Vida pós-Globo? Tino Marcos: álcool, CR7 e Neymar
Após deixar a Rede Globo, repórter que cobriu oito copas conversa com o Trip FM sobre o mundo da bola
“O futebol é ainda um ambiente tóxico, mas também neste aspecto a história mostra evolução. É uma luta, um caminho que está sendo percorrido”. Sinônimo de seleção brasileira e de Rede Globo, o respeitadíssimo jornalista esportivo Tino Marcos deixou a maior emissora do país em 2021 após cobrir oito Copas do Mundo e viver — como poucos — os bastidores da bola. Um grande contador de histórias, Tino diz que herdou do pai, um vendedor de móveis e imigrante espanhol que chegou a ser sócio do clube do Real Madrid, a paixão pelo esporte. Da mãe, uma professora que o alfabetizou em casa, veio a habilidade com as palavras.
Em um papo com o Trip FM, o repórter falou de Neymar, do momento da comunicação esportiva no país, da infância e de CR7. "Existe um fenômeno no mundo do futebol que se chama Cristiano Ronaldo. Ele é um divisor de águas na maneira como os jogadores passaram a encarar a preparação e terem hábitos saudáveis. Não é mais aquele tempo em que jogadores chegavam aos treinos embriagados. Lá nos anos 80 eu já questionava a alimentação: toda folga era churrasco e cerveja”.
Confira um trecho da entrevista abaixo ou dê o play no programa completo, que também fica disponível no Spotify.
Trip. Em algum momento você pensou em trabalhar fora do esporte?
Tino Marcos. O que sempre prevaleceu em mim foi um sentimento de gratidão à vida por tudo ter acontecido de maneira muito maior do que eu queria. Nunca pensei em ser um repórter de televisão, muito menos conhecido dessa forma e por tantos anos no ar. Tudo o que eu vivi gerou uma certeza de que era no esporte que eu precisava contribuir, mas tenho a consciência também de que o esporte é um acessório, não é nada central na vida da pessoa, é para entreter e distrair.
O álcool sempre foi normalizado no futebol. Ainda é um problema entre os jogadores? Existe um fenômeno no mundo do futebol que se chama Cristiano Ronaldo: ele é um divisor de águas na maneira como os jogadores passaram a encarar a preparação, com hábitos saudáveis e academia dentro de casa. Não é mais aquele tempo romântico em que jogadores chegavam aos treinos embriagados. Mas o álcool é algo que tem a ver com a essência do futebol, assim como o churrasco. Lá nos anos 80 eu já questionava a alimentação: toda folga era churrasco e cerveja.
O Neymar voltou a ter problemas nos vestiários do PSG. Após tantos anos acompanhando, como você analisa a carreira dele hoje? A média salarial de um jogador profissional no Brasil é de dois salários mínimos. Por aí você vê o que é o universo do trabalhador da bola: a maioria ganha muito pouco. Em geral, eles foram muito pobres e sofridos, o pai apostou muito, comprou uma chuteira e deixou de prover algo para a casa. Todos eles têm essa história em comum. Agora, a história do Neymar é isso de forma exagerada. Com 13 anos ele ganhou o primeiro milhão e já financiava a família. A expectativa em cima dele sempre foi imensa e ele sempre respondeu com superavit, mas aí ele vai ao Paris Saint German e experimenta a frustração pela primeira vez. Estava tudo delineado para ele ser o melhor do mundo, mas muitas decisões equivocadas geraram um desgaste de sua imagem. É uma Ferrari que ainda não alcançou a sua velocidade máxima. Já tem 31 anos, mas ainda tem muito o que acontecer.
Créditos
Imagem principal: Divulgação Globo / Renato Rocha Miranda