gerações sucessivas se achem a mais ansiosa da história (ou a mais nervosa, ou a mais melancólica, dependendo da nomenclatura em voga).
Stossel cita o britânico Edwin Lee, que em 1838 escreveu: "As queixas nervosas predominam nos dias atuais numa proporção nunca vista em qualquer outro período". Thomas Trotter, também britânico, em 1807, comentou: "No começo do século 19, não hesitamos em afirmar que os distúrbios nervosos podem agora chegar a dois terços do total daquilo que aflige a sociedade civilizada".
O século 20 foi pródigo nisso. O medo da aniquilação nuclear, as destruições causadas por duas guerras mundiais, o rápido avanço tecnológico, mudanças sociais bruscas, o aumento das liberdades individuais, crises econômicas: tudo contribuiu para a certeza de que jamais, na história da humanidade, havíamos sido assim tão neuróticos. Canalizando as incertezas do mundo de seu tempo, em 1947 o escritor anglo-americano W. H. Auden escreveu um longo poema, em seis partes, que lhe renderia o Pulitzer no ano seguinte. O título: "A era da ansiedade". O poema é pouco lido, é verdade, mas o título se tornou quase um clichê, um marco na repetição incessante de que agora sim, mais do que antes, chegamos à era da ansiedade. ("Se sentir ansioso se tornou parte da nossa condição contemporânea", afirma a organização do Anxiety, festival de artes dedicado à ansiedade realizado em 2014 em Londres.)
O que não quer dizer, claro, que o nível de ansiedade não tenha realmente aumentado nas últimas décadas, pelo menos em números e estatísticas. No Brasil, de acordo com dados do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 23% da população — mais de 40 milhões de pessoas — vai experimentar em algum momento da vida algum tipo de distúrbio de ansiedade (além da ansiedade generalizada, fobias, síndrome do pânico e transtorno obsessivo-compulsivo também estão no pacote). Ansiedade patológica é parte da vida de 18% da população dos Estados Unidos, e o número continua aumentando. Uma pesquisa da University of Queensland, na Austrália, feita com pessoas de 91 países, aponta que uma em cada 13 pessoas sofre com ansiedade no planeta.
Além do fato de que temos mais pesquisas e dados estatísticos que em épocas anteriores, não se pode perder de vista, também, que hoje temos mais tratamentos (mais remédios, mais pressão da indústria farmacêutica), e muitos mais diagnósticos para ansiedade do que há poucas décadas. Por exemplo: o transtorno de ansiedade social, que inclui medo de falar em público, no telefone, e fobia de atividades sociais como reuniões, festas, entrevistas de emprego e até pavor de vendedores, não existia oficialmente nas definições psiquiátricas até a década de 1980. Hoje, o número de pacientes com o transtorno é de dezenas de milhões. "O que explica essa explosão do transtorno na imaginação popular?", escreve Stossel. "Em essência, um único fato: a aprovação do Paxil, pela Food and Drug Administration (FDA), para o tratamento de fobia social em 1999." Venda e receitas foram impulsionadas por uma campanha publicitária e o remédio logo se tornou um dos mais vendidos entre americanos.
Existe, no fim, alguma era da ansiedade? Para Stossel, não. "Tentar comparar de forma direta os patamares de ansiedade de eras diferentes é causa perdida", ele afirma. "Os seres humanos sempre foram e sempre serão ansiosos. Uma proporção mais ou menos constante de nós sempre foi mais ansiosa que os demais." Ao que tudo indica, ele conclui, a ansiedade é parte permanente da condição humana.
Cães salivando
Claro que a própria condição humana não é imutável. Se os problemas da humanidade na época em que Freud conceituou sua "angst" eram bem diferentes da Idade Média, por exemplo, hoje também já não são exatamente os mesmos. Alguns são constantes, como a fragilidade econômica, principalmente depois da última crise mundial. Outros, mais recentes: o medo do aquecimento global, por exemplo, ou o terrorismo. Mas é um outro, já previsto e criticado por Auden em seu poema, que define a experiência atual de ansiedade (a experiência do dia dia, não a patológica): a tecnologia.
Para Larry Rosen, professor de psicologia da California State University, Dominguez Hills, e autor do livro iDisorder, "com certeza" a velocidade das inovações tecnológicas nos fez mais ansioso.
