Benito di Paula: Música é minha alma, minha fé
Um dos grandes bambas do samba comemora 80 anos de carreira e relembra histórias do passado, fala de grana, família e a relação com a mídia
Um dos grandes bambas do samba, Benito di Paula foi uma espécie de Zeca Pagodinho dos anos 1970 e 1980. Compôs centenas de músicas que se transformaram em sucessos nacionais e internacionais na sua voz e na de outras lendas como Roberto Carlos, Maria Bethânia, o guitarrista Charlie Byrd, Alcione e Orquestra de Paul Mauriat.
Seu programa "Brasil Som 75", na TV Tupi, alcançou audiências monumentais. Benito sempre se apresentou com piano de cauda, e sua indumentária incluía smoking, casaca, bigodão, pulseiras, colares e anéis (continua o mesmo). Muitos o imitaram, mas era difícil ser original como ele. Foi cultuado, criticado, exorcizado e sofreu censura braba porque algumas de suas músicas incomodavam o regime militar. Foi rotulado de brega e cafona por críticos azedos devido ao sucesso da imortal “Charlie Brown”, em que cantava as maravilhas do Brasil.
Aos 80 anos, Benito comemora a carreira com uma série de projetos especiais ao lado do filho Rodrigo Vellozo. Ao Trip FM, ele contou que perdeu 50 milhões de reais, avaliou o seu legado, falou dos tempos em que morou em uma favela do Rio de Janeiro e de quando chegou a fazer quatro shows por noite, entre outras histórias. Leia um trecho abaixo ou ouça o programa completo no play aqui em cima ou no Spotify e Deezer.
Trip. Você foi um dos maiores vendedores de discos do Brasil. Qual foi a época em que você mais fez dinheiro?
Benito di Paula. O dinheiro é o que menos importa. O que importou foi sempre a música. Benito, prega esse botão? Não sei. Benito, frita esse ovo? Não sei. Agora, música é a minha vida, a minha alma, meu espírito e minha fé. Mas eu ganhei muito dinheiro. Minha casa no Morumbi tinha 100 metros quadrados só de sala. Da noite pro dia eu perdi 50 milhões de reais não sei como. Perdi tudo, menos o meu amor pela minha família e, agora, pela minha neta. Vejo hoje que tenho tudo e antes não havia nada. Se alguém me roubou, não levou nada. Se levou, levou azar pra cacete porque roubar cigano da uma zebra danada.
Outro dia você brincou que "era um cara feio que fazia umas musiquinhas mais ou menos". Deixando a piada de lado, qual você acha que foi o seu legado para a música? Deixar um legado é fazer um trabalho verdadeiro e além de muito popular, de coração. Trabalhar para a sua família. Trabalhe para a sua família que você não vai ter tempo de fazer nada errado. A vida é fé, amar a todos de verdade como irmãos. Você pode ser traído, mas ame. Maior do que o amor não existe.
Créditos
Imagem principal: Murilo Alvesso / Divulgação