Agora sim, São Paulo tem um festival.
Festival Planeta terra mostra como se organiza um festival
Após o traumático e desorganizado Tim Festival, ficou a desconfiança: será que alguém tem a capacidade de realizar um festival decente na cidade de São Paulo?
Foi nesse clima que o público recebeu o Festival Planeta Terra. O local escolhido, Villa dos Galpões, desconhecido para o mais paulistano dos paulistanos, surpreendeu a todos. A escalação, que ia desde as novas Lucy and the Popsonics e Supercordas até clássicas e “hypadas” como Devo e Cansei de Ser Sexy, foi dividida no espaço gigantesco que abrigava vários galpões (onde foram montados os palcos), botando muito indie pra torrar as solas de seus AllStar.
Com uma pontualidade incrível – que chegou a irritar aqueles que queriam cumprir a tarefa impossível de ver todos os shows na íntegra – o Supercordas (RJ) deu início à maratona de shows no Main Stage, com seu rock lisérgico, que contou até com a participação de Tatá Aeroplano, do Jumbo Elektro.
O casal brasiliense Lucy and the Popsonicsmostrou que é possível estourar os tímpanos da platéia apenas usando do artifício guitarra (Pil Popsonic), baixo (Fernanda Popsonic) e Lucy (a bateria eletrônica e líder da banda). Platéia surpresa e uma empolgação extrema da vocalista Fernanda, que distribuiu doces e beijos para os mais sortudos que estavam na primeira fila do Indie Stage
Lucy and the Popsonics - "Coração Empacotado"
Após uma acalmada nos ouvidos com o show do Pato Fu (MG), foi a vez de os canadenses do Tokyo Police Club mostrarem as músicas do seu EP A Lesson in Crime. Um belo show, regado de muito rock, para ninguém sair do festival reclamando que a maioria das bandas só utilizava elementos eletrônicos misturados na guitarra.
Tokyo Police Club - “Elephant Shell”
A noite dava o tom do festival quando o Instituto – embalado na onda de “bandas-cantam/tocam-alguma-outra-banda-famosa” – subiu ao Main Stage para tocar Tim Maia Racional. Bnegão, Negra Li e Carlos Dafé até se esforçaram e seguraram a onda, mas a fila de pessoas comprando cerveja aumentou significantemente.
Terminado o show, dá-lhe correria para chegar ao Indie Stage, onde os noruegueses do Datarock botaram todo mundo pra dançar de verdade. O hit preferido das pistas indies paulistanas, “Fa-Fa-Fa”, incendiou o já lotado galpão. Pra finalizar a festa norueguesa, o momento Dirty Dancing, com o clássico “(I’ve had) the Time of my Life”.
Datarock - "Fa-Fa-Fa"
Datarock - "(I´ve had) the Time of my Life
Enquanto isso, os ajustes de som de Lily Allen provocaram mais uma correria da platéia. Com uma banda de apoio de responsa, a inglesa porra-louca mostrou a que veio: encher a cara e esquecer as letras no palco. Entre um deslize e outro, Lily pedia desculpas ao público, o que não evitou algumas sonoras vaias.
Sorte de quem aproveitou para sair no meio do show e correr para ver os paulistas do Cansei de Ser Sexy. Após quase dois anos fora do país, o grupo queimou a língua de boa parte do público, que esperava um fracasso do grupo. Adriano Cintra e sua trupe mostraram que o CSS aprendeu a tocar, a cantar e a dominar o público, coisa que muita banda brasileira acha que faz direito. A vocalista Lovefoxx não conseguia esconder a empolgação de estar de volta aos palcos brasileiros.
Cansei de Ser Sexy - Alcohol
Na seqüência, a mais ingrata das escalações: The Rapture no Indie Stage e Devo no Mainstage. A solução foi perder o início da primeira e o final da segunda. Enquanto os senhores do Devo ensandeciam a platéia com “Satisfaction”, “Whip it” e “We are Devo”, o The Rapture beirava a insanidade com uma seqüência matadora de “Whoo! Alright. Yeah... Uh Hu” e “The House of Jealous Lovers”. Até o mais doente do pé conseguiu dar uma dançadinha.
The Rapture - The House of Jealous Lovers
Devo - Whip it
Após esse corre-corre, ficou pequeno para o Kasabianencerrar o festival. O público ainda enchia o Main Stage, mas todas as energias já estavam consumidas pelos dois últimos shows. Ah, para não esquecer, ainda tinha a tenda eletrônica, lotada o tempo todo. Para quem achou insuportável a falta de respeito executada pelos organizadores do Tim Festival, a única reclamação sobre o Festival Planeta Terra foi: acabou cedo demais. Mas aí é reclamar demais, né?