"A maioria dessas inovações inclui alguma forma de comunicação eletrônica, e nós nos sentimos como se tivéssemos a obrigação de checá-las o tempo todo ou as pessoas não serão felizes", Rosen afirma, por e-mail. "Isso é porque nós, com a ajuda do telefone que carregamos o tempo todo, criamos o hábito de responder às comunicações eletrônicas da mesma maneira que os cães de Pavlov respondem ao barulho do sino: antecipando algo bom." Para os cachorros da famosa experiência behaviorista era a promessa de comida que os fazia salivar ao som do sino; para nós, é a promessa de comunicação digital ao som das notificações do smartphone — por isso o desespero quando vemos o sinal de "lido" e não somos respondidos. Como escreveu Melissa Fares no Daily Beast: a sociedade contemporânea nos presenteou com uma fobia potencialmente tão forte como acrofobia, ou o medo de voar: a ansiedade de smartphone.
Prova da má influência dos smartphones é o surgimento, recente, de algumas tentativas de conceituar sensações e neuroses atuais. A mais famosa é o Fomo, sigla em inglês para fear of missing out, ou "medo de perder algo". Ronaldo Lemos explicou assim em uma coluna recente na Folha de S.Paulo: "A todo momento temos de decidir qual é o ‘custo de oportunidade’ de fazer alguma coisa e não outra. E lidar com a sensação de que a decisão pode ter sido errada". O Fomo tem pouco mais de dois anos e já deu origem a várias outras siglas, como Fobo, o medo de ficar off-line. "Eu não tenho certeza de que chamaria de medo, isso é muito forte", diz Rosen. "Mas Aomo (ansiedade de perder algo) seria mais preciso. Também penso que Fobo (ou melhor, Aobo, mantendo que ficamos ansiosos e não cheios de medo) é razoável. Veja o que acontece quando o wi-fi é desligado: todo mundo se estressa!"
A fronteira final
Rosen descreve um experimento que realizou com 200 estudantes universitários, em que a eles não era permitido fazer nada, inclusive usar os celulares, por mais de 1 hora. Aqueles que eram usuários constantes de smartphones demonstraram um aumento de ansiedade durante todo o tempo lá (usuários médios tiveram um aumento de ansiedade nos primeiros 10 minutos, mas os níveis se estabilizaram depois).
Um estudo da Universidade de Missouri publicado em janeiro mostra que a ansiedade de separação que uma pessoa sente quando, por exemplo, esquece o smartphone em casa, afeta suas habilidades cognitivas. "Os resultados do nosso estudo sugerem que iPhones são capazes de se tornar uma extensão de nós mesmos de tal forma que, quando separados, experimentamos uma diminuição do ‘eu’ e um estado fisiológico negativo", afirma Russel Clayton, principal autor da pesquisa.
De acordo com o estudo, há poucas pesquisas sobre o impacto do uso de smartphone, especificamente sobre o que acontece quando os usuários são privados de seus telefones. Há alguns anos estávamos preocupados com a dependência de internet, com a quantidade de tempo que as pessoas passavam on-line. Hoje, esse tempo é praticamente igual ao tempo em que as pessoas estão acordadas, pelo menos em potencialidade: estamos conectados o tempo todo. Menos quando estamos dormindo.
Por enquanto. No livro 24/7: capitalismo tardio e os fins do sono (Cosac Naify), o acadêmico americano Jonathan Crary argumenta que a cultura tecnológica do fim do século 20 e começo do 21 nos pressiona para que estejamos em atividade constante, sem pausas. O sono seria, assim, o último reduto de uma vida hiperconectada e consumista.
O smartphone exemplifica um dos argumentos de Crary: o de uma experiência uniformizada, mas fragmentada, que não gera sentido de comunidade. "A televisão foi apenas o primeiro de toda uma categoria de aparelhos que hoje nos rodeiam e são usados na maioria das vezes segundo poderosos padrões de hábito que envolvem atenção difusa e semiautomatismo", ele escreve.
Para Crary, a dificuldade de transição para o mundo real depois de um longo período imerso em um ambiente televiso ou digital cria um isolamento digital que torna irrelevantes comunicações no espaço público. Ao mesmo tempo, exacerba uma das ansiedades mais antigas da humanidade: o medo da morte.
