A História de um Homem Mau

por Luiz Alberto Mendes em

 ARREPENDIMENTO

O que se ganha com tudo isso de dor e tristeza na vida? Acabo de assistir filme que me responde: tudo o que pudermos aprender. A história versa sobre jovem que, por razões políticas, na Espanha, mata três pessoas e vai preso. A sua terceira vítima, um policial já baleado e indefeso, pede que não o mate. Tem filhos e esposa para sustentar. Ele o mata, implacavelmente.

Vai sofrer agruras da prisão especial destinada aos “CEs” (Condenados Especiais – prisão perpétua). É um homem que se fecha em convicções e ama a dor de sofrer pelo que considera verdadeiro. Os guardas da prisão o torturam quase que diariamente. Ele se fecha para guardas ou diretores: acumula ódio para sobreviver de raiva.

Uma enfermeira inicia tratamento de curativos diários em suas costas açoitadas, cheias de feridas. Ela apaixona-se pela coragem com que o sujeito suporta o massacre que esta sendo submetido. Alguns fazem o que querem. Outros, o que podem. Mas somente os que têm coragem fazem o que devem, ouvi dizer. Ela denuncia aquela prática desumana e o preso é removido para uma instituição menos opressiva. Nesse processo, ele fica conhecendo os três filhos dela. Naturalmente se apaixonam e querem virar família.

O preso ganha novo alento. Começa a pintar e seus quadros têm boa aceitação. A vida parece caminhar para a pacificação. Um de seus amigos em busca de fuga esconde arma dentro de uma de suas latas de tinta. Os guardas encontram. Em castigo, é removido para prisão de regime duro, onde seu sonho de família parecem se acabar.

O sofrimento é aterrador e é então que ele começa a pensar que não tem direito de formar família. Remete-se ao policial que pediu pela vida em nome de sua família e ele o matou. Arrepende-se amargamente ao perceber na carne o quanto significava a família para sua vítima.

E eu, exatamente nesse momento, também entrei em parafuso. Também eu matei um guarda. Sempre soube que ele tinha família. Jamais acreditei que os mais de 30 anos de prisão que cumpri, pagasse a estupidez de meu ato. Sempre que vem à mente, penso nos filhos de minha vítima: o que terá acontecido com eles? Sei de minha responsabilidade sobre isso e a assumo inteiramente. Mas jamais me ocorreu que porque impedi esse homem de continuar sua família, me fosse negado ter a minha. E agora, depois de assistir este filme, essa dor se abateu sobre mim com uma violência tão louca que fiquei caidão.

Tentei construir família, casei e tenho dois filhos pequenos. Mas estou separado há anos, desde antes haver sido libertado da prisão. Sai cheio de vontade de encontrar alguém para amar, ser feliz e construir família. Agora, depois de 7 anos, começo a perder a esperança e já nem procuro mais. Todas as tentativas deram em nada. Talvez eu vá ficar sozinho exatamente porque não mereço amar, ser amado ou ser feliz. Diante das circunstâncias, dá para pensar isso, ou não?

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Luiz Mendes

12/06/2011.                    

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