A privação sempre traz reflexão

por Luiz Alberto Mendes em

Mulheres

(este foi meu 1º texto publicado na Trip em outubro de 2002)
          

Há algum tempo cultivo opinião que todo homem deveria ficar preso pelo menos algum tempo. Radical? Talvez...

Nós temos as mulheres conosco desde que nascemos. Elas são nossas mães e nos amam. Nascemos delas, somos quase extensão de seus corpos, a elas estamos ligados pôr laços indissolúveis. Nem a morte nos separa delas. Continuarão vivas em nossos corações.

São nossas irmãs; pedaço considerável de nossos corações. Amadas ou detestáveis esposas. Companheiras de existência, anjos ou malditas bruxas. Estão conosco na alegria ou na tristeza, ou pelo menos tinham que estar. São também nossas filhas, esses seres inteiramente encantados que nos enchem a alma de alegria e... Preocupações.

Estamos habituados a elas. Rotulamos de mãe, irmã, esposa, filha, etc. e nos iludimos pensando sabê-las. Sequer desconfiamos o quanto são fundamentais à nossas existências.

Preso, convivendo somente com machos, o homem passa a valorizar a importância da mulher em sua vida. Dai porque de minha afirmativa do início.

Ficamos estúpidos e mal cuidados quanto abandonados a nós mesmos. Porque cuidar? Homens medonhos, com barbas grisalhas por fazer, corpos musculosos ou gordos, suados e horríveis nos cercam. Vozes grossas e rascantes. Gestos rústicos e maneiras grosseiras, difíceis de tolerar.

Presos, passamos a sentir a necessidade vital que temos das mulheres. Os detalhes assumem importâncias extraordinárias. Coisas que simplesmente não nos dávamos conta, agora assumem valor desproporcional. A cultura feminina é arte milenar, onde o homem pode encontrar o que tanto procura e não sabe.

A voz da mulher é harmoniosa, assim tendendo para o agudo e o adocicado. Os gestos femininos têm ritmo, uma disposição para enfeitar e criar belezas, naturalmente. É só observar uma mulher de saia sentar para entender o que estou dizendo. É um não mostrar já mostrando. Pura arte. Uma cultura de gênero que as tornam fascinantes, maravilhosas. Seus sorrisos estão sempre abertos, iluminando suas presenças. Seus rostos, pôr mais exóticos ou mesmo sem atrativos, ainda assim não são feios. Sempre há alguma graça, um olhar, um modo diferente de encantar. Frescuras, dengos, caprichos, são elementos da magia feminina que carecemos sem saber. A opinião delas é sempre mais prática, mais próxima ao cotidiano da existência. Nós completa.

Prisão sempre foi espaço de brutalidade e estupidez. Quando as mulheres começaram a adentrar nas celas, a prisão começou a se humanizar. A humanização dos presídios esta diretamente proporcional à conquista de espaço das mulheres neles.

O homem aprisionado, apartado dessas grandezas; distante das delícias e preocupações que envolvem sua contrapartida feminina passa a valorizar o universo feminino qual fosse o maior tesouro do mundo.

Continuo radical? Pois bem, aqueles que discordam, por favor, não se zanguem comigo; é apenas uma analogia. Aqueles que entendem o que expresso, pôr favor, não esperem ser presos para amarem as participantes femininas de seu vôo existencial. Façam isso agora, garanto que vale a pena.

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Luiz Mendes

12\09\2001.

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