De dobra em dobra, papel dá forma a luz
Arquiteta cria luminárias com dobraduras de papel
Dobrar, plissar e criar diversas formas até dar vida a um objeto de grande utilidade. Assim a arquiteta e designer Mel Kawahara criou uma série de luminárias utilizando papel. As possibilidades de criar novas formas e objetos com essa técnica tão instintiva são gigantes. Afinal, quem nunca se aventurou a fazer um aviãozinho apenas dobrando um papel? Para Mel, a inspiração para as luminárias veio com o trabalho final de graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, em 2013. “Decidi me aprofundar nos experimentos com a manipulação desses materiais e na tridimensionalidade através da dobra”, explica.
As pesquisas seguem até hoje, e a arquiteta se dedica a explorar as formas que se dão através do manuseio de uma simples folha em branco. A geometria das peças é resultado também das dobras, que possibilitam, através da luz, a formação de sombras que desenham o objeto. “Redobrar, vincar e plissar se transformam em operações de descoberta sobre os limites do material. A delicadeza das luminárias procura afinar o olhar e inserir sensibilidade em nosso cotidiano”, acredita Mel. Os nomes das peças fazem referência às origens japonesas da arquiteta — e por falar em Japão, também é fácil recordar dos famosos origamis, a tradicional arte de criar representações de animais e objetos com as dobraduras.
“Minha linguagem é a manipulação do papel”, acredita. A criação das luminárias surge na maioria das vezes através da própria manipulação das folhas, sem escopos anteriores ou um desenho pré-definido. Para pensar em formas, Mel faz pequenas dobraduras, que a ajudam a entender melhor o seu próprio pensamento, assim como o comportamento do papel. Todo esse processo possui um ritmo específico, diferente de um processo de criação industrial. E é exatamente essa a proposta do trabalho de Mel Kawahara, que busca refletir sua essência em sua criação. “No desenvolvimento das peças e nessa descoberta com as mãos, pude encontrar uma forma de me comunicar com o mundo”, finaliza a arquiteta.
Leia abaixo entrevista com Mel.
O que te inspira no seu trabalho?
Desde o início a pesquisa se baseou no uso do papel por ser um material muito presente no nosso cotidiano e que está no nosso imaginário como uma tábula rasa, no qual todos os nossos desejos podem tomar forma através do desenho e da palavra. A ideia era justamente explorar a materialidade dele através de algumas operações, como dobrar; vincar; rasgar e picotar, com o intuito de criar novas formas que alcançassem a tridimensionalidade.
O que mais te atrai em criar com o papel?
O que mais me atrai é pensar que a pesquisa surge de uma operação muito simples e instintiva, como a dobra, sobre um material básico na vida de qualquer um. A ideia é justamente não olhar o papel apenas como uma folha em branco, mas sim como um material que tem em si mesmo inúmeras possibilidades.
Você acha que criar coisas com as mãos atribui um significado diferente para o resultado final?
Claro! A manipulação direta com materiais e a relação do corpo com a matéria te faz perceber todo um universo que não se atinge apenas pelo campo das idéias. Gosto de pensar como um diálogo entre as minhas mãos e o papel. Às vezes a matéria não se comporta como você quer, e entender isso é a grande questão do meu trabalho.
No processo de criação das luminárias, é preciso um tempo, um descompasso diferente de uma produção industrial. Que significado você acha que isso atribui ao resultado final?
O tempo alongado é um fator bem importante, tanto para o meu processo criativo, como também para a produção final das peças. Explorar o comportamento e as possibilidades da matéria exige um tempo diferente, as "respostas" na maioria das vezes não são nem imediatas e nem óbvias.
E esse processo chega a ser meditativo ou introspectivo pra você?
Pensando bem, é sim! É um momento tão particular quando estou dobrando as peças ou desenvolvendo novas formas... Parece que é uma linguagem tão única que tenho dificuldade de compartilhar com as outras pessoas.
Créditos
Texto: Camila Eiroa