Lixo no lugar certo

Eles buscam o lixo na fonte para encaminhar à reciclagem e registram catadores pela CLT, valorizando os trabalhadores que sofrem com a invisibilidade

apresentado por Ambev

Depois de trabalhar por uma década na indústria de consumo na área de marketing e vendas, Rodrigo Oliveira sentiu que precisava fazer algo para mudar a situação socioambiental do mundo. Foi quando começou a trabalhar em uma empresa familiar de engenharia com a destinação de resíduos, através de projetos de aterros sanitários e usinas, por exemplo.

Ao acompanhar o processo de descarte e também durante visitas a aterros sanitários, duas coisas marcaram Rodrigo fortemente. A primeira era ver material de boa qualidade sendo enterrado. A segunda era ver catadores naquele lugar insalubre, sem nenhum tipo de proteção, tentando caçar materiais para sobreviver.

“Percebi que eles acabam sendo escravos da fome. Afinal, precisam vender um material que está no lixo para conseguir um valor mínimo que garante sua sobrevivência. Sentia um desconforto e uma indignação muito grandes com essa situação”, conta.

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 Formado em administração de empresas, Rodrigo decidiu fazer um mestrado de sustentabilidade pela FGV. Ao conhecer os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS – conseguiu entender o papel de cada um no que diz respeito ao ciclo de consumo e descarte. Ao lado de dois sócios, resolveu abrir uma empresa que usasse a tecnologia para criar um mercado mais sustentável.

Assim nascia a Green Mining, startup de logística reversa inteligente. Ou seja, para recuperar embalagens pós-consumo de forma eficiente e levá-las novamente para o ciclo de produção, usa o blockchain, um sistema de rastreabilidade, que garante que todo material coletado seja enviado para a reciclagem.

Adriano Leite, Rodrigo Oliveira e Leandro Metropolo, sócios da Green Mining no Hub Pinheiros - Crédito: Divulgação

Olhar humano

A empresa só trabalha com coletores registrados em carteira assinada e para diminuir a emissão de CO2, utiliza veículos não motorizados para realizar as coletas, como triciclos. “É uma solução que traz equilíbrio para todo o processo. Todas as partes ganham, desde o meio ambiente, até a indústria e os próprios catadores, que terão sua atividade formalizada”, diz Rodrigo.

O programa Reciclar para Capacitar, da Prefeitura de São Paulo, treinou mais de 2 mil catadores cooperados da cidade. O administrador se associou ao programa para conseguir mão de obra apta para fazer parte da Green Mining. Hoje são 35 coletores registrados e, segundo ele, isso promove uma verdadeira mudança para a vida dos trabalhadores da reciclagem.

Esses trabalhadores se dividem em 19 hubs, que atendem bairros no Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo. Junto com a Aceleradora 100 +, da Cervejaria Ambev, o plano é ter cem hubs em 2020 e duzentos em 2021. “Tudo isso num processo contínuo de coleta de materiais com a realização dessa mão de obra”, conta Rodrigo. 

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Colocar esses trabalhadores na luz é fazer com que a indústria se responsabilize pelos elos iniciais da cadeia. Enquanto existem mais de 1 milhão de catadores e cooperados trabalhando de maneira informal na reciclagem e mão de obra infantil nas coletas que acontecem em lixão, Rodrigo quer mostrar a possibilidade e a oportunidade de mudança que existe.

“A gente não pode trabalhar com uma mão de obra explorada, certo? A rastreabilidade que a gente dá no sistema com o blockchain dá garantia total de que 620 bares, restaurantes, condomínios e hotéis que a gente coleta material tenham mão de obra CLT. Os catadores são tão importantes que merecem, no mínimo, o que a legislação rege em trabalho. Apenas reconhecer é permitir que esses trabalhadores continuem sendo explorados. Precisamos olhar para essas pessoas como olhamos para qualquer outro profissional”, diz.

Colaboradores da Green Mining no Hub Pinheiros, o primeiro lançado em São Paulo - Crédito: Divulgação

Caminho sem volta

Desde 2010, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos regulamenta a obrigação de direcionar os resíduos industriais para a reciclagem, mas Rodrigo acredita que a logística reversa só é uma solução viável se feita de maneira economicamente eficiente. Portanto, soluções econômicas aproximam a indústria da sustentabilidade, atendendo às necessidades do meio ambiente e do lado financeiro de cada empresa.

“A Green Mining tem uma solução que atende de forma plena o chamado tripé de sustentabilidade. Coletamos material direto da fonte e encaminhamos para a reciclagem, assim reduzimos a extração de material virgem, a emissão de gás carbônico e nosso pilar de sustentação é totalmente social. Desta maneira, conseguimos dar uma eficiência econômica”, analisa Rodrigo.

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Para medir a quantidade de CO2 evitada na atmosfera com o trabalho da coleta, cada coletor ganha um smartphone para inserir as informações de seu trabalho e, graças ao blockchain, os dados vão direto para o site. Além disso, para coletar o material direto da fonte, a empresa comunica os bares pessoalmente para que todo resíduo seja segregado antes de ser encaminhado para a reciclagem.

“É um caminho sem volta. Hoje minha missão é trazer solução para o meio ambiente, respeitando todo mundo que faz parte desse processo e priorizando um ecossistema positivo socioambientalmente. Acordar e saber que vou trabalhar com propósito é muito grandioso”, finaliza Rodrigo.

Créditos

Imagem principal: Hobi Industri/Unsplash

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