Escola: para que serve?

Como a escola aproxima os alunos de seus sonhos? Claudio Sassaki reflete sobre a importância de soluções educacionais acessíveis

por Claudio Sassaki em

Nas últimas semanas, dois filmes me trouxeram reflexões importantes sobre a educação brasileira. O primeiro, o documentário Em frente, produzido pelo grupo Social Good Brasil, do qual participei. São histórias de quatro empreendedores que apostaram em inovação e tecnologia para resolver problemas relevantes que percebiam à sua volta. O segundo, o documentário Nunca me sonharam, longa-metragem de Cacau Rhoden (diretor do também incrível Tarja branca), traz os problemas do ensino médio da rede pública pela perspectiva de seus personagens centrais: os adolescentes.

O primeiro é uma provocação que nos leva a pensar fora da caixa. Ele instiga uma nova cultura, a valorização de novas habilidades – liderança, criatividade, colaboração – e a criação de redes como caminhos para um futuro abundante. O segundo nos traz de volta à realidade: o desafio que temos hoje à frente é urgente, complexo e heterogêneo. Nossos jovens não partem da mesma linha de largada; de alguma forma, porém, ainda esperamos que todos sejam capazes de vencer a corrida.

Em Nunca me sonharam, adolescentes de todas as regiões do Brasil relatam seu relacionamento com a escola: para que serve? O que aprendem? Como ela os aproxima de seus sonhos? Para alguns, esse é um questionamento tão distante que nem merece o esforço do exercício. Em um momento icônico do filme, um menino diz: "Nunca me sonharam médico, nunca me sonharam professor". Então – sem modelos, sem referências e sem expectativas – como esperam que ele ocupe esse lugar? Só mesmo remando muito contra a corrente.

Crédito: Reprodução - Nunca me sonharam

Saí da pré-estreia do documentário com uma inquietação. Cheguei em casa, perguntei à minha filha mais velha, Yasmin, o que ela queria ser quando crescesse. Atriz (há pouco, ela entrou no grupo de teatro da escola). Antes, ela já quis ser psicóloga e escritora. Yasmin tem 9 anos e nenhuma dificuldade em sonhar. Nós sempre dissemos a ela que poderia ser o que quisesse, desde que se dedicasse o suficiente; ela cresceu em um ambiente de oportunidades e acesso à cultura, lazer, educação.

“ Claro, escola particular não é selo de qualidade, nem escola pública é sinônimo de ensino ruim.”
Claudio Sassaki

A Yasmin faz parte dos 18% das crianças e jovens brasileiros atendidos por escolas particulares, contra 82% em escolas públicas. Claro, escola particular não é selo de qualidade, nem escola pública é sinônimo de ensino ruim. Porém, acredito que temos ao menos uma realidade bastante clara: a inovação, a tecnologia, e o olhar para o desenvolvimento integral só estão disponíveis para quem pode pagar um pouco mais por eles. Isso mantém uma sociedade desigual, que vai prejudicar inclusive a minha filha, que teve todas as oportunidades – ela também vai crescer e viver em um mundo mais perigoso e injusto.

Daí a importância de desenvolvermos soluções educacionais acessíveis, trabalho que realizamos na Geekie todos os dias. Encontramos na tecnologia uma forma – existem outras, é claro – de oferecer educação de qualidade para 5 milhões de estudantes das redes pública e privada. Para chegar a esse resultado, pensamos em modelos de negócios que atendam desde o aluno individualmente até a escola ou mesmo uma Secretaria de Educação inteira; cada cenário contemplando seus próprios desafios de acesso e infraestrutura.

Um exemplo de parceria com a rede pública é nosso projeto com a CPFL, o BNDES e secretarias municipais, que cede licenças da Geekie para escolas municipais em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Em 2016, o projeto começou em Araraquara, interior de São Paulo, com 46 escolas e mais de 6,2 mil estudantes atendidos no ensino fundamental 2 e médio. Através de avaliações externas diagnósticas e da nossa plataforma de aprendizagem personalizada, os professores puderam acompanhar e direcionar a turma com base em suas dificuldades. Ao final do ano, quando comparamos as notas do nono ano com as do nono ano de 2015, percebemos um aumento em todas as áreas de conhecimento.

A professora Alessandra de Freitas Eiras, da E. E. Jardim Buscardi, sentiu os efeitos da inovação no fim do segundo semestre. "Por sala, eu costumava ter dez, até 15 alunos em recuperação. Em 2016, tive três alunos no total, com as três salas!", contou. A diretora, Luci Fátima Montezuma, também narrou uma transformação na mentalidade dos alunos mais velhos: "Eles perceberam que um estudo multimídia, direcionado pelas necessidades de cada um, iria contribuir para que fossem melhor no Enem, no vestibular, e fizeram bom uso disso".

Crédito: Reprodução - "Nunca me sonharam

Hoje, as cidades de Botucatu (SP) e Caxias do Sul (RS) estão seguindo o exemplo. Elas são um passo adiante numa trajetória que já completa seis anos: já estivemos em 98% dos municípios do país! Já firmamos parcerias com os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso. Estamos em toda a rede Sesi de ensino médio e Educação de Jovens e Adultos. São milhares de jovens brasileiros recebendo uma oportunidade única de se desenvolver, conquistar novos territórios, quebrar ciclos de desigualdade – é o empreendedorismo como ferramenta para combater injustiças sociais. Quem estuda com a Geekie pode passar no vestibular… Mas também pode ganhar uma chance de sonhar uma nova realidade para si e sua família.

“Quem estuda com a Geekie pode passar no vestibular… Mas também pode ganhar uma chance de sonhar uma nova realidade para si e sua família.”
Claudio Sassaki

É o caso do Kelton Pereira, do interior da Paraíba, que estudou com a Geekie em nossos primeiros anos de vida e hoje é estudante de medicina com bolsa integral. Ele compartilha sua história no documentário Em frente, que convido todos a assistir. E reitera: "O sonho está apenas começando".

 

Créditos

Imagem principal: Reprodução - "Nunca me sonharam"

Arquivado em: Trip Transformadores / Comportamento / Transmissão de pensamento