A rota mais segura
Conheça a história de Priscila Gama, vencedora do prêmio GOL Novos Tempos com o aplicativo Malalai, que mapeia os trajetos mais tranquilos para mulheres
“Para que eu pudesse estar aqui hoje, muitas mulheres passaram por violências. Então, além de agradecer o prêmio, quero manifestar meu desejo de construirmos uma sociedade que permita que pessoas como eu possam passar caminhando, em vez de correndo”, declarou Priscila Gama na entrega do prêmio GOL Novos Tempos, realizada durante a cerimônia do Trip Transformadores.
Criadora da Malalai, plataforma que indica as rotas mais seguras para mulheres, ela foi a ganhadora deste ano. Além de mapear colaborativamente lugares mais iluminados, com assédio recorrente e mandar alerta para contatos, ela revela que está criando ferramentas que acessam a emergência do celular e enviam o alerta sem a necessidade de manusear o aparelho. “Ter que se virar o tempo todo é algo inerente às mulheres e faz parte da minha essência. Isso me deu coragem para criar a Malalai.”
Natural de Ponte Nova, interior de Minas Gerais, Priscila, 36 anos, cresceu em uma família matriarcal. Ela e sua irmã tiveram a oportunidade de cursar faculdade, realização que a mãe e a avó não tiveram. Escolher arquitetura e urbanismo teve a ver com seu gosto pela organização dos espaços, mas algumas implicações do mercado de trabalho trouxeram um pouco de desânimo – e a vontade de empreender cresceu fortemente.
Há perigo na esquina
Quando o site Think Olga lançou a campanha “Meu primeiro assédio”, a arquiteta leu diversos relatos assustadores de mulheres violentadas, principalmente em suas rotas de volta para casa ou em transportes coletivos e compartilhados. O medo de andar nas ruas em determinados horários sempre acompanhou Priscila, que desde muito nova ouvia comentários inapropriados.
O impulso final para fazer algo que mudasse essa realidade veio ao ouvir, por volta das 4 horas da manhã, uma mulher gritando por socorro em sua rua. “Fiquei desesperada, mas, por sorte, havia uma padaria que abriu as portas para acolhê-la”, lembra. Foi aí que Priscila decidiu aliar seu conhecimento à tecnologia para promover mais segurança na mobilidade, principalmente para as mulheres que se locomovem sozinhas. Com a ideia da Malalai posta na mesa, ela se uniu a Henrique Mendes, seu sócio e programador, para pesquisar os fatores que trazem segurança e, juntos, aprenderam a desenvolver aplicativos. Hoje, já são mais de 30 mil downloads, sendo a maior parte deles feita no Sudeste.
Com você ando melhor
Crescendo em um meio onde as mulheres sempre se viraram frente a diversidades, Priscila lembra que sua mãe sempre teve muitos planos que, infelizmente, não puderam ser concretizados – e acabou transferindo-os para as duas filhas. Emocionada durante a noite de premiação, a mineira fez questão de agradecer por essa vivência e de frisar que só estaremos bem de verdade quando todos tiverem condições de viver sem medo.
“Nenhuma mulher anda tranquila sozinha. Aprendemos algumas técnicas que são instintivas, mas precisamos de outras soluções. Chega a dar um conflito, sabe? Eu trabalho em um produto que eu gostaria que não existisse. A gente tem uma grande mudança cultural para fazer. Porém, neste momento, ainda estamos dando um remédio, não a cura. Ainda que a gente tivesse a cidade ideal, mulheres continuariam sendo violentadas em espaços onde não há ninguém vendo”, conclui Priscila.
Sistema coletivo
O app Malalai funciona de forma colaborativa: o usuário fornece detalhes sobre as ruas por onde transita. Pode informar, por exemplo, se há segurança na via, casos de assédio recorrente ou se o trecho é mal iluminado. Ele também pode escolher um contato para acompanhar virtualmente o seu deslocamento e alertar até três pessoas via SMS com o botão de emergência caso sinta algum perigo.
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Créditos
Imagem principal: Pedro Dimitrow
Texto: Camila Eiroa Agradecimentos: Tryp Belo Horizonte Savassi www.wyndhamhotels.com