"Temos uma intuição fugaz da disparidade entre nosso sentimento de conectividade eletrônica ilimitada e os limites duradouros do corpo e da finitude física." Esses momentos de transição não eram comuns, mas ficam cada vez mais evidentes devido à popularização dos aparelhos tecnológicos portáteis (smartphones e tablets) e ao uso que fazemos deles. No fim, a tecnologia invadirá até o sono.
Saber parar
Fato é que vivemos em uma época complexa. Se até o sono, o momento do repouso por excelência, está ameaçado, o que podemos fazer? A reposta, em muitos casos, como com soníferos contra a insônia, tem sido o uso de medicamentos. Para quem sofre de formas patológicas de ansiedade, às vezes é a única solução. Para o cotidiano, para os momentos de ansiedade da vida comum, que não são poucos, a solução pode ser muito mais simples, óbvia até: diminuir o ritmo, usar as tecnologias de forma racional e controlada.
Algumas das sugestões para tal são clássicas, milenares. Ioga. Meditação. Técnicas de respiração. Dicas como as que Leo Babauta dá no site Zen Habits (a mais recente: "imponha-se limites, não se entregue completamente ao excesso do mundo".) O site da Aporta, Associação dos Portadores de Transtorno de Ansiedade, cita um "kit de ferramentas para lidar com ansiedade", criado pela psicóloga Lilian Lerner de Castro. São seis princípios: 1) auto-observação; 2) desafio aos pensamentos; 3) mudança de comportamento; 4) técnicas de respiração e relaxamento; 5) sono de qualidade; 6) alimentação adequada e exercício físico.
Não é muito diferente do tratamento recomendado por Robert Burton no livro A anatomia da melancolia, de 1621. "O tratamento que ele prescreve pode ser resumido em praticar exercícios regularmente, jogar xadrez, tomar banho, ler livros, ouvir música, usar laxantes, comer bem, praticar sexo com moderação e, acima de tudo, se ocupar", escreve Scott Stossel. "Recorrendo aos conhecimentos de epicuristas e estoicos (e, do Oriente, dos budistas), ele aconselha moderação da ambição e aceitação do que se tem como chave da felicidade."
Outras sugestões têm nomes mais modernos, mas nem por isso deixam de ter um pé no clássico: a terceira medida, de Ariana Huffington e técnicas de detox digital — ficar um tempo longe de aparelhos eletrônicos com a intenção de desintoxicar, diminuir o vício. Larry Rosen não acredita na eficácia do detox digital por si só. "Você pode ir para as montanhas por um fim de semana sem tecnologia, mas na volta a ansiedade de lidar com todas as mensagens e comunicações é intensa", ele afirma. "Uma maneira melhor é usar princípios comportamentais e afastar-se do hábito de verificar o celular constantemente."
Ele ensina a técnica do tech break, ou intervalo de tecnologia: comece condicionando-se a checar o smartphone apenas a cada 15 minutos, depois aumente para 20, 30, ou mais (a média é a cada 6,5 minutos, ou 150 vezes por dia). Outra dica de Rosen: a cada 90 minutos de uso de tecnologia, faça um pausa de 10 para acalmar o cérebro. Exercícios, meditação, caminhar, ouvir música e olhar obras de arte, obviamente, são algumas das sugestões para o tempo livre. (Há até quem use a própria tecnologia para diminuir o ritmo de uso da tecnologia: aplicativos e gadgets que ajudam a dormir melhor, ou que bloqueiam o uso de outros aplicativos.)
O grande interesse popular nessas ideias e em outras, como do movimento slow (do slow food ao slow travel, passando por slow living e slow school e outros, o que esse movimento busca criar é uma experiência mais conectada com o mundo a sua volta, e não com a internet), mostra como há um cansaço da velocidade da vida moderna. E da velocidade das cidades também: levando em conta a quantidade de compartilhamentos que notícias de pessoas que largaram a cidade e foram para o campo ganham nas redes sociais, há toda uma forma contemporânea de arcadismo no ar (fugere urbem, diziam os poetas árcades, carpe diem). Talvez não precisemos ir tão longe — e virar pastores. Podemos aprender a parar e não simplesmente aceitar o ritmo da tecnologia. Por exemplo: você que parou para ler este texto todo. Quanto à ansiedade, ela vai continuar existindo, e é preciso lidar com isso. Parar para pensar sobre já é o passo mais importante. E talvez deixar para depois essa mensagem do WhatsApp.