É preciso optar

por Luiz Alberto Mendes em

Opção

 

Escrever para mim é como respirar, fazer-me presente no mundo.

É como uma pulsação nervosa que me enche de apreensões, insatisfações e pequenas realizações.

Romper com tudo o que precede ou que vem a seguir.

Querer algo muito maior que apenas viver.

Escrevendo faço a contracultura do cotidiano, desabafo, e vou bater de frente contra tudo o que me fere.

Empreendo minha vida, protagonizo-me e quero ser em dobro. Quando sento para escrever há sempre uma noção de liberdade. De escapar de mim, de meu individualismo, de minha mesquinharia e de todas minhas fraquezas humanas.

Sou ideal escrevendo, não mais o mesmo de sempre; sou o que quero ser.

Talvez pensem que seja fuga, mas não, é apenas um exercício daquilo que vou vir a ser.

Conceituo porque penso e o que me interessa é o homem, com suas contradições, erros de julgamento, ingenuidades e sua absurda alienação.

Marcuse dizia que não devemos aceitar nada que nos for dado sem questionar profundamente.

Ao analisar, tenho pena, mas, antes de mais nada é preciso levar em conta o que as move.

Porque tanto egoísmo, porque tanto preconceito e tanta covardia? Porque é tão fácil manipular, levar as pessoas a pensar o que queremos?

Falta de filosofia nas escolas, ensino que dirija uma pessoa à outra e que partilhar é muitas vezes mais produtivo que amealhar.

Outro dia disse em poesia que essa é uma vida para profissionais na arte e no projeto de viver.

Vestir-se como dandi, mas sem deixar de ser Gandhi.

Ter coragem para se arremessar no vazio, naquilo que ainda não aconteceu, o inaugural.

Nesse território do relativo além das grades das certezas, onde não há o que se tornar.

Além das neuroses obsessivas que infestam os noticiários. Vivemos como se fôssemos eternos, embora tentemos provar o oposto.

Cheios de sabedoria tentamos compreender o mundo.

Esquecidos que compreender é reduzir às nossas dimensões humanas.

Tendemos sempre a antropomorfizar e, desencantados, usamos as derrotas como alavancas ao que nos move.

A esperança se torna nossa maior grandeza e nossa maior derrota. Porque, sob essa aparência de compreensão e entendimento, estamos completamente fora de nosso controle.

Por isso escrevo como quem cantarola distraidamente, do mesmo jeito que bate meu coração.

Quero escrever mais e ando aborrecido porque não vou mais ter tempo, minha sede é maior que o tempo que disponho.

Falar é pouco e meu projeto de vida exige de mim mais que posso oferecer.

Tudo é imenso e eu não basto a mim mesmo.

Por isso opto pela outra pessoa, essa vida que se manifesta independente de mim.

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Luiz Mendes

13/11/2014.

 

 

 

 

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